Duas respeitosas e saudosas lembranças: o folheto Amazonas Cultural, elaborado pela então Subsecretaria de Cultura do Estado, em 1992; no qual, o falecido padre Nonato Pinheiro, cultor de nosso idioma, escreveu curta página sobre nossa - igualmente saudosa - Cidade Sorriso.
Fragmento da capa do folheto, de 1992
(abaixo) título do trabalho do sacerdote
CIDADE-SORRISO - foi o título merecidamente alcançado pela Manaus de
minha saudosa infância e adolescência. Cidade de feições europeias, limpa,
arborizada, ruas e avenidas largas, praças ajardinadas, árvores que davam
sombra e fruto, amenizando a soalheira da estação calmosa, era um encanto vê-la
e senti-la em seu aspecto acolhedor e sorridente!
A capital amazonense foi uma das primeiras cidades brasileiras a
usufruir luz elétrica e tráfego de bondes, com serviços de companhias inglesas.
Seu porto flutuante, acompanhando o nível das águas do rio Negro, impunha-se como
um prodígio de engenharia, visitado por navios de pequeno calado e
transatlântico de alto porte, trazendo cornucópias do progresso e da civilização.
Companhias líricas da Europa vinham diretamente a Manaus,
desprezando o Rio de Janeiro e São Paulo, porque a CIDADE teatroSORRISO era o foco da
abundância, pelo apogeu da belle époque, mercê do galarim da exportação da
borracha.
Recamou-se a cidade de edifícios suntuosos, como o Teatro Amazonas,
o Palácio da Justiça e a Alfândega. Monumentos imponentes se ergueram, como o
da Praça de São Sebastião. Pontes transpunham os igarapés, notabilizando-se a
chamada Terceira Ponte, de majestosa estrutura metálica. Os subúrbios de Manaus
eram sobremaneira aprazíveis por seus arvoredos, canteiros, igarapés e riachos:
Cachoeirinha, Vila Municipal, Chapada, Flores, São Raimundo, Educandos, Mindu e
Tarumã, com sua cascata escachoante.
Afonso Pena, visitando a cidade, exclamou: "Manaus é uma
revelação da República!" Washington Luís ficou encantado quando conheceu
Manaus em 1926.
Transatlântico no roadway de Manaus, cercado por barcos regionais, como em reverência (Gunter Engel, foto) |
A natureza circundante era um apelo turístico, com o encanto da
paisagem, a amenidade dos igarapés e dos igapós, a pompa hierárquica da vitória-régia,
a alvura das garças, o carmim dos guarás e o gorjeio da passarada, um conjunto
ecológico de esplendor e beleza, que convidava a um epinício de vitória ao Criador!
Grandes vultos nacionais e estrangeiros aqui estiveram: sábios como
Agassiz, Bates e Humboldt; escritores notáveis, como Euclides da Cunha, Rangel,
Gonçalves Dias, Coelho Neto e Ferreira de Castro.
A Zona Franca, se foi veículo de progresso, produziu a
descaracterização da CIDADE-SORRISO, com seu crescimento desordenado e inestético.
Hoje Manaus é uma sombra do passado ou o túmulo de um esplendor extinto. Possam
estas letras operar a taumaturgia de uma ressurreição sentimental nos espíritos
dos que a viram e conheceram, garbosa e faceira, no feitiço e deslumbramento do
seu inefável SORRISO!...
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