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quarta-feira, janeiro 25, 2023

MANAUS: CIDADE SORRISO

Duas respeitosas e saudosas lembranças: o folheto Amazonas Cultural, elaborado pela então Subsecretaria de Cultura do Estado, em 1992; no qual, o falecido padre Nonato Pinheiro, cultor de nosso idioma, escreveu curta página sobre nossa - igualmente saudosa - Cidade Sorriso.

Fragmento da capa do folheto, de 1992
(abaixo) título do trabalho do sacerdote


CIDADE-SORRISO - foi o título merecidamente alcançado pela Manaus de minha saudosa infância e adolescência. Cidade de feições europeias, limpa, arborizada, ruas e avenidas largas, praças ajardinadas, árvores que davam sombra e fruto, amenizando a soalheira da estação calmosa, era um encanto vê-la e senti-la em seu aspecto acolhedor e sorridente!

A capital amazonense foi uma das primeiras cidades brasileiras a usufruir luz elétrica e tráfego de bondes, com serviços de companhias inglesas. Seu porto flutuante, acompanhando o nível das águas do rio Negro, impunha-se como um prodígio de engenharia, visitado por navios de pequeno calado e transatlântico de alto porte, trazendo cornucópias do progresso e da civilização.

Companhias líricas da Europa vinham diretamente a Manaus, desprezando o Rio de Janeiro e São Paulo, porque a CIDADE teatroSORRISO era o foco da abundância, pelo apogeu da belle époque, mercê do galarim da exportação da borracha.

Recamou-se a cidade de edifícios suntuosos, como o Teatro Amazonas, o Palácio da Justiça e a Alfândega. Monumentos imponentes se ergueram, como o da Praça de São Sebastião. Pontes transpunham os igarapés, notabilizando-se a chamada Terceira Ponte, de majestosa estrutura metálica. Os subúrbios de Manaus eram sobremaneira aprazíveis por seus arvoredos, canteiros, igarapés e riachos: Cachoeirinha, Vila Municipal, Chapada, Flores, São Raimundo, Educandos, Mindu e Tarumã, com sua cascata escachoante.

Afonso Pena, visitando a cidade, exclamou: "Manaus é uma revelação da República!" Washington Luís ficou encantado quando conheceu Manaus em 1926.

Transatlântico no roadway de Manaus, cercado por
barcos regionais, como em reverência (Gunter Engel, foto)

A natureza circundante era um apelo turístico, com o encanto da paisagem, a amenidade dos igarapés e dos igapós, a pompa hierárquica da vitória-régia, a alvura das garças, o carmim dos guarás e o gorjeio da passarada, um conjunto ecológico de esplendor e beleza, que convidava a um epinício de vitória ao Criador!

Grandes vultos nacionais e estrangeiros aqui estiveram: sábios como Agassiz, Bates e Humboldt; escritores notáveis, como Euclides da Cunha, Rangel, Gonçalves Dias, Coelho Neto e Ferreira de Castro.

A Zona Franca, se foi veículo de progresso, produziu a descaracterização da CIDADE-SORRISO, com seu crescimento desordenado e inestético. Hoje Manaus é uma sombra do passado ou o túmulo de um esplendor extinto. Possam estas letras operar a taumaturgia de uma ressurreição sentimental nos espíritos dos que a viram e conheceram, garbosa e faceira, no feitiço e deslumbramento do seu inefável SORRISO!...

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