CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

sábado, janeiro 21, 2023

JORNALISMO NO AMAZONAS

A postagem de hoje compartilha um artigo de Raul de Azevedo, que foi membro do PEN Clube do Brasil e da Academia Amazonense de Letras, e, na área profissional, dirigente dos Correios na região amazônica. Saquei de meu baú de recortes, que o saudoso Narciso Júlio Freire Lobo me repassou, ao tempo em que ele intentava comemorar o bicentenário do jornalismo no Brasil. Desconheço que forças impediram este projeto, no qual eu estava empenhado. Fica o registro.

O jornalismo de outrora no Amazonas

 


 

Não vou contar a história minuciosa do jornalismo amazonense. Longe de mim tal pretensão. Faltavam-me dados completos, tempo e vocação para essas adoráveis velharias. E depois não sou precisamente um arqueólogo... A ideia desta página simples veio de uma exposição que um dia visitei. O meu pranteado amigo coronel João Baptista de Faria e Souza, - um homem que teve a monomania de colecionar gazetas e revistas do Amazonas, do Brasil, que era de uma paciência evangélica, e que eu tive o prazer de ter ao meu lado nas redações do inesquecível "Diário de Notícias", do "Commercio do Amazonas", do "Rio Negro", de "O Globo", do "Amazonas", da "A Federação" - quis comemorar a data de 13 de maio de 1907, que relembrava o 99° aniversário da fundação do primeiro jornal brasileiro.

E assim fez uma exposição interessante de todos os jornais das terras dos Barés e dos Manaus. Quem, como eu, foi sempre, bem ou mal, um apaixonado da folha impressa, e já aos 18 anos dirigia e fazia a "Gazeta Postal", - o jornal menos postal que tem aparecido no mundo, e em cujas páginas brilhava o talento jaceirado de intelectuais do Pará, Ceará e Pernambuco, - havia de rever, como revi, cheio de um largo prazer e de uma intensa saudade, todas essas gazetas de outrora, principalmente onde há também muito de minha vida... A paixão do jornal! Ela é intensa e forte, como o vício do álcool, do jogo e do fumo.

Pessimistas acrescentariam, - e da mulher. A gente passando pela imprensa, nunca mais, - como o corvo de Edgar Poe - poderá esquecê-las. Fica-se jungido a ela. As vitórias, as polemicas e parece que as injustiças e as calúnias... nos prendem mais. E com que júbilo saboreamos um êxito, mesmo quando ele vem depois de lutas, injustiças e revezes! A minha primeira alegria na imprensa... A primeira e a maior. Recordo-me bem, como se fosse ontem. Eu estava nos meus dezoito anos - há quantos anos? - e até então apenas escrevera na minha pequena gazeta. Acariciava então nos meus sonhos de moço uma ideia para mim irrealizável... "A Província do Pará" era naquela época o empório intelectual do Norte.

O acesso às suas colunas era dificílimo e eu nem sonhara tal fantasia. Quase criança, conhecendo apenas de cumprimento de rua o senador Antonio Lemos, seu diretor, temível e exigente, nunca tivera tal veleidade. Mas, - todos sabem que a mocidade é petulante! - aproximava-se o aniversário da "Província do Pará" e, na véspera, com uma carta de duas linhas, enviava um artigo para esse ternamente moço e que nós chamávamos o "velho Lemos"...

E no dia seguinte, manhã ainda, estava desperto e ávido pela gazeta. Quando recebi o jornal, sôfrego, lancei a vista sobre a folha. Era um número lindo, bem-feito, elegante. E lá estava, abrindo a primeira coluna da segunda página, o meu ensaio sobre os Goncourt, - modesta colaboração intelectual naquelas páginas de intelectuais. (segue)


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