A postagem de hoje compartilha um artigo de Raul de Azevedo, que foi membro do PEN Clube do Brasil e da Academia Amazonense de Letras, e, na área profissional, dirigente dos Correios na região amazônica. Saquei de meu baú de recortes, que o saudoso Narciso Júlio Freire Lobo me repassou, ao tempo em que ele intentava comemorar o bicentenário do jornalismo no Brasil. Desconheço que forças impediram este projeto, no qual eu estava empenhado. Fica o registro.
O
jornalismo de outrora no Amazonas
Não
vou contar a história minuciosa do jornalismo amazonense. Longe de mim tal
pretensão. Faltavam-me dados completos, tempo e vocação para essas adoráveis
velharias. E depois não sou precisamente um arqueólogo... A ideia desta página
simples veio de uma exposição que um dia visitei. O meu pranteado amigo coronel
João Baptista de Faria e Souza, - um homem que teve a monomania de colecionar
gazetas e revistas do Amazonas, do Brasil, que era de uma paciência evangélica,
e que eu tive o prazer de ter ao meu lado nas redações do inesquecível
"Diário de Notícias", do "Commercio do Amazonas", do
"Rio Negro", de "O Globo", do "Amazonas", da
"A Federação" - quis comemorar a data de 13 de maio de 1907, que
relembrava o 99° aniversário da fundação do primeiro jornal brasileiro.
E
assim fez uma exposição interessante de todos os jornais das terras dos Barés e
dos Manaus. Quem, como eu, foi sempre, bem ou mal, um apaixonado da folha
impressa, e já aos 18 anos dirigia e fazia a "Gazeta Postal", - o
jornal menos postal que tem aparecido no mundo, e em cujas páginas brilhava o
talento jaceirado de intelectuais do Pará, Ceará e Pernambuco, - havia de
rever, como revi, cheio de um largo prazer e de uma intensa saudade, todas
essas gazetas de outrora, principalmente onde há também muito de minha vida...
A paixão do jornal! Ela é intensa e forte, como o vício do álcool, do jogo e do
fumo.
Pessimistas
acrescentariam, - e da mulher. A gente passando pela imprensa, nunca mais, -
como o corvo de Edgar Poe - poderá esquecê-las. Fica-se jungido a ela. As
vitórias, as polemicas e parece que as injustiças e as calúnias... nos prendem
mais. E com que júbilo saboreamos um êxito, mesmo quando ele vem depois de
lutas, injustiças e revezes! A minha primeira alegria na imprensa... A primeira
e a maior. Recordo-me bem, como se fosse ontem. Eu estava nos meus dezoito anos
- há quantos anos? - e até então apenas escrevera na minha pequena gazeta. Acariciava
então nos meus sonhos de moço uma ideia para mim irrealizável... "A
Província do Pará" era naquela época o empório intelectual do Norte.
O
acesso às suas colunas era dificílimo e eu nem sonhara tal fantasia. Quase
criança, conhecendo apenas de cumprimento de rua o senador Antonio Lemos, seu
diretor, temível e exigente, nunca tivera tal veleidade. Mas, - todos sabem que
a mocidade é petulante! - aproximava-se o aniversário da "Província do
Pará" e, na véspera, com uma carta de duas linhas, enviava um artigo para
esse ternamente moço e que nós chamávamos o "velho Lemos"...
E
no dia seguinte, manhã ainda, estava desperto e ávido pela gazeta. Quando
recebi o jornal, sôfrego, lancei a vista sobre a folha. Era um número lindo, bem-feito,
elegante. E lá estava, abrindo a primeira coluna da segunda página, o meu
ensaio sobre os Goncourt, - modesta colaboração intelectual naquelas páginas de
intelectuais. (segue)
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