Nascido em Alagoinha (PB), em 1913, e falecido em Manaus (AM), em 2010, Waldemar Baptista de Salles chegou ao Amazonas muito moço, tendo realizado o curso primário no Colégio D. Bosco e o secundário no mesmo colégio e no Ginásio Amazonense Pedro II. Diplomado contador pela Escola de Comércio Sólon de Lucena; engenheiro-agrônomo pela Escola de Agronomia de Manaus; e bacharel pela Faculdade de Direito do Amazonas, onde foi professor assistente. Foi procurador e secretário estadual da Fazenda.
Eleito para a Academia Amazonense de
Letras, cadeira 40, foi empossado a 25 de julho de 1969 na presidência de
Djalma Batista, saudado por Mendonça de Souza.
Além de farta produção esparsa nos
jornais de Manaus, Salles publicou os seguintes títulos: Pétalas
Rubras, 1956; Aspectos Geográficos do Amazonas, 1966; Uma Voz
Dentro da Noite, 1975; Geografia Econômica do Amazonas, 1971; O
Amazonas: o meio físico e suas riquezas naturais, 1967; Nosso Tempo,
1980.
De sua produção em jornais, compartilhei esta
postagem sobre o lendário avião Catalina, publicada em A Crítica (24
julho 1984), sinalizando “a despedida dessa aeronave da região amazônica”.
Fragmento do referido jornal |
A região amazônica é imensa. Conhecê-la e
conquistá-la tem sido um trabalho duro, cansativo, pleno de heroísmo e
dedicação. Nesse desbravamento, já se referia o engenheiro Leopoldino Cardoso
Amorim Filho em relatório publicado em Manaus – 8 de novembro de 1972, tratando
de pioneirismo e desenvolvimento. Ele nos afirmava: "2 – a aviação
continua com sua característica de pioneirismo e aqui também representada pela
Força Aérea, pelos táxis-aéreos, pelas empresas de transporte regular, por
aviões particulares e helicópteros: profissionais, homens idealistas, outros
imbuídos do espírito de aventura, todos unidos como nos velhos tempos,
executando as tarefas que lhes são atribuídas através do transporte
aéreo".
Atualmente esta cidade de Manaus, encravada na selva
imensa, é servida por aviões Bandeirantes; a jato, de diversas companhias, sem
contarmos as pequenas aeronaves, que fazem as linhas para o interior do Estado,
cruzando municípios distantes, pousando às vezes em campos inadequados, onde a
experiência do comandante é fator importantíssimo no cumprimento de suas
atividades e missões. Porém, há muitos anos, entre os diversos tipos de aviões,
que integravam as várias companhias, existiam os chamados
"Catalinas", usados pela extinta Panair do Brasil S/A, e pela FAB,
aparelhos esses que levantavam voos e pousavam no aeroporto da Ponta Pelada.
Eram aviões anfíbios, porque pousavam em terra e em
águas tranquilas e prestaram, na região amazônica, grandes e inestimáveis
serviços. Viajar de navio, lancha e motores pelos inúmeros rios da área
continua sendo uma tarefa demorada e exaustiva. E, anteriormente, para abreviar
as distâncias e atender compromissos inadiáveis, fossem eles de interesse
público ou particular, os “Catalinas” resolviam a situação.
Antigamente para se ir de Manaus ao Sul do país, de
avião, antes do jato, era muito demorado e cansativo. Os aviões quadrimotores
rumavam de Manaus com escalas em Santarém, Belém e, no pinga-pinga danado, pelo
litoral. Os passageiros entravam na aeronave às sete horas da manhã e chegavam
ao Rio de Janeiro à noite.
Quantas vezes, de férias na repartição, não fizemos
este trajeto. Era preciso paciência e tempo. Em Belém do Pará chegávamos na
hora do almoço. Desembarcava todo mundo e, depois de uma hora, reiniciávamos a
viagem de novo, no mesmo avião, para o Rio de Janeiro, onde, lá pelas oito ou
nove horas da noite, desembarcávamos no aeroporto Santos Dumont. Uma verdadeira
prova de resistência, paciência e coragem.
Mas, em nossa região, usados pela Força Aérea
Brasileira, na sua difícil e gloriosa missão de desvendar os recantos da pátria,
os aviões "Catalinas" desempenhavam papel importante, de reconhecida
utilidade. O povo, na sua ironia cabocla, os chamava de "pata choca",
pelo tamanho das asas e volume, bojudo, meio lento, comparado com os atuais
aviões a jato, que encurtam as distâncias.
Um saudoso Catalina em operação, em algum rio amazônico |
No regresso a mesma escala, de Parintins à Manaus,
passando por Maués, onde o desembarque era em canoas, lanchas e pequenas
embarcações, que ficavam rodando em torno do hidroavião. E, em dias da semana
passada, conforme já noticiaram a imprensa e a televisão, os “Catalinas” se
despediram da região amazônica, na qual serviram durante mais de quarenta anos,
cruzando fronteiras, firmando a nacionalidade, integrados na aviação civil e na
Força Aérea Brasileira, cruzando os céus do Brasil. Na realidade foram os
pioneiros e inestimáveis serviços prestaram a todos nós, que vivemos na terra
dos grandes rios, imensas paisagens, e enormes distâncias...
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