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sexta-feira, janeiro 06, 2023

CATALINAS: ADEUS

 Nascido em Alagoinha (PB), em 1913, e falecido em Manaus (AM), em 2010, Waldemar Baptista de Salles chegou ao Amazonas muito moço, tendo realizado o curso primário no Colégio D. Bosco e o secundário no mesmo colégio e no Ginásio Amazonense Pedro II. Diplomado contador pela Escola de Comércio Sólon de Lucena; engenheiro-agrônomo pela Escola de Agronomia de Manaus; e bacharel pela Faculdade de Direito do Amazonas, onde foi professor assistente. Foi procurador e secretário estadual da Fazenda.

Eleito para a Academia Amazonense de Letras, cadeira 40, foi empossado a 25 de julho de 1969 na presidência de Djalma Batista, saudado por Mendonça de Souza.

Além de farta produção esparsa nos jornais de Manaus, Salles publicou os seguintes títulos:  Pétalas Rubras, 1956; Aspectos Geográficos do Amazonas, 1966; Uma Voz Dentro da Noite, 1975; Geografia Econômica do Amazonas, 1971; O Amazonas: o meio físico e suas riquezas naturais, 1967; Nosso Tempo, 1980.

De sua produção em jornais, compartilhei esta postagem sobre o lendário avião Catalina, publicada em A Crítica (24 julho 1984), sinalizando “a despedida dessa aeronave da região amazônica”.
 

Fragmento do referido jornal


A região amazônica é imensa. Conhecê-la e conquistá-la tem sido um trabalho duro, cansativo, pleno de heroísmo e dedicação. Nesse desbravamento, já se referia o engenheiro Leopoldino Cardoso Amorim Filho em relatório publicado em Manaus – 8 de novembro de 1972, tratando de pioneirismo e desenvolvimento. Ele nos afirmava: "2 – a aviação continua com sua característica de pioneirismo e aqui também representada pela Força Aérea, pelos táxis-aéreos, pelas empresas de transporte regular, por aviões particulares e helicópteros: profissionais, homens idealistas, outros imbuídos do espírito de aventura, todos unidos como nos velhos tempos, executando as tarefas que lhes são atribuídas através do transporte aéreo".

Atualmente esta cidade de Manaus, encravada na selva imensa, é servida por aviões Bandeirantes; a jato, de diversas companhias, sem contarmos as pequenas aeronaves, que fazem as linhas para o interior do Estado, cruzando municípios distantes, pousando às vezes em campos inadequados, onde a experiência do comandante é fator importantíssimo no cumprimento de suas atividades e missões. Porém, há muitos anos, entre os diversos tipos de aviões, que integravam as várias companhias, existiam os chamados "Catalinas", usados pela extinta Panair do Brasil S/A, e pela FAB, aparelhos esses que levantavam voos e pousavam no aeroporto da Ponta Pelada.

Eram aviões anfíbios, porque pousavam em terra e em águas tranquilas e prestaram, na região amazônica, grandes e inestimáveis serviços. Viajar de navio, lancha e motores pelos inúmeros rios da área continua sendo uma tarefa demorada e exaustiva. E, anteriormente, para abreviar as distâncias e atender compromissos inadiáveis, fossem eles de interesse público ou particular, os “Catalinas” resolviam a situação.

Antigamente para se ir de Manaus ao Sul do país, de avião, antes do jato, era muito demorado e cansativo. Os aviões quadrimotores rumavam de Manaus com escalas em Santarém, Belém e, no pinga-pinga danado, pelo litoral. Os passageiros entravam na aeronave às sete horas da manhã e chegavam ao Rio de Janeiro à noite.

Quantas vezes, de férias na repartição, não fizemos este trajeto. Era preciso paciência e tempo. Em Belém do Pará chegávamos na hora do almoço. Desembarcava todo mundo e, depois de uma hora, reiniciávamos a viagem de novo, no mesmo avião, para o Rio de Janeiro, onde, lá pelas oito ou nove horas da noite, desembarcávamos no aeroporto Santos Dumont. Uma verdadeira prova de resistência, paciência e coragem.

Mas, em nossa região, usados pela Força Aérea Brasileira, na sua difícil e gloriosa missão de desvendar os recantos da pátria, os aviões "Catalinas" desempenhavam papel importante, de reconhecida utilidade. O povo, na sua ironia cabocla, os chamava de "pata choca", pelo tamanho das asas e volume, bojudo, meio lento, comparado com os atuais aviões a jato, que encurtam as distâncias.

Um saudoso Catalina em operação, em algum rio amazônico

No regresso a mesma escala, de Parintins à Manaus, passando por Maués, onde o desembarque era em canoas, lanchas e pequenas embarcações, que ficavam rodando em torno do hidroavião. E, em dias da semana passada, conforme já noticiaram a imprensa e a televisão, os “Catalinas” se despediram da região amazônica, na qual serviram durante mais de quarenta anos, cruzando fronteiras, firmando a nacionalidade, integrados na aviação civil e na Força Aérea Brasileira, cruzando os céus do Brasil. Na realidade foram os pioneiros e inestimáveis serviços prestaram a todos nós, que vivemos na terra dos grandes rios, imensas paisagens, e enormes distâncias...

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