1º novembro - Dia de Todos os Santos |
Lembro bem desta data quando de meu tempo de seminarista: Dia de Todos os Santos. A igreja católica lembrava os
vivos, para, no dia seguinte, cultuar os mortos. Hoje os "santos" perderam a
hegemonia, aparecem apenas nas charges de tantos seguidores de app virtuais.
Dito isso, vou repetir um
trecho da coluna do saudoso Belmiro Vianez, veiculada em A Crítica (15
fevereiro 1976).
Belmiro, como era mais conhecido, era português e proprietário
de lojas de confecção. Participava ativamente da imprensa escrita e do rádio,
como comentarista esportivo. Permaneceu na nossa lembrança até que sua última Belmiro’s fechou as portas.
CHORANDO
OS NOSSOS MORTOS
Os tempos imemoriais bailam
tristezas nas telas da minha saudade, reavivando contornos inesquecíveis
gravados indelevelmente para sempre, por entre vivas aquarelas.
Os cinemas, os bares, as
ruas de pedra, as silhuetas dos sobrados coloniais, a cidade-criança, o bonde
da "Saudade" pejado de ilusões, o meu amado Olímpico assanhando
rivalidades, a Kamelia, o Kandu, o
Juca, os confetes, as serpentinas, o Rio
Negro de faixa preta no peito, na postura do presidente Aristófano.
O desfile monumental da
arte de Branco e Silva deslizando alegorias na cintilação de todos os
carnavais. Tudo lindo, tudo belo, tudo arte, tudo formando caleidoscópios de
sonho, no sonho da minha saudade.
O Cinema Avenida, às
sextas-feiras, odorizando colos e corpos na sua Sessão das Moças. E tu, velho estandarte de uma época que te
inscreveu como um dos símbolos da minha cidade! Tu, meu querido Aurélio
Antunes, biologicamente passando, espiritualmente fixado no milagre da eterna
juventude que tu exibias sem rugas, duas maçãs ao rosto, vendo passar a vida na
filosofia de um monge. Tu e tua Yayá, por tantos anos a fio, tecendo fios
d'oiro no filão das nossas vidas.
Morreu Aurélio Antunes,
ali na [rua] Henrique Martins! — Por incrível que pareça, a terrível noticia,
foi-me transmitida do Rio para Manaus, por um comum amigo nosso, o Calderaro,
que tu viste como a nós nos assististes nos filmes de Mickey Rooney, transando
com a Shirley Temple.
E eu aqui, a seis jardas
da tua urna, soterrado na materialização desta cidade, já agora despojada de tudo,
sem saber da tua partida. Incrível, mas pura verdade. Morreu Aurélio Antunes,
como antes já havia morrido o nosso Cinema Avenida.
E nem um registro. E nem
uma lágrima vertida por uma comunidade que ingratamente te esqueceu. A ti, que
foste página esmaltada da sua história que é a estória de toda a gente que aqui
nasceu, e que aqui viveu durante três partes de um século.
Li no Bazar do Limongi. E só. Mas aqui tens, meu velho e saudoso Aurélio
Antunes, a fragrância da nossa ternura exalada pelo perfume das rosas e das musas
do nosso respeito e da nossa saudade...
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