CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

quarta-feira, novembro 01, 2017

DIA DE TODOS OS SANTOS

1º novembro - Dia de Todos os Santos
Lembro bem desta data quando de meu tempo de seminarista: Dia de Todos os Santos. A igreja católica lembrava os vivos, para, no dia seguinte, cultuar os mortos. Hoje os "santos" perderam a hegemonia, aparecem apenas nas charges de tantos seguidores de app virtuais.

Dito isso, vou repetir um trecho da coluna do saudoso Belmiro Vianez, veiculada em A Crítica (15 fevereiro 1976). 

Belmiro, como era mais conhecido, era português e proprietário de lojas de confecção. Participava ativamente da imprensa escrita e do rádio, como comentarista esportivo. Permaneceu na nossa lembrança até que sua última Belmiro’s fechou as portas.

CHORANDO OS NOSSOS MORTOS

Os tempos imemoriais bailam tristezas nas telas da minha saudade, reavivando contornos inesquecíveis gravados indelevelmente para sempre, por entre vivas aquarelas.

Os cinemas, os bares, as ruas de pedra, as silhuetas dos sobrados coloniais, a cidade-criança, o bonde da "Saudade" pejado de ilusões, o meu amado Olímpico assanhando rivalidades, a Kamelia, o Kandu, o Juca, os confetes, as serpentinas, o Rio Negro de faixa preta no peito, na postura do presidente Aristófano.

O desfile monumental da arte de Branco e Silva deslizando alegorias na cintilação de todos os carnavais. Tudo lindo, tudo belo, tudo arte, tudo formando caleidoscópios de sonho, no sonho da minha saudade.

O Cinema Avenida, às sextas-feiras, odorizando colos e corpos na sua Sessão das Moças. E tu, velho estandarte de uma época que te inscreveu como um dos símbolos da minha cidade! Tu, meu querido Aurélio Antunes, biologicamente passando, espiritualmente fixado no milagre da eterna juventude que tu exibias sem rugas, duas maçãs ao rosto, vendo passar a vida na filosofia de um monge. Tu e tua Yayá, por tantos anos a fio, tecendo fios d'oiro no filão das nossas vidas.

Morreu Aurélio Antunes, ali na [rua] Henrique Martins! — Por incrível que pareça, a terrível noticia, foi-me transmitida do Rio para Manaus, por um comum amigo nosso, o Calderaro, que tu viste como a nós nos assististes nos filmes de Mickey Rooney, transando com a Shirley Temple.

E eu aqui, a seis jardas da tua urna, soterrado na materialização desta cidade, já agora despojada de tudo, sem saber da tua partida. Incrível, mas pura verdade. Morreu Aurélio Antunes, como antes já havia morrido o nosso Cinema Avenida.

E nem um registro. E nem uma lágrima vertida por uma comunidade que ingratamente te esqueceu. A ti, que foste página esmaltada da sua história que é a estória de toda a gente que aqui nasceu, e que aqui viveu durante três partes de um século.


Li no Bazar do Limongi. E só. Mas aqui tens, meu velho e saudoso Aurélio Antunes, a fragrância da nossa ternura exalada pelo perfume das rosas e das musas do nosso respeito e da nossa saudade... 

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