Castelinho, logomarca do bairro |
É sabido que a administração destes governantes começava a revitalizar o Estado, em especial a Capital. Por isso, entendo que o artigo jornalístico traz muito pouco a acrescentar à vida da primitiva Vila Municipal.
EM DIA da semana passada a
reportagem da A Crítica fez uma
visita ao bairro de Adrianópolis, com o objetivo de auscultar as necessidades de
seus moradores, que hoje somam milhares, pertencentes às mais diferentes classes
sociais. Para começo de conversa devemos dizer de nossa luta e a extrema paciência
que tivemos de pôr em uso, a fim de que tomássemos
um coletivo que nos transportasse àquele futuroso e hoje desenvolvido bairro. Bairro
que tem o nome de um cidadão
dos mais dignos de nossa terra, esse que se chamou Adriano Jorge, médico
ilustre e tradicional, jamais esquecido pelos manauenses que amam sua terra. No
“Tabuleiro da Baiana”, tivemos que esperar uma eternidade pela chegada do único
ônibus que, pela manhã, fazia aquela linha e pessoas que ali estavam com o
mesmo objetivo, começaram a dar-nos os primeiros informes que necessitávamos
para esta pequena reportagem.
UM
INFERNO QUE PODERIA SER UM PARAÍSO
Depois de quase uma hora
do espera, enfim veio chegando o velho carro de transporte coletivo com a placa
“Adrianópolis”. A custo de muito esforço e algumas pisadelas e empurrões (pois
pessoas mal-educadas e nervosas há em toda parte, muito especialmente nos
pontos de espera de ônibus) conseguimos — o repórter de A Crítica, e nossos amigos ocasionais — tomar assento no velho ônibus,
o qual saiu, resfolegando, pela avenida 7, rumo àquele distante bairro. O carro,
não é necessário dizer, ia completamente lotado. Gente de todas as cores, de
todos os tamanhos, com os mais diversos pensamentos, mas todos com uma só vontade
na mente — chegar logo ao ponto do seu destino. Esse também era o pensamento do
nosso repórter, pois o tempo urgia para outros trabalhos na redação.
Fomos, então, mesmo
durante a viagem, tomando conhecimento das necessidades urgentes de
Adrianópolis. Dentre elas, pudemos verificar que as mais prementes são,
exatamente, o transporte e... a buraqueira existente nas suas ruas e praças,
conforme mais tarde iriamos verificar. “Adrianópolis, meu caro repórter, dizia-nos
um morador que conosco viajava, é um bairro que podia ser um céu, pois
considero-o um dos mais bem localizados e, portanto, o bairro de maior futuro
de nossa terra”. Infelizmente tal não acontece, e isso por diversos motivos:
não temos um mercado, uma farmácia, a água é pouca e então quando se fala em
transportes a coisa é de estarrecer e da gente ficar mudo e vermelho de raiva.
Isso significa que, em vez de morar no céu, moramos no inferno.
RUAS
BONITAS, COM RESIDÊNCIAS SUNTUOSAS
Verificamos que as queixas
dos nossos amigos eram mais que verdadeiras, tinham sua perfeita razão de ser.
Vimos isso logo que ali chegámos. Adrianópolis é, de fato, um bairro que faz
honra à memória do Dr. Adriano Jorge. Casas residenciais luxuosas e
ultramodernas, destacando- se as que ali mandaram construir o capitalista João
Braga, Drs. Heraldo Corrêa, Waldir Vieiralves, João de Paula Gonçalves etc.,
além de ostentar belíssimos prédios de colégios famosos como o Instituto
Montessoriano Álvaro Maia, o colégio dos padres capuchinhos de Milão, e o novíssimo
Colégio Ida Nelson, dos missionários protestantes — Adrianópolis, em seu
conjunto, apresenta um aspecto, realmente, que faz inveja ao próprio centro.
O traçado das ruas é bem
feito, denotando o bom gosto de quem o fez, devendo ser ressaltada, neste
particular, a obra de Deodoro Freire, um dos pioneiros adrianopolinos.
Observa-se contudo, que o desleixo dos poderes competentes é a única nota
destoante.
Esses poderes competentes
são, evidentemente, a Prefeitura, a Inspetoria do Tráfego e talvez Departamento
de Estrada de Rodagens, pois tudo ali é buraco, é capim solto e grande pelo
meio das ruas e praças; é lama e, acima de tudo isso, o mais absoluto desprezo
pelos interesses das classes menos favorecidas, no que toca nó problema do
transporte. (...)
OS
POBRES VÊM À CIDADE A PÉ
Uma grande parte dos moradores
de Adrianópolis, a gente pobre, operários, comerciários etc., ás vezes que são
obrigados a descer para a cidade andando nos seus próprios calcanhares.
A viagem é longa, como todos
sabem, mas essas pessoas são obrigadas a assim procederem porque os ônibus que
fazem aquela linha primam pela ausência nas horas mais necessárias ao trabalho
da daquela gente, que são as horas da manhã, cedinho, e ao cair da tarde (ou da
noite), quando todos regressam aos seus lares, após um dia de canseiras na luta
pelo pão de cada dia. Um autêntico martírio, senhores que comandam a vida da
nossa cidade, senhor Prefeito, Sr. Inspetor do Tráfego, Sr. Governador.
Por que não se toma uma
providência em benefício daquela boa gente de Adrianópolis? Por que? Será que
só tencionam fazer tal coisa quando se aproximarem as eleições? O povo de lá é
que se pergunta isso, pois o povo, devemos dizer, está escabriado, não acredita
em mais nada, tais e tantas foram as promessas que ouviu dos atuais detentores
do poder — tudo meras palavras que o vento levou, e nada feito até hoje, as
coisas piorando sempre, na falta de transporte, na limpeza, na ausência de um
mercado, de uma farmácia o outras coisas essenciais a uma coletividade que se
preza.
________
Aí fica, portanto, o apelo
que fazemos em nome dos moradores do bairro de Adrianópolis, esse futuroso e
encantador (???) recanto de nossa cidade, preferido pelos homens abastados para
construírem suas moradias suntuosas — mas que muitas vezes também os desanimam
porque a lama, o mato e os buracos os impedem de ali chegar, dirigindo seus
carros de transporte pessoal.
Quanto aos transportes
coletivos, a miséria é aquilo que contamos: um único ônibus, velho e
pachorrento, para uma população inteira; sendo que este mesmo “um” ameaça para,
tal o estado das ruas e praças que têm de atravessar, quebrando-lhe as molas,
furando-lhe os pneus.
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