Recorte de O Jornal, 20 agosto 1961 |
SONETO
(Aos
afagos que me faz, a recordação de um amor impossível)
José
Maria Seixas
Como um pássaro abatido
Sem destino e sem calor
Vivo
amparado, ferido
Nas
asas da minha dor.
Porém
em sonhos, um dia
Veio alguém com terna paixão
Tirar
o sofrer que eu sentia,
Afagar
meu coração.
Mas,
ao alvorecer, o que via:
A vida triste e sem cor...
E
agora em melancolia
Nas
asas da minha dor
Mais que antes, hoje em dia
Sofro
as penas do meu amor.
A
PROSTITUTA
Aldévio Praia
A casa de meus pais est’va abandonada.
A morte, nela, implantara seus horrores.
... Saí. Noites sem fim adormeci na estrada
A padecer (sim) as mais profundas dores.
Um dia, res’lvendo seguir por outra estrada,
Vi cair, sobre meus seios, um buque de flores.
Então, minha vida de fome povoada
Transformou-se: taças, música, amores...
Ébria caí. Sonhei. Vi um corpo ensanguentado.Clamei aos céus. Dois braços pra mim se abriram
E uma voz: “Fiz-te, sou a natureza astuta”.
E depois de urna horrenda gargalhada:
"Eu, a sociedade, — as fl'res que te cairam".
Acordei. Fugi. Mas já eu era Prostituta.
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