Este post me fez relembrar
um fato escabroso. Dele participei indiretamente, assegurando que os dois
principais personagens estão vivos, já ingressados nos “oitentanos”: coronel EB
Mario Perelló Ossuosky e desembargador Paulo dos Anjos Feitosa.
Então major da PMAM, dirigia
o CPC (Comando de Policiamento da Capital), quando este órgão enfrentou forte onda
de assaltos e outros crimes conexos, atribuídos a uma quadrilha alcunhada de “mulatos”.
Para combater a delinquência,
a PMAM, sob o comando do coronel EB Mario Ossuosky (1975-80), estabeleceu
diversos procedimentos. Um deles constituía em vistoriar todos os veículos
suspeitos.
Certa noite, uma patrulha
abordou o desembargador Paulo Feitosa que, devido sua cor amorenada, foi considerado
suspeito. Um soldado, entretanto, não atendeu a explicação do magistrado,
apesar deste ter se identificado.
O desdobramento do
incidente ocupou os deputados estaduais; e a manifestação segue abaixo,
conforme publicado no extinto periódico A
Notícia (22 outubro 1975).
COMANDANTE DA PM QUER FECHAR O
TRIBUNAL
E ENTREGAR AS CHAVES AO CMA
A revelação “estourou” em plenário
através do presidente da Casa, deputado José Dutra: um soldado da PM ofendeu e
humilhou o desembargador Paulo Feitosa, no trânsito. O presidente do Tribunal,
desembargador Luiz Cabral, foi ao comandante da Polícia Militar, coronel Mario
Ossuosky, e ouviu dele esta declaração: “O soldado tem razão. Vou fechar o
Tribunal de Justiça e entregar as chaves ao Comando Militar da Amazônia”.
Soldado da PMAM molesta e desrespeita desembargador
O fato foi denunciado na
Assembleia pelo deputado Farias de Carvalho, e todo o Poder manifestou-se solidário
ao membro do Tribunal de Justiça, molestado grosseiramente por um soldado da PM,
num flagrante abuso de autoridade. Segundo o parlamentar
emedebista, o desembargador Paulo dos Anjos Feitosa passeava em seu carro,
acompanhado de sua família. Um soldado da Polícia Militar o abordara, exigindo
os documentos do veículo. O magistrado atendeu ao pedido, entregando-lhe a
documentação para, em seguida, identificar-se.
A petulância do policial
foi mais além ao exigir que o desembargador saltasse do carro para a abrir o
capô, a fim de que o militar realizasse uma investigação. Como membro do
Tribunal de Justiça, o desembargador deveria ser respeitado como autoridade. O
policial, porém, não quis saber com quem estava falando; a determinação era o
magistrado sair do carro.
“Não seria num desembargador que o soldado
fosse encontrar o marginal que estava procurando” – afirmou o deputado Farias
de Carvalho, protestando contra o comportamento do comandante da Polícia
Militar, que, ao receber os protestos do Presidente do Tribunal de Justiça,
desembargador Luiz Cabral, disse que o seu soldado estava acobertado de razões.
Desembargadores Luiz Cabral (acima) e Paulo Feitosa |
Dizendo não estar dando
qualquer demonstração de machismo, Farias de Carvalho salientou que, se um fato
daquele lhe acontecesse, só duas coisas poderiam acontecer: ou o soldado o respeitava
como deputado, ou no dia seguinte a Assembleia abriria suas portas para velar o
seu cadáver. (...)
Enquanto isso, o presidente
do Tribunal de Justiça, em expediente dirigido ao governador Henoch Reis, fez
ver que nenhum desembargador ou juiz daquela Corte abrirá o capô de seus carros
para investigações, depois de se identificarem.
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