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domingo, setembro 22, 2024

POESIA PARA O DOMINGO

 A poesia para este domingo pertence ao mestre desta arte Farias de Carvalho (1930-1997), que foi publicada pelo Jornal do Commercio, na edição de 19 de outubro de 1969.

 

Jornal do Commercio, 19 out. 1969

DIDÁTICA INÚTIL

 

Farias de CARVALHO

Para André Araújo, irmão

 

Eis-me aqui.

Aqui. Sobre esta gávea de assombros,

carcomido de vento e de silêncio,

tão duramente cego ainda,

como no instante estúpido do espasmo

que me trouxe a este mar do não-saber.

Meteoro ignoto,

cumpro-me em rotas claras de estilhaços

nesse buscar-se atônito e remoto,

onde a trilha das traças nas estantes

mais escurece o abismo dos instantes

distantes, do saber; mergulho inútil,

esse naufrágio em lagos bolorentos

rebuscando o esqueleto das palavras

nos seus sarcófagos frios e poeirentos.

 

Do que serve a mecânica dos astros

esculpida nos riscos e equações

desses mapas de humana geometria

se sobre o pântano, a corola fria

do lotus guarda mais sabedoria

do que todos os ciosos pergaminhos

que se hoje são, é porque ontem foram

sombra e ninho à margem dos caminhos?

 

OH! Os relâmpagos do caos, por essas messes

que não sabemos, mas, em nós,

enfuna as bujarronas do viajar

por esses mares todos feitos de ar!

 

HO! Os relâmpagos do caos, por essas messes

onde a inútil colheita apodrece

nos desastres da busca, palimpsestos

acolhendo em seu ventre, como cestos,

essa poeira vã dos cérebros aflitos  

que as lunetas gastaram, pobres gritos

afogados nas noites desse lodo

onde ainda orquestramos nosso engodo.

 

 

O melhor é gozar entre os crepúsculos

o incêndio do festim, e nesse ir

de desastre em desastre, plantar musgo sobre  

                        o muro da pálpebra, e dormir. 

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