Houve um tempo – somente os idosos se lembram - em que os jornais publicavam com assiduidade poemas de indistintos autores. Em datas comemorativas, a produção aumentava. Até os domingos serviam para uma coluna mais apurada, como a que compartilho de O Jornal, edição de 29 de janeiro de 1956.
SERENATA
A avenida, silente, iluminada,
Está deserta. E um
trovador, apenas,
Evocando a evidência de
Mecenas.
Modula estrofes de amor à
sua amada.
Ela que em níveo leito
está deitada,
Lembrando Aspásia na
formosa Atenas,
Aromas trescalando de
açucenas.
Tremente, abre a janela,
apaixonada
E na amplidão da noite
tão imensa,
A lua branca lá no céu
fulgura,
Qual se fora de luz
hóstia suspensa.
O trovador, de crença a
alma constela,
Que do seu peito, em
mística figura,
Nasce a canção de amor mais
pura e bela.
A PA R T ID A
Parti, chorando, em
busca de outro norte,
Naquela tarde clara de
setembro...
E agitado fiquei, membro
por membro,
Quando um triste anexim
pintou-me a sorte.
Passou-se o tempo. E
hoje, inda me lembro
— Esquecer quem há-de a
emoção mais forte? --
Da formosa Raquel -- seu
belo porte —
Imagem viva que jamais deslembro.
Raquel, quando eu parti,
chorara tanto
Que eu vi nos olhos seus
de uma fonte amara
Cair torrentes de um
dorido pranto.
Longa tristeza. Tão
cruel martírio!
O anexim cumpriu-se. E
com a dor ficara
Roxa saudade, como um roxo
lírio.
O
Jornal,
29
de janeiro de 1956
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