CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

domingo, setembro 15, 2024

POESIA PARA O DOMINGO

 Houve um tempo – somente os idosos se lembram - em que os jornais publicavam com assiduidade poemas de indistintos autores. Em datas comemorativas, a produção aumentava. Até os domingos serviam para uma coluna mais apurada, como a que compartilho de O Jornal, edição de 29 de janeiro de 1956.

 

Recorte do referido periódico

 

SERENATA

 

A avenida, silente, iluminada,

Está deserta. E um trovador, apenas,

Evocando a evidência de Mecenas.

Modula estrofes de amor à sua amada.

 

Ela que em níveo leito está deitada,

Lembrando Aspásia na formosa Atenas,

Aromas trescalando de açucenas.

Tremente, abre a janela, apaixonada

 

E na amplidão da noite tão imensa,

A lua branca lá no céu fulgura,

Qual se fora de luz hóstia suspensa.

 

O trovador, de crença a alma constela,

Que do seu peito, em mística figura,

Nasce a canção de amor mais pura e bela.

 

 

A  PA R T ID A

 

Parti, chorando, em busca de outro norte,

Naquela tarde clara de setembro...

E agitado fiquei, membro por membro,

Quando um triste anexim pintou-me a sorte.

 

Passou-se o tempo. E hoje, inda me lembro

— Esquecer quem há-de a emoção mais forte? --

Da formosa Raquel -- seu belo porte —

Imagem viva que jamais deslembro.

 

Raquel, quando eu parti, chorara tanto

Que eu vi nos olhos seus de uma fonte amara

Cair torrentes de um dorido pranto.

 

Longa tristeza. Tão cruel martírio!

O anexim cumpriu-se. E com a dor ficara

Roxa saudade, como um roxo lírio.

 

O Jornal,

29 de janeiro de 1956  

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