O GRÊMIO, periódico lançado pelos alunos do Grêmio
Estudantal (sic) Humberto de Campos, apesar de inexistir o registro do
colégio, acredito se tratar de iniciativa de alunos do Ginásio Amazonense Pedro
II. A 2ª edição do primeiro ano, circulada em julho de 1936,
trouxe na primeira página uma contribuição de Ramayana de Chevalier, aqui
postada. Convém esclarecer que Chevalier havia retornado de Salvador (BA) diplomado
em medicina, sendo então empregado na Polícia Militar estadual, em
reorganização.
Recorte da primeira página, com os Bilhetes... de Ramayana
BILHETES DO AMAZONAS
RAMAYANA DE CHEVALIER
Não é nenhuma novidade dizer que o termômetro público, protegido à sombra de um “fícus” da Avenida Eduardo Ribeiro está marcando 38° à sombra. Nem que os paralelepípedos da praça mais livre da cidade estão moles como geleias de goiaba. Brilha a cidade. Brilham reflexos fugaces no zimbório moscovita do Teatro Amazonas. Brilham sigmas no braço dos integralistas apressados. Tudo brilha. Polimento? Não. Calor e mormaço. O Carneiro de Mendonça que é metido a duro viraria coloide se viesse interventoriar estas bandas
* * *
É preciso que o Brasil saiba:
o Amazonas repele qualquer proposta de intromissão nos seus negócios internos.
Sendo o filho esquecido, o gato borralheiro da Federação, ele não quer nada
além de justiça, o que já é nada além de 4$400. Os japoneses querem plantar batatas
no Amazonas. A patriotada de meia dúzia de garotos simpáticos exige o
fechamento do portão aos anõezinhos de olhos oblíquos. Veem perigos amarelos na
selva verde. Nem sequer reparam no patriotismo da combinação: os amarelos no verde
criariam uma bandeira nacional antropobotânica (sic). Bonito! Em S.
Paulo ninguém gritou que sobravam nipões. Aqui...
Quem foi que disse que
existe Amazonas no mapa político do Brasil a não ser em vésperas de eleições e
nos discursos do Senador Cunha Mello?
* * *
Isto aqui vivia ao Deus
dará. Não se pagava a ninguém; não se aumentava a receita; não se contemplava o
funcionalismo; dinheiro não chegava para a gasolina do Palácio; economia era mistério
mais palpável que a Iara. Veio um homem chamado Álvaro Maia. Trouxe um amigo dentro
do coração: a honestidade. E um outro no coração dos amigos: a tolerância magnânima
e feliz. O Amazonas, hoje, está equilibrado como um convalescente de pneumonia.
Fraco, mas em pé. Magro, mas com esperanças de gordura. Trêmulo, mas sentindo o
tato das coisas. Todo o mundo recebe. Há dinheiro para socorrer os rombos menores.
Álvaro Maia é o nome que
desfia dos lábios do caboclo doente de Tabatinga ou da boca, queimada de sol
dos vaqueiros do Rio Branco. Álvaro Maia é o começo das orações matinais dos plantadores
de seringueiras do Purus ou dos pescadores de tartarugas do Badajós. De um
extremo ao outro da Planície, dentro das lindes do Amazonas, o centauro moreno
de Parintins ou o caucheiro heroico do Mamoré, qualquer cidadão perdido na
vastidão da Terra Inacabada, procura escrever, com os dedos grossos, a mão inábil,
braço trôpego, um nome que equivale por uma bandeira, uma bandeira humana de
civismo e dedicação: Álvaro Maia.
Hoje o Amazonas é um bloco
de brasileiros indomáveis e fortes em torno de um homem que representa a
bravura da Raça na serenidade do espírito: Álvaro Maia. Um dia, o nome desse moço
poeta, não estará somente no pórtico de mensagens à Assembleia estadual, mas
incendiará, em silêncio, o coração dessas gerações que amadurecem como frutos
benditos. E, nesse dia, o Amazonas vingar-se-á do desprezo de todos: salvará o
Brasil.
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