Sede do silogeu amazonense |
VIDA E EXPRESSÃO CULTURAL DA
ACADEMIA AMAZONENSE DE LETRAS
1 — Ligeiro
retrospecto acerca dos quarenta e dois anos de atividades do SILOGEU AMAZONENSE;
2 — Os primórdios da instituição; 3 — Missão cultural da Academia; 4 — Os
maiores expoentes do passado
A próxima solenidade de
posse do novo acadêmico Dr. Ramayana de Chevalier, que irá ocupar no Silogeu a Cadeira
nº 2, cujo patrono é Euclides da Cunha, sugeriu-nos uma reportagem sobre a
fundação e vida cultural da Academia Amazonense de Letras, a mais alta
expressão da intelectualidade do Amazonas. Essa instituição de letras e cultura
foi fundada no dia 1º de janeiro de 1918, numa casa da rua Monsenhor Coutinho,
hoje residência do Dr. Gualter Batista.
Péricles Moraes, uma das
maiores expressões literárias de nossa terra, associando-se a um grupo de
intelectuais, foi a alma da fundação do novo grêmio, que primitivamente se
chamou Sociedade Amazonense de Homens de Letras. A
princípio sem sede própria, reuniam-se em salões de outras instituições
sociais, como o Ideal Clube e a Associação Comercial, para as sessões solenes.
Mais tarde, por proposta do
escritor Raul de Azevedo, foi mudado o nome da Sociedade para Academia Amazonense
de Letras, devendo-se ao general Nelson Mello, quando Interventor Federal, a doação
da atual sede do sodalício, que outrora era o teatrinho do Instituto Benjamin Constant.
A MISSÃO DA ACADEMIA
A Academia Amazonense de Letras,
como suas congêneres, tem por missão promover a defesa da língua pátria e incentivar
o cultivo das letras e da literatura nacional. Vejamos o artigo 1º de seus Estatutos:
"A Academia Amazonense de Letras fundada a 1º de janeiro de 1918, com a
denominação de Sociedade Amazonense de Homens de Letras, filiada à Federação
das Academias de Letras do Brasil, tem pôr fim a cultura do idioma e da
literatura nacional mediante a ação individual ou coletiva de seus
membros".
Como se depreende, portanto, dos
seus Estatutos, a defesa do idioma nacional, pelo culto da literatura, é a
função específica do sodalício. Essa função se amplia e se completa pela promoção
de conferências e outras comemorações festivas relativamente às grandes datas nacionais
e aos mais expressivos expoentes da literatura.
POLTRONAS E PATRONOS
A Academia possui 30 poltronas, com
os respectivos patronos, tomados entre as mais notáveis figuras da literatura nacional
e do cenário cultural do Amazonas. São os seguintes: Péricles Moraes, Euclides
da Cunha, Gonçalves Dias, Sílvio Romero, Araújo Filho, Adriano Jorge, Maranhão
Sobrinho, Torquato Tapajós, Machado de Assis, Barão do Rio Branco, José Veríssimo,
Olavo Bilac, Tobias Barreto, Barão de Santana Nery, Graça Aranha, João Leda,
Francisco de Castro, Jonas da Silva, Coelho Neto, João Ribeiro, Tenreiro
Aranha, Farias Brito, Cruz e Sousa, Joaquim Nabuco, Araújo Lima, Rui Barbosa,
Lafayette Pereira, Aníbal Teófilo, Capistrano de Abreu, Castro Alves.
BRASÃO E LEGENDA
A Academia possui um brasão,
símbolo de sua expressão nobiliárquica, que assim se descreve:
Escudo:
Em campo de blau, um livro aberto, encadernado de goles e circundando da inscrição
ACADEMIA AMAZONENSE DE LETRAS, de sable.
Timbre:
Dois ramos de louros de ouro.
Paquife:
Um facho de ouro irradiando de um vaso de prata.
Dístico:
Em listel de ouro, a legenda LITTERARUM SPLENDOREM EXCELENTES (cultivando o
esplendor das letras), de blau.
AS MAIORES FIGURAS DO
PASSADO
No decurso de seus quarenta e
dois anos de existência, a Academia Amazonense de Letras pôde contar em seu grêmio com vultos de impressionante envergadura
cultural, tendo alguns alcançado
vitorioso renome nacional. Citaremos algumas expressões de maior relevo, embora
reconheçamos o risco das omissões.
Adriano Jorge |
ADRIANO JORGE — médico, crítico de
arte e de literatura, professor de firmada competência no magistério amazonense.
Era um verdadeiro polímata, cuja erudição impressionava, aliada à sua eloquência,
feita de fidalguia, imaginação e fulgurância. Infelizmente era um talento
dispersivo, despreocupado da consagração da posteridade. Não deixou um livro sequer,
que lhe documentasse as dimensões intelectuais. Foi o segundo presidente da
Academia, sucedendo ao escritor Benjamim Lima.
OS IRMÃOS LIMA — A Academia teve em
seu seio dois notáveis irmãos, os acadêmicos Benjamim Lima e Araújo Lima,
espécie de "irmãos Goncourt" da Academia Francesa. Benjamim Lima era
professor e teatrólogo, e foi o primeiro presidente da Academia. Estilista
famoso, primava pela expressão luzida, tendo verdadeiro horror da vulgaridade
literária. Queria o período perfeito e harmonioso, que lhe saísse da pena como
um lampejo. A conferência que pronunciou no Teatro Amazonas, quando do
falecimento de Olavo Bilac, é um primor de arte. Seu irmão era médico, dos mais
célebres que o Amazonas já possuiu. Publicou a obra Amazônia — a terra e o homem, incontestavelmente um dos livros mais
sérios que já se escreveram sobre a região.
RIBEIRO DA CUNHA — Outro médico
notável, dono de uma cultura portentosa. Era, porém, de uma modéstia quase
doentia, quase acanhado pela posse de uma erudição magnífica, dando a muitos a
impressão de que se desculpava da própria superioridade. Seu nome ilustra o frontispício
de um dos nossos grupos escolares [atual
Escola Estadual].
JONAS DA SILVA — Poeta cintilante,
de sensibilidade extraordinária. Publicou algumas obras, entre as quais Czardas e Uhlanos. Ficou famoso o seu soneto Santa Teresinha.
JOÃO LEDA — Exímio cultor do
vernáculo, esmaltava sua prosa com o ouro da língua portuguesa. Mediante longo
e cotidiano contubérnio com os clássicos, conseguiu expressar o seu pensamento
numa linguagem límpida e escorreita, que logo acusava seus abalizados
conhecimentos do idioma. Se possuísse noções profundas e seguras de letras
clássicas (Latim e Grego), teria sido um filólogo de expressão continental. Dos
clássicos, conhecia profundamente Rui Barbosa e Camilo. Publicou: Nossa língua e seus soberanos; A Quimera da Língua Brasileira; Os áureos filões de Camilo; Vocabulário de Rui Barbosa; e Da relativa exação dos fatos históricos
(tese ao concurso de História).
PERICLES MORAES — Notável escritor e
crítico literário. Foi irrecusavelmente a maior figura da Academia, em todos os
tempos. Sua alma, seu coração e sua própria vida, abalando-lhe os alicerces com
o seu falecimento. Estilista de fino recorte literário, foi verdadeiro artista
da expressão, transmitindo suas mensagens em períodos flamantes e lapidares.
Manteve nome nacional, tendo sido amigo particular das maiores figuras da
Academia Brasileira. Publicou: Figuras
& Sensações; Legendas & Águas-fortes;
O Retrato de Augusto Linhares; Coelho Neto e sua Obra; Confidências Literárias; Leopoldo Peres e O Exemplo de Leopoldo Neves.
OUTRAS FIGURAS
Infelizmente, o espaço de que
dispomos não nos permite tecer demoradas considerações acerca de outros vultos
notáveis e grandiosos, que deram particular refulgência à Academia, entre os
quais: Leopoldo Peres, Huascar de Figueiredo, Araújo Filho, Gaspar Guimarães, Desembargador
Sá Peixoto, Valois Coelho, Jorge de Moraes, Alfredo da Mata, Raul de Azevedo
etc.
UM LEGADO
A Academia teve sua fase de
esplendor e de glória. As grandes figuras literárias que a iluminaram no passado
opulentaram e consolidaram seu patrimônio. Presentemente, possui algumas
expressões de reconhecida cultura e de indiscutível prestígio nas letras,
brasões que honram a heráldica intelectual do Amazonas. É um legado cultural
que os homens ilustres do passado transmitiram à posteridade.
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