POSSE NO IGHA
A renovação anunciada pelo presidente Antonio Loureiro, do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), começou a se concretizar na última sexta-feira 26, quando tomaram posse três novos acadêmicos: Aguinaldo Nascimento Figueiredo, que ocupa a Cadeira 22, cujo patrono é o cronista português Gabriel Soares de Souza.
O segundo foi Zemaria Pinto, inaugurando a Cadeira 59, da qual é patrono o etnólogo Manuel Nunes Pereira (1893-1985). E o terceiro foi o advogado e jornalista Julio Antonio Lopes, que irá ocupar a Cadeira 36, patronada pelo carmelita frei José dos Santos Inocentes.
Zemaria Pinto editou o folheto - Nunes Pereira: esboço em cinza e sombras, com seu discurso de posse. Conhecido por sua dedicação ao trabalho intelectual, o novo membro do IGHA deu partida a outra renovação: a de redescobrir e divulgar a atuação de seu patrono, hoje envolvido em lendas e esquecimento.
A parte inicial do folheto vai abaixo postada, num abraço de boas vindas a Casa de Bernardo Ramos.
As razões do título e do subtítulo
Tenho
por hábito começar a escrever meus trabalhos com um título, ainda que
provisório. É uma forma pouco sutil de me dar uma direção, definir um escopo,
para além do roteiro traçado previamente. O tema Nunes Pereira, por exemplo, é
material para inumeráveis teses e dissertações, sendo impossível esgotá-lo nos
limites de uma fala. Assim, defini o título: "Nunes Pereira, esboço de um retrato".
Imaginei
esse esboço expressionista e em cores, explorando o amálgama racial do
retratado — índio, negro, branco, buscando a ideia precisa de quem foi esse
cientista e escritor, a um tempo tão citado e cultuado, mas tão pouco lido, e
agora quase no esquecimento.
Pelas
dificuldades encontradas no levantamento de dados, entretanto, o retrato
continuou apenas um esboço, porém esmaecido num impressionismo ligeiro,
limitado em cinza e sombras. O subtítulo — o cientista, o poeta, o contador de
histórias — é até óbvio, conforme se verá no fluir do texto. Mas adianto que o
cientista rigoroso, autodidata consciente de suas possíveis limitações, e, por
isso mesmo, munido de uma autocrítica incomplacente, jamais deixou de ser o
lírico que cultivava alexandrinos na juventude, especialmente quando recontava
as histórias ouvidas da indiada, como ele carinhosamente se referia àqueles a
quem procurava, sobretudo, "conhecer e amar humanamente".
O
Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas, ao completar 99 anos de
existência, resgata a memória desse brasileiro exemplar que foi Manoel Nunes
Pereira, maranhense de nascimento, com uma passagem fulgurante e duradoura pela
nossa região, especialmente por Manaus, que ele dizia ser o "coração da
Amazônia".
A finalidade deste trabalho
Os que
conhecem Nunes Pereira já devem ter ouvido algumas das histórias que se contam
sobre ele — e que ele mesmo ajudou a divulgar, alimentando um folclore em torno
de sua figura emblemática. Histórias de rebeldia, de boemia e de sexo. Esse
anedotário acaba supervalorizado em relação a uma obra que, ainda viçosa e
original, é subestimada — pelo que levantei, apenas duas teses de doutorado têm
como centro a obra de Nunes Pereira, ambas da PUC-SP: Labirintos do saber: Nunes Pereira e as culturas amazônicas, de Selda Vale da Costa (1997),
e Mitopoética dos muiraquitás, porandubas e
moronguetás: ensaios de etnopoesia amazônica, de Harald Pinheiro (2013). Então, a proposta
deste trabalho é, ignorando o anedotário, dar uma visão, ainda que superficial,
sobre a vasta obra de Nunes Pereira, procurando despertar, especialmente nos
mais jovens, pelo menos a curiosidade de conhecer o essencial da obra do autor
de Moronguetá, o que
não é pouco.
Nenhum comentário:
Postar um comentário