Nascido em 23 de fevereiro, Gilberto Mestrinho faria hoje 88 anos. Em sua homenagem, reproduzo um artigo de Ramayana de Chevalier, publicado em A Gazeta, edição de 15 de maio de 1961.
Chevalier ao mesmo tempo que noticiava a inauguração da Maternidade Balbina Mestrinho (mãe do então governador), destacava ao seu modo a dedicação do "Professor" ao povo amazonense.Ao tempo do Governo Militar, a Maternidade teve modificado seu nome, como mostra a foto. Todavia, quando da segunda gestão de Mestrinho no governo (1983-87), o hospital tomou e manteve a denominação original.
Maternidade
O dia de ontem foi de glória e de felicidade. Inaugurou-se uma maternidade. Teve o nome da mãe do governador do Estado. Nem por isso, por ser a genitora do Chefe do Estado, ela se encheu de orgulho. Balbina Mestrinho continuou como sempre, a ser a pegureira dos seus filhos, a doce pastora do seu rebanho. Humilde, por vocação e por temperamento, o que não daria ela para ter ao seu lado, no dia mais feliz da vida do seu ilustre filho, a figura do velho Tomé, aquele que tinha o espinhaço vertical como as palmeiras e cuja palavra era um documento vivo!
Risonha e tímida, como a mais obscura das flores, mãe Balbina foi glorificada nas mães pobres. Encheu-se o prédio do que havia de curioso em Manaus. Todas queriam ver a casa da alegria, todas queriam tocar-lhe as paredes, abençoando-as. Estava ali o resultado de muitas vigílias, a soma de muitos sonhos! Aquela Maternidade era o resultado de muitas vigílias. Aquela Maternidade era uma fibra inteira do coração de Gilberto Mestrinho. Durante meses corridos, ele a fecundou com a imaginação, com a generosa alegria de apressá-la, com a sofreguidão juvenil dos que pretendem criar para a eternidade!
Ali estava o resumo do seu sentimento, na marca filial de uma saudade. Não tínhamos um hospital condigno para as mães. Não possuíamos um abrigo, à altura, para as parturientes modestas. Os amazonenses proletários, que vinham à luz, o faziam despidos de tudo. Sofriam desde a primeira hora. Era preciso construir uma casa para as mães pobres. Era preciso atende-las com a solicitude de quem ama à sua própria mãe.
De todas as bandas do Estado elas podem vir, das barrancas do Madeira, dos sacados do Juruá, dos beiradões do Negro, dos alagadiços do Içá, dos lagos da Mundurucânia, que terão a sua casa, iluminada pela Virgem, para o despertar de uma realidade. O hospital para as mães de Manaus, é preciso que o saibam aqueles que só pensam na política, ou na ambição, ou na injustiça, é um dos melhores do Brasil. Foi edificado sob esquema científico moderno, teve todas as instalações atualizadas e amplas, possui ar refrigerado na sua sala de parto, os seus utensílios são de primeiro plano, as mesas e as cadeiras metálicas foram fabricadas no Amazonas, como prova da nossa já pujante indústria em começo. Desde a pintura suave e estudada, até à iluminação das salas, e dos abrigos, tudo obedeceu a um sistema moderno de ciência hospitalar.
O Pronto Socorro, que se abrigará em seu corpo, representa um passo largo no caminho da assistência efetiva ao povo amazonense. Não se olhou despesas, quando os utensílios deveriam servir. Não se cogitou de economia, nas serventias para o povo. A sala de parto é uma das mais atualizadas do país. Os médicos e enfermeiras trabalharão em clima de montanha, assim como a mãe pobre, dará à luz, cercada do conforto que merece o trabalhador caboclo.
O povo, em massa, ao dia de ontem, deve ter comprovado tudo o que afirmamos. Da entrada, florida e atraente, aos pátios e terraços, a Maternidade Balbina Mestrinho é um encantamento. Muito poucos hospitais no Brasil terão essa simpatia, esse acabamento moderno, essa eficiência, essa completação hospitalar perfeita.
De energia própria, independendo da corrente geral, que breve também será outra realidade, a Maternidade Balbina Mestrinho foi a maior dádiva do governador ao seu povo. Enquanto outros iludem, ele trabalha. Enquanto outros esbravejam, ele constrói. Enquanto outros mentem, infamam, ofendem, mordem os bridões, ele oferece ao povo, aquilo de que o povo necessita. Enquanto os outros fazem propaganda com as palavras, ele a faz com os prédios, com os hospitais, com as escolas, com os edifícios.
Sua política é essa: fazer, em quatro anos, o que ninguém fez em trinta. Não importa o silêncio dos invejosos, a raiva dos impotentes, o ódio vesgo dos insensatos: aí estão os serviços, aí vão os trabalhos, aí se demonstra um programa. Sei que os inimigos desaçaimados jamais visitarão a Maternidade, para não se humilharem, jamais ultrapassarão os seus umbrais por espírito de rancor.
Mas saberão, pelo povo, que ali existe um abrigo eterno, que ali se levantou a mais moderna maternidade do Brasil. A equipe do governador Mestrinho, honrada com a sua escolha e orgulhosa de sua companhia, está perfilada em sua homenagem, louvando o nome impoluto de sua genitora! Também a nos recai um pingo dessa glória, também a nós cabe um minuto de alegria interior. Sobretudo a esse engenheiro que presidiu ao feito, ao digno secretário de Viação e Obras Públicas, Dr. Walter Troncoso, ilustre por vários títulos, capaz por tantas provas, brilhante no seu concurso, a cujo tope se destaca a restauração primorosa do Teatro Amazonas e a que se realiza, menos primorosa, no Palácio da Justiça. Vale ressaltar o talento e a eficiência do responsável direto pela construção, Armando Sarmento, abelha mestra de cujo trabalho surgiu aquela colmeia de luz.
O dia de ontem foi de glórias. Límpido o céu, de sol tão puro, homenageando também à Mãe Pobre de nossa terra. A mãe do dia foi Balbina Mestrinho. A ela coube o quinhão maior. Dela partiu, pelo sangue, pelo amor e pelo exemplo, a inspiração que fez nascer esse maravilhoso hospital. Diante dela, eu que não possuo mais a minha mãe, curvado em sinal de respeito, beijo-lhe em nome da equipe do governador Gilberto Mestrinho, as venerandas mãos.
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