Djalma Batista
Contribuição para a história de
Cruzeiro do Sul (AC), compartilhando o artigo escrito pelo saudoso cientista Djalma
Batista (1916-79), nascido naquelas plagas. Devido a extensão do texto, vou
dividir este em três publicações seguidas.O original foi publicado no Jornal
do Commercio (14 abril 1974), portanto, próximo de completar 50 anos.
Djalma Batista |
Recorte do Jornal do Commercio, 14 abr. 1974 |
O Acre, desde o início do povoamento, na segunda metade do século passado, sempre foi estranho e desconcertante para o Brasil. Brasileiros desbravaram e exploraram "terras desconhecidas", que a nossa diplomacia considerava bolivianas (vale Purus-Acre) e os peruanos julgavam suas (vale Juruá-Tarauacá). Ganhas as primeiras batalhas, e uma revolução aconteceu no Acre propriamente dito (que os antigos chamavam de Aquiri, grafado depois Ac-ri ou Acri, razão da corruptela Acre), o Brasil não sabia o que fazer com a região: constituir um novo Estado, anexá-la ao estado do Amazonas (que disputou esta solução sob o alto patrocínio de Rui Barbosa) ou criar um Território Federal, a exemplo do que acontecera nos Estados Unidos. Por esta última solução se decidiu o Barão do Rio Branco, que era o grande árbitro da questão (governo Rodrigues Alves).
Mas o novo Território Federal ainda
continuava estranho e desconcertante: não tinha unidade geográfica (suas terras
se situavam em dois rios gêmeos — Purus e Juruá). Criou-se então um sistema de
governo descentralizado, constituído a princípio de 3, depois 4 “Departamentos”,
dirigidos por um Prefeito, diretamente subordinado ao Ministro da Justiça e
Negócios Interiores.
Entrementes, colhiam-se grandes quantidades
de borracha nos seringais espalhados nos seus rios, afluentes e subafluentes, e
o governo federal taxou essa produção em 18% ad valorem, depois
aumentando para 23%, a exemplo do que cobrava o estado do Amazonas. Da
quantidade do produto, diz bem a classificação até hoje adotada: borracha
fina ou entre fina tipo Acre.
O 1º prefeito do Alto Juruá, em 1904, foi
um ex-governador do Amazonas, coronel (EB) Gregório Taumaturgo de
Azevedo, que levou tropas para deslocar os peruanos que se localizavam na foz do
rio Amônia e teimavam em lá permanecer. Fundou também uma cidade localizada no
extremo Noroeste do Brasil, no lugar denominado “Centro Brasileiro”, bem abaixo
da foz do rio Môa, dando-lhe um belo nome, que foi também um destino: Cruzeiro
do Sul. Setenta anos depois de fundada, a cidade está criando impulso, com
a construção da Transamazônica.
Para o Alto Acre, o prefeito escolhido foi
Plácido de Castro, que já era, nessa época, um herói nacional, e cujo
centenário, celebrado no ano passado, constituiu uma comemoração histórica de
todo Brasil.
Taumaturgo de Azevedo, decretando uma
importante legislação para o seu Departamento, inclusive uma adiantada “Lei do
Trabalho”, mandou fazer o 1º recenseamento da região, que só pôde se estender a
112 seringais, não atingindo, porém, as propriedades do rio Tarauacá e afluentes
(exceto o Envira) e às tribos indígenas, empurradas pelos primeiros povoadores
para as terras entre as cabeceiras do Tarauacá e afluentes da margem direita do
Juruá. Foram encontradas 6.974 pessoas, sendo 5.087 homens (2.393 menores de 21
anos e 2.683 maiores) e 1.887 mulheres (947 menores e 951 maiores). A
desproporção entre os sexos era flagrante e foi responsável por muitas tragédias
passionais.
Entre os que viviam no Alto Juruá, a essa
época, estava Francisco Correia Barahuna, que se firmou um tradicional seringalista
na região e se casou com Joaninha Barbosa Correia Barahuna, há poucos anos falecidos,
velhinhos, um logo após o outro, aqui em Manaus. Pois um dos 6 filhos desse
casal, Epaminondas Barahuna, reuniu suas notas e lembranças, e vem de publicar,
já em 1974, um livro encantador, com o título despretensioso de Estórias
Amazônicas, pelas Edições “O Cruzeiro”. (segue)
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