Dom João, ao lado do governador Mestrinho, na inauguração da Maternidade |
Estou falando desta maneira porque tive o
despreza de receber telefonemas como passo a descrever: Sr. Ildefonso, aqui
fala o Dr. Roberto Farias, do Banco de Sangue do Hospital Ana Nery, que se
encontra com um caso sério e urgente a resolver, sobre a vida da Sra. Maria de
Lourdes de Oliveira que se encontra hospitalizada na Maternidade “Ana Nery” (hoje
Balbina Mestrinho).
Sr. Ildefonso,
para atender esta causa precisamos de um litro de sangue e aqui no hospital não
o temos. Há, sim, no Hospital São José e custa a quantia de cento e trinta
cruzeiros novos. Gostaria que o Sr. viesse até aqui ao hospital para ver a miséria
que está reinando nesta casa de saúde. Quem me indicou foi o Dr. Gesta,
dizendo-me sue o Sr. não se negaria a socorrer-nos neste caso melindroso, que
pela urgência exige a colaboração de pessoas bem formadas e que tenha a noção
da dor do seu semelhante.
Dez minutos mais tarde, novo telefonema de
aflição:
Sr. Ildefonso,
o sangue de que lhe havia falado, só tem em medida de dois litros. Estamos à
procura do Fernando Monteiro que não está sendo encontrado para nos dar os outros
cento e trinta cruzeiros novos, para que assim possamos comprar os dois litros
de sangue. Será
que o Sr. pode mandar os duzentos e sessenta cruzeiros novos? que logo que
encontrarmos o Fernando lhe devolveremos
Diante de tal exposição, respondi-lhe que
mandassem buscar duzentos e cinquenta cruzeiros novos. Ele respondeu-me que
estava bem, pois, os dez cruzeiros, eles arranjariam. Poucos minutos depois,
chegou um mensageiro ao meu estabelecimento, com um recibo cujo teor é o seguinte:
Recebi da
Firma Ferragens Pinheiro, na pessoa do Sr. Ildefonso Pinheiro, a importância de
duzentos e cinquenta cruzeiros novos, para pagamento de 2 litros de sangue “O”
positivo como patrocínio
a Sr. Maria de Lourdes de Oliveira, que se encontra hospitalizada na Maternidade
“Ana Nery”. Manaus, 7 de janeiro de 1970
Roberto
Farias Filho – Chefe do Banco de Sangue.
Meia hora depois, novo telefonema:
Sr. Ildefonso,
aqui fala o arcebispo João
de Souza Lima, do hospital “Ana Nery” onde estou assistindo cenas verdadeiramente
dramáticas e contristadoras para os que se reverenciam diante da dor alheia.
Existem aqui casos que precisam ser resolvidos urgentemente e que exigem a colaboração
minha e de todos aqueles que têm o espírito voltado para o amor ao próximo. O
que estou vendo aqui, obrigaram-me a recorrer a pessoas amigas como o meu nobre
amigo. Os casos que estou vendo precisam ser resolvidos imediatamente, porque
são criaturas que estão em risco de perderem a vida, por falta de sangue e
alguns remédios. Preciso urgente de trezentos e noventa cruzeiros novos.
Diante de tal exposição feita por S. Exa.
D. João de Sousa Lima, arcebispo metropolitano de Manaus, prontifiquei-me
imediatamente dizendo que mandasse buscar quinhentos cruzeiros novos, invés de
trezentos e noventa cruzeiros novos, para atender mais alguém que precisasse de
tal colaboração.
Em poucos minutos, chegou ao meu balcão um
novo emissário para receber a encomenda do Sr. Arcebispo. No dia seguinte, fiquei
ciente de que o Sr. Arcebispo Não me havia telefonado e de que, também, fora
burlado por esses salteadores, que precisam ser desmascarados para que esses planos
diabólicos não
continuem a envolver nomes de pessoas dignas em roubos e falsificações.
É assim que estamos vivendo, caros amigos, sofrendo
as astúcias de vigaristas que vivem a planejar assaltos sobre aqueles que pensam
no bem-estar dos seus semelhantes e têm a noção do sofrimento dos que vivem a carpir
a vida na fome e na nudez.
Aos meus amigos vigaristas, uma pequena advertência. Diz o velho adagio popular: “O cântaro tanto vai à fonte, até um dia que lá fica”.
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