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domingo, fevereiro 18, 2024

SOBRE CRUZEIRO DO SUL-AC (2)

 

D. Batista
Contribuição para a história de Cruzeiro do Sul (AC), compartilhando o artigo escrito pelo saudoso cientista Djalma Batista (1916-79), nascido naquelas plagas. Segunda parte do artigo.
O original foi publicado no Jornal do Commercio (14 abril 1974), portanto, próximo de completar 50 anos.



Jornal do Commercio, 14 abr. 1974


Epaminondas Barahuna emigrou do Acre em 1930, para estudar e procurar um destino, já que a crise da borracha fazia quase 20 anos que fizera tudo soçobrar no interior da Amazônia, atingindo também as capitais. Foi para Belém, empregando-se na “Folha do Norte” e vindo para Manaus em 1934, quando, entrou para o “Jornal do Commercio”, ao tempo dirigido por Vicente Reis, levado pela mão amiga de Mário Castro e de onde nunca mais saiu, ocupando, sucessivamente, os postos de repórter, auxiliar de gerência, gerente, superintendente e diretor. Para Manaus atraiu também os pais e irmãos, e passou a ouvir e anotar as preciosas informações paternas sobre o passado do Juruá Federal (designação muito acertada, de uma monografia excelente de José Maria Brandão Castelo Branco Sobrinho, que foi juiz e estudioso da história e geografia do Acre, publicada na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro).

O livro de Epaminondas Barahuna me deu o grande prazer de recordar cousas de meus pagos, que muito falaram ao meu espírito. Minha vida tem tido a mesma saga da sua e, nesta altura, se enche das mesmas saudades e dos mesmos anseios de renovação da terra bem-amada.

O Juruá, como toda a Amazônia, tem estórias que não figuram na história, porém, são importantes para compreensão de sua humanidade sofrida. Barahuna as recorda com simplicidade e bom gosto, trazendo uma contribuição que reputa valiosa, ao que por lá tem acontecido, e que só os artistas, recriando os fatos, poderão dar vida e beleza.


Ilustração sobre região

Aquele "valentão", que na hora “H” renunciou a sua condição, tem um sabor gostoso de ridículo e hilaridade. Porém a coragem de certo seringueiro que enfrentou uma “onça pé de boi”, matando-a a terçado, e a de outro seringueiro, que encontrou um mapinguari gritador, entidade lendária dos florestários, que não era senão um casal de tamanduás-bandeira na hora de acasalamento, são exemplos de outras estórias bem lembradas e melhor contadas.

Em estilo claro e límpido é o livro todo, focando aspectos da paisagem, do homem, dos mitos, do folclore e assombrações, da fauna (especialmente da pesca) e encerrando com uma parte modestamente chamada de micro-história. Pois entre as micro-histórias, há uma que evoca o sonho, o idealismo e o espírito progressista de Manoel Absolon de Souza Moreira, que tudo fez para criar no seringal “Porto Walter” uma fazenda californiana, com engenho de açúcar, bolandeira importada para operar mandioca, casa de alvenaria, trilhos para transporte da cana, uma olaria, uma escola com professora paga às suas custas, e outras iniciativas arrojadas, em tudo empregando os recursos de que dispunha, até morrer pobre e endividado. Nessa altura, Absolon Moreira, que foi um símbolo, de certo revivia o passado, amargurado porque seu sonho, seu idealismo e seu espírito progressista não chegaram a realizar a fazenda que a leitura da revista La Hacienda lhe inspirara.

Outra micro-história que merece ser destacada é da atuação dos “Primeiros Motores”, em 1915, com os quais se abriu uma nova era para as viagens nos altos rios, onde se passava dos vapores às canoas, dependendo das chuvas e do calado das embarcações.

No livro de Epaminondas Barahuna também se revivem fatos passados fora da área do Juruá. Prefiro comentar, porém, o vale e as terras da minha própria meninice. (segue)

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