D. Batista
Contribuição para a história de
Cruzeiro do Sul (AC), compartilhando o artigo escrito pelo saudoso cientista Djalma
Batista (1916-79), nascido naquelas plagas. Segunda parte do artigo.O original foi publicado no Jornal
do Commercio (14 abril 1974), portanto, próximo de completar 50 anos.
D. Batista |
Jornal do Commercio, 14 abr. 1974 |
Epaminondas Barahuna emigrou do Acre em 1930,
para estudar e procurar um destino, já que a crise da borracha fazia quase 20
anos que fizera tudo soçobrar no interior da Amazônia, atingindo também as
capitais. Foi para Belém, empregando-se na “Folha do Norte” e vindo para Manaus
em 1934, quando, entrou para o “Jornal do Commercio”, ao tempo dirigido por
Vicente Reis, levado pela mão amiga de Mário Castro e de onde nunca mais saiu,
ocupando, sucessivamente, os postos de repórter, auxiliar de gerência, gerente,
superintendente e diretor. Para Manaus atraiu também os pais e irmãos, e passou
a ouvir e anotar as preciosas informações paternas sobre o passado do Juruá
Federal (designação muito acertada, de uma monografia excelente de José Maria
Brandão Castelo Branco Sobrinho, que foi juiz e estudioso da história e geografia
do Acre, publicada na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro).
O livro de Epaminondas Barahuna me deu o
grande prazer de recordar cousas de meus pagos, que muito falaram ao meu espírito.
Minha vida tem tido a mesma saga da sua e, nesta altura, se enche das mesmas
saudades e dos mesmos anseios de renovação da terra bem-amada.
O Juruá, como toda a Amazônia, tem estórias que não figuram na história, porém, são importantes para compreensão de sua humanidade sofrida. Barahuna as recorda com simplicidade e bom gosto, trazendo uma contribuição que reputa valiosa, ao que por lá tem acontecido, e que só os artistas, recriando os fatos, poderão dar vida e beleza.
Aquele "valentão", que na hora “H”
renunciou a sua condição, tem um sabor gostoso de ridículo e hilaridade. Porém
a coragem de certo seringueiro que enfrentou uma “onça pé de boi”, matando-a a
terçado, e a de outro seringueiro, que encontrou um mapinguari gritador,
entidade lendária dos florestários, que não era senão um casal de
tamanduás-bandeira na hora de acasalamento, são exemplos de outras estórias bem
lembradas e melhor contadas.
Em estilo claro e límpido é o livro todo,
focando aspectos da paisagem, do homem, dos mitos, do folclore e assombrações,
da fauna (especialmente da pesca) e encerrando com uma parte modestamente chamada
de micro-história. Pois entre as micro-histórias, há uma que evoca o sonho, o
idealismo e o espírito progressista de Manoel Absolon de Souza Moreira, que
tudo fez para criar no seringal “Porto Walter” uma fazenda californiana, com
engenho de açúcar, bolandeira importada para operar mandioca, casa de alvenaria,
trilhos para transporte da cana, uma olaria, uma escola com professora paga às
suas custas, e outras iniciativas arrojadas, em tudo empregando os recursos de
que dispunha, até morrer pobre e endividado. Nessa altura, Absolon Moreira, que
foi um símbolo, de certo revivia o passado, amargurado porque seu sonho, seu
idealismo e seu espírito progressista não chegaram a realizar a fazenda que a
leitura da revista La Hacienda lhe inspirara.
Outra micro-história que merece ser
destacada é da atuação dos “Primeiros Motores”, em 1915, com os quais se abriu
uma nova era para as viagens nos altos rios, onde se passava dos vapores às
canoas, dependendo das chuvas e do calado das embarcações.
No livro de Epaminondas Barahuna também se
revivem fatos passados fora da área do Juruá. Prefiro comentar, porém, o vale e
as terras da minha própria meninice. (segue)
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