Luiz Bacellar, o poeta que abominava tal designação
ou título, morreu há cinco anos. Para quase exato: em setembro de 2012. E,
segundo se observa, nunca mais se ouviu notícias sobre a Frauta de barro dele. Desse modo, Bacellar morreu.
Parece-me coincidência: o desaparecimento
da Livraria Valer pouco depois da morte do autor de Sol de feira, onde o mesmo detinha “cadeira” e cantinho cativos,
acelerou este esquecimento. Tem mais. De onde também se poderia esperar alguma
manifestação, a Academia de Letras não mais se preocupou com os seus mortos. A
exemplo de Bacellar, o óbito de Anísio Mello, outro poeta e artista múltiplo,
já completou sete anos. Não se registra qualquer manifestação.
Deste modo, ao rebuscar velhos papeis,
alcancei este artigo do professor José Seráfico escrito por ocasião da perda do
amigo Luiz Bacellar. Cujo lavor, o saudoso poeta Alencar e Silva (em Quadros da Moderna Poesia Amazonense) associava
Bacellar “como que à corporação dos artífices auxiliares da Criação”.
Gregoriano canto, que, em precisa
Cadência, vai ecoando em cada peito:
Deixai-nos descansar: tudo está feito.
(Frauta
de barro, 1963)
Compartilho o artigo de Seráfico, sacando-o
de A Crítica, edição de 11 de
setembro de 2012.
Quem teve a felicidade
de conhecer Luís Franco de Sá Bacellar captou a precisão da expressão de um de
seus colegas de letras: poetas não morrem, encantam-se. Foi o que aconteceu no
último domingo com o jamais suficientemente reverenciado autor de Frauta de barro.
Era impossível
enxergar à primeira vista naquele corpo frágil, a fortaleza dos que trazem
consigo a poesia e, como se fosse pouco, acrescentam a ela rara percepção e
prática da dignidade em toda sua plenitude. Não bastassem o talento e a entrega
à compreensão da arte em suas várias formas de manifestação, a Bacellar ocorria
de conduzir-se igualmente com elevado sentido da vida digna. Jamais cortejou os
poderosos, antes reservando a para eles a fina ironia, esse atributo próprio
dos que têm talento.
Porque a Luís
Bacellar coube papel dos mais importantes na história literária do Amazonas e
da região, não faltarão homenagens que ele mesmo recusava. Suas exigências não
serão respeitadas, porque seu encantamento impedirá que se cumpram as
determinações testamentárias que ele se preocupou em deixar registradas.
Importa pouco, eis
que, já não estando entre nós, não poderá mais que levar consigo, ligeiro esgar
a mover o canto da boca, o corte fino de sua ironia. Falar da poesia de
Bacellar torna-se repetitivo. Testemunhos muito mais valiosos, apreciação muito
mais acreditada é obra dos que entendem de poesia e poetas.
A este admirador do
poeta que preferia ser chamado professor é reservado, sponte mea, o papel de ratificar a admiração e esperar que pelo
menos parte de suas disposições em testamento seja finalmente respeitada. Luís
Bacellar, a quem jamais poderá ser pago o bem-fazer por Manaus, pelo Amazonas,
pela Amazônia, pelo Brasil e pela poesia, tem todo o direito de instalar a
barraca de feira sob outros sóis.
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