CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS
quinta-feira, abril 20, 2023
REVISTA UBE/AM: 40 ANOS
EXPOENTES LITERÁRIOS DO
PASSADO
Padre Nonato Pinheiro, orador emérito de raro fulgor, cronista exímio, epistológrafo
de inexcedível valor, é gramático e estilista como poucos no Amazonas. Membro da
Academia Amazonense de Letras, do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas,
do Clube da Madrugada e da União Brasileira de Escritores do Amazonas.
Padre Nonato é
um dos mais ilustres pesquisadores da História da Igreja no Amazonas.
As
comemorações do centenário de nascimento do escritor Péricles Moraes
despertaram-me a evocação do grandes figuras literárias do passado, oradores,
prosadoras e poetas de opulentos cabedais de cultura e requintada sensibilidade
artística, homens egrégios, que tiveram, como os Varões Insignes do Livro do
Eclesiástico, o instinto e a preocupação da beleza: "pulchritudinis
studium habentes"!.
Péricles
Moraes integrou essa plêiade gloriosa de caravaneiros da arte e
magos do pensamento, que depositavam com rara elegância no altar da beleza o
incenso, o ouro e a mirra de suas produções literárias e erupções oratórias.
Dominando de pleno a língua e a literatura da França imortal, a Hélade dos
novos tempos, encontraram nessa castália inesgotável os brilhos siderais e as
tintas multicoloridas para as iluminuras de suas páginas mitológicas.
Fascinavam-no os grandes mestres do estilo, que faziam do esplendor e da
policromia uma constante obsessiva, entre os quais, Chateaubriand, Flaubert,
Anatole France, Victor Hugo, Paul de Saint-Victor, Saint-Beuve, Remy de
Gourmont, Bourget, Mauclair, Mirabeau e outros. As estantes de sua biblioteca
não davam abrigo a escritores medíocres, que considerava "escrivinhadores
de água chilra"...
Adriano
Jorge foi outro cimo daquela orografia mental. Caneta de ouro,
cravejada de brilhantes, que escreveu páginas de rara beleza, mas talento tão
dispersivo, a ponto de nunca se ter preocupado em publicar um livro.
Entretanto, suas frequentes produções literárias nos jornais e revistas da
terra dariam matéria para numerosos volumes. Além de suas teses de concursos,
profundas e lapidares, deu à estampa duas primorosas alocuções: uma conferência
sobre a luz e o discurso com que saudou o Núncio Apostólico Dom Bento Aloisi
Masella no memorável 1° Congresso Eucarístico Diocesano de Manaus, em 1942. Dom
Milton Pereira e eu, então seminaristas, ouvimos essa maravilhosa oração, que
provocou na assistência alvoroçados aplausos. Fui empossado na Academia de
Letras na presidência de Péricles Moraes (1950), mas não perdia as memoráveis
sessões dos dois últimos anos da presidência de Adriano Jorge (1974-1948).
Empolgava a assistência com o fulgor de sua oratória estonteante, como se
arrebatasse do céu, para o recinto da Academia, a grandeza sideral da via
láctea! ...
Benjamim
Lima e José Francisco de Araújo Lima foram os irmãos
Goncourt de nossa Academia. Benjamim foi o seu primeiro presidente e brilhou
como teatrólogo. José Francisco, além de homem de letras de rútila cepa, foi cientista
de proclamados méritos.
Leopoldo
Peres brilhou com luz própria. Tive a alegria e o privilégio de receber
suas luzes quando seu aluno de Literatura no Colégio Dom Bosco. Relevo que foi
esse príncipe da inteligência que me espevitou a chama do amor às letras.
Prosador cintilante e orador de eloquência magnificente.
Álvaro
Maia foi um dos mais refulgentes brasões literários de nossa
terra: professor, orador, prosador, poeta e político. Uma das inteligências
mais fulgurantes do Amazonas, que deixou, seguindo orientação de Horácio, para
a maturidade da vida a publicação de suas melhores obras.
João
Leda era filólogo. Exímio cultor da vernaculidade, lia os
clássicos da língua portuguesa com diurna e noturna mão, sobretudo Camilo e Rui
Barbosa.
Heliodoro
Balbi brilhou como orador. Suas produções literárias foram
escassas, mas de raro brilho, entre as quais um primoroso soneto.
Jonas
da Silva ficou glorificado na literatura nacional. Poeta de
soberanos voos e joalheiro de maravilhosos sonetos, entre os quais
"Coração" e "Santa Teresa".
Ribeiro
da Cunha, médico e homem de letras, foi um grande humanista, mas de
modéstia quase doentia. Jamais esquecerei uma observação de Péricles Moraes:
"Padre Nonato: o Ribeiro da Cunha era tão extraordinário, que se revestia
de profunda modéstia, dando-nos a impressão de nos pedir desculpas de ser
grande"....
Waldemar
Pedrosa faiscou com labaredas impressionantes. Cultura polimorfa e
caráter sem jaça. Jurista, advogado e professor supereminente, conhecia profundamente
a língua francesa e era um príncipe na arte da conversação. Fui eu o orador na
sessão de saudade que a Academia fez realizar no 30° dia de seu decesso, quando
afirmei: "Não só da vida, mas da própria morte fez uma obra de arte".
Agnello
Bittencourt não pode ser esquecido na pulcritude de seu caráter e na
grandeza de sua cultura. Pesquisador beneditino e pedagogo notável, encontrou
na transmissão de seus opulentos conhecimentos um dos encantos da vida.
É
limitado o espaço de que disponho, e infelizmente, fico privado de escrever
sobre Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro, Huáscar de Figueiredo, Vivaldo Lima,
Félix Valois Coelho, Ramayana de Chevalier, André Araújo, Mitrídates Corrêa,
Anísio Jobim, Aristóphano Antony, Djalma Batista e outros, que deixaram de seu
contubérnio com as letras vestígios inapagáveis!.
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A minha intenção é reproduzir os velhos acontecimentos que produzem a história do Amazonas. Por isso, considero-me um experto catador de papeis antigos.
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