Hoje - Sexta-Feira Santa - voltando de uma incursão ao loteamento, depois de alcançar os estabelecimentos comerciais abertos (com raras exceções fechados), recordei a comemoração realizada há algum tempo. Era um silêncio respeitável. O autor do texto aqui postado realizou suas reflexões sobre a abertura da Semana, o Domingo de Ramos.
Reflexões sobre o Domingo de Ramos
02.04.2023
Renato Mendonça
A liturgia de hoje abre o período que o mundo cristão chama de Semana Santa ou
Semana Maior. A narrativa dos evangelistas nos convida à meditação, nos ensina
a viver a mesma humildade, o mesmo amor e a mesma perseverança de Nosso Senhor
Jesus.
A entrada de Jesus Cristo em
Jerusalém tem a simbologia do mistério divino, endossado pelo que foi
pressagiado no Antigo Testamento pelo profeta Zacarias (Zc 9:9) sobre a
vinda do Messias Salvador: “Regozija-te muito, filha de Sião; exulta, filha
de Jerusalém; eis que vem a ti o teu Rei. Ele é justo, e traz a salvação; ele é
pobre e vem montado sobre um jumento, sobre um potrinho, filho de uma jumenta.»
Observem que Jesus poderia ter
escolhido várias formas para uma entrada triunfal na cidade, após um período de
seis dias de meditação no Monte das Oliveiras. Ele preferiu a mais humilde, e
talvez não fosse intencional chamar atenção da multidão; no entanto, ocorreu
que seus seguidores e admiradores estendiam suas próprias vestes pelo caminho,
enquanto outros cortavam ramos de árvores para lhe oferecer em tapete ou
agitando para anunciar o advento do Mestre. Foi uma coreografia por certo não
idealizada, apenas improvisada, para preceder as palavras de fé e esperança
entoada pela multidão: “Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do
Senhor! Hosana nas alturas!”
Porém, o que nos deixa
estupefatos, ou profundamente decepcionados, é que, uma semana após essa
euforia, esse mesmo povo que o aclamou também o condenou... Será que foram essas
mesmas pessoas que estavam na Assembleia do Sinédrio? Pertenciam a mesma casta
social? Duvido.
Fazendo um exercício de lógica,
podemos absorver dos relatos dos evangelhos sinóticos que havia razões apenas
políticas para incriminá-lo, usando de argumentação leviana e mentirosa. Isso
está explicitado no evangelho de Lucas (Lc 23: 1,2): “Então toda a
assembleia levantou-se e o levou a Pilatos. E começaram a acusá-lo dizendo:
‘Encontramos este homem subvertendo a nossa nação. Ele proíbe o pagamento de
impostos a César e se declara ele o próprio Cristo, um Rei’. Era uma
falácia, pois Jesus, em um dos momentos em que foi induzido a cair numa cilada
dos inimigos, falou sabiamente: “Dai, pois, a Cesar o que é de Cesar, e a
Deus o que é de Deus” (Mateus
22:21).
Obviamente, não poderia estar
presente naquele julgamento sumário a população pobre e carente, pessoas
desassistidas que foram acalmadas espiritualmente com as diversas manifestações
divinas de Jesus: as curas e os milagres realizados e testemunhados ao longo do
seu ministério. Estavam ali os sacerdotes, os mestres da lei e outros, em
conluio com setores da elite judaica, alinhados com o governo de Roma. Como não
havia registro escrito desse julgamento, tudo passou para a posteridade pela
oralidade.
Jesus já vinha sendo monitorado
há algum tempo por lacaios do império romano, e estes identificaram nele uma
liderança popular capaz de concorrer com as autoridades de Roma; alguém que
surgiu para libertar um povo oprimido, um enviado de Deus, capaz de mobilizar
as forças divinas para se livrar da dominação estrangeira que oprimia o povo judeu
naquela época. Por isso, consideravam-no um revolucionário e era necessário retirá-lo
do convívio com a sociedade e condená-lo à morte.
Jesus tinha consciência da sua
missão final que ali se iniciava, e poderia evitar a situação cruel, mas para
concretizar o projeto do Reino de Deus não deveria se opor, pelo contrário,
faria a vontade do Pai. E o que se sabe é que Jesus não precisou rebater a
violência com violência; nem mesmo condenou Judas, deixou que sua própria
consciência o condenasse. Esperou que tudo se consumasse como um propósito
divino.
A lei injusta e parcial usada
para a manutenção do poder romano — que condenou um homem justo e maltratou sua
dignidade — não foi capaz de evitar a vitória de uma crença, o surgimento de
uma religião fervorosa, que tem como símbolo máximo a Cruz de Cristo.
Esperamos que o calvário e a
crucificação de Jesus, paradoxalmente, consigam amenizar nossas dores; nos
fortaleçam cada vez mais, para ajudarmos nossos irmãos que precisam de apoio ou
socorro espiritual; ao mesmo tempo em que precisamos nos encaminhar para uma Boa
Páscoa e para a ressurreição, que exige de nós um renascer a cada dia.
Além disso, precisamos nos
abastecer da fé e da esperança, e nos convencer de que a morte foi vencida pelo
Senhor da Vida!
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