CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

sexta-feira, abril 07, 2023

SEMANA SANTA

Hoje - Sexta-Feira Santa - voltando de uma incursão ao loteamento, depois de alcançar os estabelecimentos comerciais abertos (com raras exceções fechados), recordei a comemoração realizada há algum tempo. Era um silêncio respeitável. O autor do texto aqui postado realizou suas reflexões sobre a abertura da Semana, o Domingo de Ramos.

Reflexões sobre o Domingo de Ramos

02.04.2023

      Renato Mendonça

      A liturgia de hoje abre o período que o mundo cristão chama de Semana Santa ou Semana Maior. A narrativa dos evangelistas nos convida à meditação, nos ensina a viver a mesma humildade, o mesmo amor e a mesma perseverança de Nosso Senhor Jesus.

A entrada de Jesus Cristo em Jerusalém tem a simbologia do mistério divino, endossado pelo que foi pressagiado no Antigo Testamento pelo profeta Zacarias (Zc 9:9) sobre a vinda do Messias Salvador: “Regozija-te muito, filha de Sião; exulta, filha de Jerusalém; eis que vem a ti o teu Rei. Ele é justo, e traz a salvação; ele é pobre e vem montado sobre um jumento, sobre um potrinho, filho de uma jumenta.»

Desenho litúrgico

Observem que Jesus poderia ter escolhido várias formas para uma entrada triunfal na cidade, após um período de seis dias de meditação no Monte das Oliveiras. Ele preferiu a mais humilde, e talvez não fosse intencional chamar atenção da multidão; no entanto, ocorreu que seus seguidores e admiradores estendiam suas próprias vestes pelo caminho, enquanto outros cortavam ramos de árvores para lhe oferecer em tapete ou agitando para anunciar o advento do Mestre. Foi uma coreografia por certo não idealizada, apenas improvisada, para preceder as palavras de fé e esperança entoada pela multidão: “Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas alturas!”

Porém, o que nos deixa estupefatos, ou profundamente decepcionados, é que, uma semana após essa euforia, esse mesmo povo que o aclamou também o condenou... Será que foram essas mesmas pessoas que estavam na Assembleia do Sinédrio? Pertenciam a mesma casta social? Duvido.

Fazendo um exercício de lógica, podemos absorver dos relatos dos evangelhos sinóticos que havia razões apenas políticas para incriminá-lo, usando de argumentação leviana e mentirosa. Isso está explicitado no evangelho de Lucas (Lc 23: 1,2): “Então toda a assembleia levantou-se e o levou a Pilatos. E começaram a acusá-lo dizendo: ‘Encontramos este homem subvertendo a nossa nação. Ele proíbe o pagamento de impostos a César e se declara ele o próprio Cristo, um Rei’. Era uma falácia, pois Jesus, em um dos momentos em que foi induzido a cair numa cilada dos inimigos, falou sabiamente: “Dai, pois, a Cesar o que é de Cesar, e a Deus o que é de Deus” (Mateus 22:21).  

Obviamente, não poderia estar presente naquele julgamento sumário a população pobre e carente, pessoas desassistidas que foram acalmadas espiritualmente com as diversas manifestações divinas de Jesus: as curas e os milagres realizados e testemunhados ao longo do seu ministério. Estavam ali os sacerdotes, os mestres da lei e outros, em conluio com setores da elite judaica, alinhados com o governo de Roma. Como não havia registro escrito desse julgamento, tudo passou para a posteridade pela oralidade.

Jesus já vinha sendo monitorado há algum tempo por lacaios do império romano, e estes identificaram nele uma liderança popular capaz de concorrer com as autoridades de Roma; alguém que surgiu para libertar um povo oprimido, um enviado de Deus, capaz de mobilizar as forças divinas para se livrar da dominação estrangeira que oprimia o povo judeu naquela época. Por isso, consideravam-no um revolucionário e era necessário retirá-lo do convívio com a sociedade e condená-lo à morte. 

Jesus tinha consciência da sua missão final que ali se iniciava, e poderia evitar a situação cruel, mas para concretizar o projeto do Reino de Deus não deveria se opor, pelo contrário, faria a vontade do Pai. E o que se sabe é que Jesus não precisou rebater a violência com violência; nem mesmo condenou Judas, deixou que sua própria consciência o condenasse. Esperou que tudo se consumasse como um propósito divino.

A lei injusta e parcial usada para a manutenção do poder romano — que condenou um homem justo e maltratou sua dignidade — não foi capaz de evitar a vitória de uma crença, o surgimento de uma religião fervorosa, que tem como símbolo máximo a Cruz de Cristo.

Esperamos que o calvário e a crucificação de Jesus, paradoxalmente, consigam amenizar nossas dores; nos fortaleçam cada vez mais, para ajudarmos nossos irmãos que precisam de apoio ou socorro espiritual; ao mesmo tempo em que precisamos nos encaminhar para uma Boa Páscoa e para a ressurreição, que exige de nós um renascer a cada dia.

Além disso, precisamos nos abastecer da fé e da esperança, e nos convencer de que a morte foi vencida pelo Senhor da Vida!

          

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