CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

quinta-feira, abril 13, 2023

DESASTRES AMAZÔNICOS

 Ano passado, nesta data, a Marinha do Brasil resgatou seis pessoas em uma ilha no arquipélago do Marajó, na qual ficaram insuladas por 17 dias, apesar de todas possuírem aparelho celular. Aproveitei o fato para ilustrar o epílogo que escrevi para meu livro sobre o Desastre do PP-PDE (em formatação), ocorrido há sessenta anos. Relatei dois casos, porém, relembro este pela data.

Eis o texto:

Após revelar tantas ferocidades, ao findar esta retrospectiva desejo relembrar que a indigência de Manaus de antanho contribuiu enormemente para expandir os efeitos do desastre do PP-PDE. Seja pela ineficiência de comunicação com a aeronave a partir de um simulacro de aeroporto; seja quanto à recuperação dos mortos, pois poucos foram os corpos que puderam ser sepultados, e nenhum pode ser visto pelos familiares, tal a degradação geral. Famílias e famílias receberam apenas aquele caixão como um símbolo, pois nada havia no seu interior que pudesse ser apreciado, reverenciado.

Por-do-sol amazônico

Igualmente pode-se argumentar que esse abalo aconteceu na Amazônia de ontem, há sessenta anos, devido sua dimensão em todos os sentidos. No entanto, dois casos recentíssimos ocorreram para provar como seguimos desassistidos. O padre-cronista L. Ruas lá atrás, quando do Constellation, já sentenciava:

É isto que nos causa pasmo. Manaus, plantada no coração da estupidez desta selva amazônica, imensa e impenetrável, centro geográfico de uma enorme região permanentemente cortada por aviões que a cruzam de norte a sul, de leste a oeste, continua, no entanto, completamente desprovida de todo equipamento de salvamento para eventualidades como esta que, embora, não desejemos jamais tornem a acontecer, sabemos, porém, que podem acontecer.”

 


Agora ao acontecimento referido em 2022:

Em 24 de março, o barco regional “Bom Jesus” deixou Santarém (PA) com destino ao município de Chaves (PA) na ilha do Marajó, com apenas a tripulação de 6 pessoas (5 homens). Resolvido o que tinha que resolver, o barco navegou para a localidade de Nazaré, ainda no arquipélago marajoara. No dia 28, o “Bom Jesus” sofreu um incêndio, restando aos tripulantes se refugiar em uma ilha. Com pouca comida, sem água potável, mas todos com seu celular que em nada auxiliou, pois no local não há sinal de telefonia. E, pior, a ilha encontra-se fora da rota de navegação.

Diante desse quadro, restou aos náufragos se alimentar como plausível, recolher a água da chuva para uso, enviar sinais de fumaça e esperar... O tempo foi passando e nada de socorro, porém. Decidiram, então, recorrer ao medieval pedido de SOS marítimo, que consistia em colocar o pedido em uma garrafa e soltá-la ao mar. Nossos cabocos anexaram um adjutório, amarraram a garrafa em uma boia individual colorida.

O resultado foi positivo: um pescador encontrou o arranjo e informou à Marinha; esta, no dia 13 de abril, resgatou os confinados, que haviam passado 17 dias na ilha das Flechas.

Ainda que não seja a ilha das Flechas, parte
do Marajó

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