Ano passado, nesta data, a Marinha do Brasil resgatou seis pessoas em uma ilha no arquipélago do Marajó, na qual ficaram insuladas por 17 dias, apesar de todas possuírem aparelho celular. Aproveitei o fato para ilustrar o epílogo que escrevi para meu livro sobre o Desastre do PP-PDE (em formatação), ocorrido há sessenta anos. Relatei dois casos, porém, relembro este pela data.
Eis o texto:
Após revelar tantas
ferocidades, ao findar esta retrospectiva desejo relembrar que a indigência de
Manaus de antanho contribuiu enormemente para expandir os efeitos do desastre
do PP-PDE. Seja pela ineficiência de comunicação com a aeronave a partir de um
simulacro de aeroporto; seja quanto à recuperação dos mortos, pois poucos foram
os corpos que puderam ser sepultados, e nenhum pode ser visto pelos familiares,
tal a degradação geral. Famílias e famílias receberam apenas aquele caixão como
um símbolo, pois nada havia no seu interior que pudesse ser apreciado,
reverenciado.Por-do-sol amazônico
Igualmente
pode-se argumentar que esse abalo aconteceu na Amazônia de ontem, há sessenta
anos, devido sua dimensão em todos os sentidos. No entanto, dois casos
recentíssimos ocorreram para provar como seguimos desassistidos. O padre-cronista
L. Ruas lá atrás, quando do Constellation, já sentenciava:
“É isto
que nos causa pasmo. Manaus, plantada no coração da estupidez desta selva
amazônica, imensa e impenetrável, centro geográfico de uma enorme região
permanentemente cortada por aviões que a cruzam de norte a sul, de leste a
oeste, continua, no entanto, completamente desprovida de todo equipamento de
salvamento para eventualidades como esta que, embora, não desejemos jamais
tornem a acontecer, sabemos, porém, que podem acontecer.”
Agora ao acontecimento
referido em 2022:
Em 24 de março,
o barco regional “Bom Jesus” deixou Santarém (PA) com destino ao município de
Chaves (PA) na ilha do Marajó, com apenas a tripulação de 6 pessoas (5 homens).
Resolvido o que tinha que resolver, o barco navegou para a localidade de
Nazaré, ainda no arquipélago marajoara. No dia 28, o “Bom Jesus” sofreu um
incêndio, restando aos tripulantes se refugiar em uma ilha. Com pouca comida,
sem água potável, mas todos com seu celular que em nada auxiliou, pois no local
não há sinal de telefonia. E, pior, a ilha encontra-se fora da rota de
navegação.
Diante desse quadro,
restou aos náufragos se alimentar como plausível, recolher a água da chuva para
uso, enviar sinais de fumaça e esperar... O tempo foi passando e nada de socorro,
porém. Decidiram, então, recorrer ao medieval pedido de SOS marítimo, que
consistia em colocar o pedido em uma garrafa e soltá-la ao mar. Nossos cabocos
anexaram um adjutório, amarraram a garrafa em uma boia individual colorida.
O resultado foi positivo:
um pescador encontrou o arranjo e informou à Marinha; esta, no dia 13 de
abril, resgatou os confinados, que haviam passado 17 dias na ilha das
Flechas.Ainda que não seja a ilha das Flechas, parte
do Marajó
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