Coronel Lucy Coutinho em reunião no Auditório da PMAM, A Crítica, 21 dezembro 1974 |
No finalzinho de 1974, a Polícia Militar do
Amazonas (PMAM) foi encarregada de uma atividade inusitada: coordenar a Operação Rebraca.
Tratava-se da Repatriação de Brasileiros de Caiena. Após entendimentos
diplomáticos, o governo brasileiro aceitou
retirar seus nacionais da vizinha Guiana Francesa, cuja capital é Caiena,
na fronteira com o então Território Federal do Amapá.
Não obstante ter a maioria dos brasileiros saído do
Amapá, estes foram distribuídos pelas capitais do Pará e Amazonas, além do
município de Santarém (PA). Já não recordo, e o jornal consultado apesar da
longa matéria, não especifica a motivação da retirada dos brasileiros.
Certamente entraram pela longa fronteira e passaram a executar atividade
ilegais. Suponho. Isso levou à disputa entre guianenses e brasileiros,
levando-os ao desfecho físico e ataques com mortes.
O transporte deste pessoal foi realizado pela
Marinha do Brasil, que utilizou o navio Barroso
Pereira, sob o comando do CMG Robério Cardoso Brochado, bastante conhecedor
de Manaus, pois tem realizados constantes viagens transportando mercadorias
para órgãos do Governo do Estado e das Forças Armadas.
Sobre o pessoal, pouco ficou registrado, em
especial o número de famílias e nomes. Unicamente o informativo assinala que
chegaram a Manaus seiscentos e vinte brasileiros. No entanto, foram bem
recepcionados, além dos membros da coordenação local do Rebraca, à frente o
coronel Lucy Coutinho, da PMAM, grande número do povo, certamente parentes e
amigos dos retirantes.
A Marinha dispôs efetivo do corpo médico para o
atendimento na viagem. Curiosidade: entre as muitas senhoras repatriadas,
apenas uma se encontrava gestante. Os demais repatriados pediram à senhora que
quando do nascimento da criança, caso fosse menina, receba o nome de Rebraca. A futura
mãe deu resposta positiva. Todavia, 44 anos depois, como saber se a
promessa foi cumprida?
Desembarcados, os repatriados foram transportados
por ônibus da saudosa empresa SOLTUR, para os locais residenciais. O prazo de permanência
no local estava marcado para trinta dias. A acomodação destes restou assim
especificada: as famílias, nos conjuntos residenciais Jardim Paulista e Jardim
Brasil. Os jovens solteiros, no Quartel do 1º BPM, e as solteiras, no Instituto
Benjamin Constant.
Servia eu no 1º BPM, que recebeu alguns solteiros,
que foram rapidamente empregados e deixaram o quartel. Lembro-me de um jovem que
passou a trabalhar no Armazém Reembolsável da PM, e que restou alcunhado de...
Rebraca. Desconheço se alguma família ocupou o Jardim Paulista (bairro do
Aleixo). Sei, contudo, que o conjunto residencial Jardim Brasil, situado na
avenida Silves, estava prestes a ser entregue aos compradores. No entanto, as
famílias chegadas foram as sortudas ao estrear os apartamentos, deixando em má reputação
este conjunto.
Como tudo isso terminou? Com a inclusão de algumas famílias
na cidade; outros empreenderam o retorno para suas cidades de nascimento;
outros – quem sabe? – retornaram à Caiena. A palavra “rebraca” foi empregada
por largo tempo com sentido pejorativo e discriminatório. E a PMAM retornou às
suas atividades corriqueiras.
Amanhã, a PMAM completa 181 anos de presença no Amazonas.
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