CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

domingo, abril 15, 2018

MURUAMA CLUBE DE CAMPO

Recorte da citada edição
As águas do igarapé do Mindu que abasteciam a piscina do Parque Dez, antes de alcançarem aquele balneário, serviam outros balneários e clubes particulares. Instalados à margem da Estrada do V-8, hoje avenida Efigênio Sales,  atendiam a uma seleta presença.
Vou compartilhar a movimentação de um desses clubes, o Muruama, cuja localização precisa hoje é dificultada pela urbanização da área. A reportagem foi escrita pelo saudoso jornalista Ulisses Azevedo e com fotos de Antonio Menezes e Luís Vasconcelos e encartada em A Crítica, edição de 18 maio 1975. 

Projeto da sede social, que desconheço se construída

Muruama
Reunião de Amigos, na literatura cabocla — é o refúgio benéfico de um grupo de homens, que agora parte para a concretização do seu sonho: a construção da sede social, projeto do engenheiro Carlos Falcone, sócio do clube.
Alguém disse a alguém, haver lido alguma coisa em alguma revista, sobre o significado da palavra MURUAMA. Queria dizer “reunião de amigos”. E aqueles 21 amigos que estavam procurando um nome para um clube que desejavam fundar, o adotaram. Depois um terceiro alguém veio dizer que o nome tinha outro significado. Não interessava mais. O nome era bonito, o clube estava fundado e os amigos com um local aprazível para reunirem. Esta é a origem do MURUAMA CLUBE DE CAMPO. Vamos aos efeitos.

Fundadores
Fundar um clube não é tarefa fácil. Precisa motivação e sócios. Existiam as duas coisas. Para quem frequentava a [avenida]Getúlio Vargas, era aluno do Colégio Estadual do Amazonas, sentava naqueles bancos em frente ao Politeama, e aos domingos buscava um balneário para uma gostosa “pelada”, ter um clube para si e seus amigos era o maior sarro.
O Dr. Almeron Caminha tinha um terreno lá na Estrada do V-8, cortado pelo igarapé do Mindu. Eles compraram um lote. E no dia 29 de junho de 1958 era fundado o Muruama Clube de Campo. Na mesma data em que o Brasil, lá na Suécia, conquistava o seu primeiro campeonato mundial de Futebol.

Os 10 que ficaram
No Muruama só existem sócios-fundadores. Dos 21 fundadores ainda restam 10. Os outros deixaram o clube por motivos diversos.
O presidente é o Flávio Figliuolo e na vice o Fernando Andrade; o Silvio Figliuolo é o secretário. Como não poderia deixar de ser o tesoureiro chama-se José Naice Filho. Diretor social: Manuel Garcia Marques, o Maneca. O Mauricio Andrade toma conta do bar. Os outros sócios, que não figuram na diretoria: Cláudio Figliuolo, Carlos Falcone, Sebastião Maia da Silva e Carlos Alberto Hoagem.

Os convidados
Edição referida
Quem não é sócio fundador e frequenta o Muruama é chamado de “convidado”. E tem até “convidado permanente”, com direitos adquiridos e permissão para reclamar, conta corrente no bar e outras “vantagens”. Por isso e por causa disso, ali são encontrados aos sábados, domingos e quintas-feiras, quase sempre acompanhados da família, os amigos Caubi Peixoto Filho, D'Sica, Miguel Martinho, Manuel Lapa, João Wanderley, José de Andrade Azedo, Manuel Trindade, Agostinho Freitas, Dalmy Jones, Cirilo Neves e outros bacanas.

Muruama
Quem passa na Estrada do V-8, agora asfaltada e muito bem transitada, e até com nome de ex-governador do Amazonas (Efigênio de Salles, por sinal o único a governar o Amazonas com o título de Presidente) vê o Muruama. Se tiver vontade, pode entrar que será sempre bem recebido.
A poluição ainda não chegou por lá. A agua é corrente, a piscina está no próprio leito do igarapé do Mindu. Três pontes ligam as margens do balneário. Naturalmente a de cima, a do meio e a de baixo. Uma, de alvenaria, serve apenas como decoração. E como o direito de reclamar é permitido no Muruama, aqui vai uma sugestão: derrubem aquela ponte, não tem serventia, a única coisa feia em toda uma paisagem maravilhosa, onde até o barracão em que o Mauricio tem o bar, alegra o ambiente. Menos a ponte de cima, de concreto, que ninguém usa, preferindo as duas outras, de madeira, mais atraentes e acolhedoras, na simplicidade que bem caracteriza o Muruama e seus frequentadores. As barraquinhas espalhadas nas proximidades da piscina...
Crianças tomando banho, jovens curtindo um sol, senhoras num papo legal, e muito marmanjo aproveitando para “umas e outras”, com tira-gosto ou sem ele, da “loura suada” à batida de limão. Jogo de vôlei, futebol dos grandes aos sábados, peixadas nas noites de quinta-feira. E o dominó para todas as idades.
Entre “umas e outras” as conversas são as mais variadas. Da política internacional ao futebol passado O Agostinho pode contar estórias de quando morou nos Estados Unidos; o Carlito Neves fala das maravilhas do Frigomasa; o Flavio, também chamado de “cardeal”, passeia na sua importância de presidente;
Naice, pelo chargista
Miranda - A Crítica, 21.12.74
o Naice não fala nem presta atenção, atenção, vai pra lá de marmita e quando não está comendo, está bebendo; o Maneca, apelidado de “diretor social”, fica transando de uma margem para a outra; o bom turquinho Miguel vai para tomar banho mesmo, não sai da piscina.
Lá no bar o velho Rabito conta estórias do futebol do passado, de quando ele foi campeão pela União Esportiva em 35 e 36. Diz ele que jogador daquela época era mais ligeiro que os de agora. Ele, Rabito, batia um corner e corria com tal velocidade que podia cabecear e fazer o gol. E todos acreditam... Porque amigo é pra essas coisas.

Coisas do futebol
O Muruama tem disciplina. Nas noites de quinta-feira a peixada, com obrigação do sujeito levar a família; aos domingos o futebol é para a garotada, o vôlei para os adultos e a piscina para todos.
Futebol dos grandes no sábado à tarde, depois das quatro e meia. Apenas dois times, permanentes, jogando todos os sábados. SITUAÇÃO e OPOSIÇÃO, tendo o Naice como árbitro geral, para qualquer decisão fora do campo.
A Situação é o time pelo qual o presidente torce; a Oposição é o outro. Quem chega ao Muruama, pela primeira vez, é obrigado a escolher um dos dois times para torcer. E não pode mudar, pois “vira-casaca” não é permitido. Torceu uma vez, torce a vida inteira.

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