Folha de rosto do livro |
AGNELLO
BITTENCOURT,
HISTORIADOR
AMAZONENSE E AMAZÔNICO
Professor
Haroldo Valladão (para o Jornal Cultura)
O professor Agnello Bittencourt, nascido em Manaus
a 14 de dezembro de 1876 e falecido aqui no Rio em 19 de julho de 1975, pouco
antes de completar 99 anos de idade, era nosso sócio honorário desde 31 de
agosto de 1948.
E possuía, para sê-lo, todos os títulos, pois foi
notável cultor em pesquisas e exposições, amplas e permanentes, até dois anos
atrás, da geografia e da história do seu Estado, do Amazonas.
Inicialmente professor primário e, depois,
professor titular por concurso público, obtendo o primeiro lugar da cadeira de
Geografia Geral e Corografia do Brasil, do Ginásio Amazonense D. Pedro II
(depois Colégio Estadual do Amazonas desde 14 de dezembro de 1905),
aposentou-se, pela compulsória em 1946, com cinquenta e dois anos de
magistério, totalmente dedicados à sua especialidade.
Exerceu, ainda, a cátedra de Geografia Comercial e
História das Indústrias do Comércio, da Escola de Comércio “Solon de Lucena”,
municipal, de 1912 a 1946.
Produziu, continuamente, livros, artigos muitíssimos,
memórias, conferências, teses, em Congressos de História e de Geografia, numa
identificação total, insuperada, com o espaço, o tempo e a gente do seu berço.
Representou o Estado nos 6º, Belo Horizonte, 1919;
8º, Vitória, 1922; 10°, Rio de Janeiro, 1944; Congressos de Geografia, no
último recebendo homenagem pelo seu trabalho "Perfil do Homem da Amazônia".
Seria, assim, sócio correspondente e depois honorário, 1950, da Sociedade
Brasileira de Geografia.
Um dos fundadores, depois Secretário Perpétuo,
afinal presidente várias vezes e, afinal, Benemérito, do Instituto Geográfico e
Histórico do Amazonas, e, ainda, fundador do famoso Museu do Instituto. Também
sócio honorário do Instituto do Ceará e correspondente do Instituto Histórico e
Geográfico do Pará, do Instituto Histórico da Bahia, do Instituto Geográfico e
Etnográfico de Alagoas.
Edição comemorativa |
A sua bibliografia é admirável pela largueza e
profundidade dos temas geográficos e históricos versados, desde obras
clássicas, qual a Corografia do Estado do
Amazonas (Manaus, 1925), até monografias e trabalhos avulsos, como A Abolição da Escravatura no Amazonas, 1917;
O Regime das Águas no Amazonas, 1920;
Bacias do Purus e do Madeira, 1926; Cinquentenário do Teatro Amazonas, 1946;
Rio Negro, povoamento e fixação demográfica
em o Estado do Amazonas, 1948; Manaus,
sua Origem e Desenvolvimento, 1948; Notas
Hidrográficas sobre Navegação no Rio Amazonas, 1949; Esboço para um Perfil da Amazônia, 1950; Aspectos da Pesca na Amazônia, 1950; Bacia Amazônica — Vias de Comunicação e Meios de Transporte, 1957; Navegação do Amazonas e Portos da Amazônia,
1959; Mosaicos do Amazonas e Plantas e
Animais Reminiscência do Ayapuá (Ensaio de uma sociologia rural), 1966; Bizarros do Amazonas, 1966.
Destaque-se o importante trabalho, Divisão Administrativa e Judiciária do
Estado do Amazonas, 1944/48, de fixação de limites municipais e distritais,
cada município com um quadro discriminativo, que deveria servir de modelo para
os nossos outros Estados.
Mas essa sua bibliografia, da qual referi apenas
alguns elementos, é autenticamente amazônica, vasta e infindável, na
substância, no espaço e no tempo. Abrange tudo, em todo aquele território
liquido da pátria, ontem, hoje e amanhã.
Veja-se que a bibliografia do nosso maravilhoso
confrade ultrapassou, realmente, o tempo...
Em 1969, com noventa e três anos, nos dá duas obras
magnificas: Fundação de Manaus: Pródromos
e Sequências, ilustrada, e o Homem
Amazonense e o Espaço, e em 1973, com noventa e sete anos, publica esse excelente
Dicionário Amazonense de Biografias, que
se abre com o dito ciceroniano: “Gratius debet esse, qui accepti beneficiorum”,
e o oferecimento à “colendas entidades”, que tanto honrou, em primeiro lugar
colocando este Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
Se, como temos dito, o segredo da independência e
da profundidade é a limitação, Agnello Bittencourt realizou o milagre de ser
limitado e profundo no ilimitado, no estudo da nossa Amazônia.
Não concluiremos o seu panegírico sem citar a sua
grandiosa mensagem, contida no livro de 1969, O Homem Amazonense e o Espaço: “A Amazônia Brasileira, para viver e
progredir não precisa e não aceita internacionalizações em suas terras.
Dispensa o Oceano. O Rio Amazonas é um símbolo. Sua correnteza, sacudindo o
Atlântico a 300 milhas do seu estuário, quer dizer alguma coisa”.
Glorificamos esse grande brasileiro, esse insigne
amazonense e amazônico, “par droit de naissence et par droit de conquête”, que
tanto honrou a nossa cultura geográfica e histórica.
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