Dom João da Matta |
O saudoso paroquiano Moacir Andrade,
artista plástico de reconhecido valor internacional, celebrando o cinquentenário, contou os primeiros momentos dessa
epopeia, em texto circulado em A Crítica (16 julho 1993).
Paróquia Nossa Senhora Aparecida dos Tocos –
50 anos de catequese
Era 1943, a segunda Grande Guerra que se
instalou na Europa estava no auge de sua sangrenta escalada. As notícias que
chegavam em Manaus através de "O Jornal" e "Diário da
Tarde" eram mais dramáticas e estarrecedoras possíveis. Muitos navios
mercantes brasileiros cheios de gente e carga preciosa, eram postos a pique em
plena costa brasileira pelos submarinos alemães, entre eles, o "Baependi",
da frota do Lóide Brasileiro, que levava para o Sul do País centenas de
cidadãos amazonenses.
Nessa época, havia em Manaus muitos soldados
americanos que vinham nos célebres aviões anfíbios "Catalina" buscar
borracha para os Estados Unidos, cumprindo o pacto de esforço de Guerra, com
seus escritórios da RDC instalados no Teatro Amazonas.
Encarapitados nuns jipes pintados de cor verde
garrafa, mastigando chicletes, vestidos com camisas de cores berrantes. Ninguém
podia viajar nos bondes sem gravata e paletó, só era permitido fazê-lo, quando
sentado ou em pé no último banco que ficava na traseira do veículo. Quando os
soldados americanos chegaram aqui, invadiram Manaus com a moda das
"camisas americanas". Enchiam os bancos dos bondes vestidos dessa
maneira, determinando o fim da proibição aos amazonenses de viajar em mangas de
camisa.
Nesse mesmo mês, a cidade recebeu uma porção de
padres vestidos de branco, com um rosário enrolado à cintura com um grande crucifixo
de madeira. Ficaram hospedados à rua 10 de Julho, ao lado da igreja, na
residência dos padres Capuchinhos. Com as presenças desses missionários
brancos, altos, de olhos azuis e gestos simpáticos, falando com dificuldade o
português, as missas redobraram de presenças dos paroquianos, principalmente de
mulheres jovens que queriam ver de perto os padres de batinas brancas. Depois
vieram a saber que eram da irmandade dos padres Redentoristas dos Estados
Unidos que vinham em missão religiosa, trazidos pela visão extraordinária do bispo
Dom João da Mata Andrade e Amaral. Escolheram o bairro dos Tocos para instalarem
a sua paróquia em Manaus.
O bispo Dom João da Mata — grande amigo meu, me
foi apresentado pela minha madrinha Clotildes Pinheiro, numa missa das dez [horas]
na Matriz de Nossa Senhora da Conceição, ocasião em que conheci o padre André
Joerge, no dia 23 de junho de 1943 [mais correto, 23 julho].
Depois de algum tempo em Manaus, com a família
Miranda Corrêa, uma das primeiras a somarem esforços para a instalação da
paróquia, fizeram doação de um antigo prédio de residência na rua Comendador
Alexandre Amorim, onde foi rezada a primeira missa e onde foi instalada
provisoriamente a primeira igreja de Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Daí
a mudança do nome de Tocos para Aparecida dos Tocos.
Depois do padre André, muitos outros vieram para
Manaus e municípios do interior do Estado.
No bairro dos Tocos que antes tivera muitos no mês,
alguns padres da Missão Redentorista dos Estados Unidos, trabalharam com o
objetivo fundamental de instalar sua sede paroquial.
Pelo fato de ser uma comunidade muito antiga, o
bairro dos Tocos era muito difícil de mudar seus hábitos e costumes, com
famílias cheias de tradições.
Que vinham fazer aqui, aqueles padres
estrangeiros, vestidos de branco com imenso crucifixo pendurado na ilharga,
naquele bairro pacato e completamente esquecido de todo mundo? Seriam espiões?
Qual a sua verdadeira missão?
A primeira capela em honra de Nossa Senhora
Aparecida que deu o nome ao bairro, nasceu naquele chalé, nas duas salas de
frente. Finalmente, no histórico dia 30 de janeiro de 1944, foi fundada solene
e oficialmente com uma missa rezada pelo então bispo de Manaus, Dom João da
Mata Andrade e Amaral, padres André Joerge, João Mc Cormick, Frederico Stratman;
Normando Muckermann, Bernardo Van Koomissen, irmão leigo Stanislau Dunn e padre
Eugênio Oates, além de uma verdadeira multidão que encheu o espaço em derredor
da igreja.
A partir daí os abnegados redentoristas com o objetivo
superior de executar seu programa de ação apostólica nessa região, iniciaram o
verdadeiro trabalho de catequese no bairro. Depois de muito lavor pioneiro,
vencendo inúmeras dificuldades, naturalmente com a ajuda de uma plêiade de
jovens abnegados e entusiastas do bairro, as famílias da paróquia foram
especialmente convidadas para assistirem ao memorável acontecimento espiritual.
Era 17 de outubro de 1944 o bairro finalmente ia
ganhar a sua igreja de Nossa Senhora da Conceição Aparecida dos Tocos, cuja
fundação naquela data solenemente marcada com uma missa especial, celebrada e
presidida por Dom João da Mata Andrade e Amaral, bispo diocesano de Manaus.
Graças ao esforço hercúleo, permanente e do desprendimento
dessa figura magnifica que foi o padre João Mc Cormick, primeiro vigário geral
da paróquia, que após um ano de luta contínua e ininterrupta, criou a secção masculina
do Apostolado da Oração que foi organizada, contando no início com reduzido
número de associados e depois, de tal maneira aumentada que se transformou no
que é hoje, depois de 50 anos de incessante trabalho apostólico.
Hoje, 50 anos passados daquele longínquo 1943, o bairro de Aparecida
dos Tocos, agradecido, rende homenagem aos padres pioneiros, muitos dos quais
já habitantes da grande luz, mas se fazendo presentes nos nossos corações pelo
muito que fizeram em defesa da nossa fé, por certo estão junto ao Cristo que
eles serviram com inteira fé cristã. Obrigado padres Redentoristas. Obrigado
pelas suas presenças entre nós nesse meio século.
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