CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

quinta-feira, fevereiro 01, 2018

REDENTORISTAS EM MANAUS: 75 ANOS

Dom João da Matta
Os padres redentoristas desembarcaram em Manaus há 75 anos, convidados por Dom João da Mata, então bispo do Amazonas. Aconteceu em plena Segunda Guerra, em julho de 1943, quando assumiram a paróquia de Nossa Senhora Aparecida.  
O saudoso paroquiano Moacir Andrade, artista plástico de reconhecido valor internacional, celebrando o cinquentenário, contou os primeiros momentos dessa epopeia, em texto circulado em A Crítica (16 julho 1993).


Paróquia Nossa Senhora Aparecida dos Tocos –
50 anos de catequese

Era 1943, a segunda Grande Guerra que se instalou na Europa estava no auge de sua sangrenta escalada. As notícias que chegavam em Manaus através de "O Jornal" e "Diário da Tarde" eram mais dramáticas e estarrecedoras possíveis. Muitos navios mercantes brasileiros cheios de gente e carga preciosa, eram postos a pique em plena costa brasileira pelos submarinos alemães, entre eles, o "Baependi", da frota do Lóide Brasileiro, que levava para o Sul do País centenas de cidadãos amazonenses.
Nessa época, havia em Manaus muitos soldados americanos que vinham nos célebres aviões anfíbios "Catalina" buscar borracha para os Estados Unidos, cumprindo o pacto de esforço de Guerra, com seus escritórios da RDC instalados no Teatro Amazonas.

Moacir Andrade, em foto de jornal, autor do texto
Encarapitados nuns jipes pintados de cor verde garrafa, mastigando chicletes, vestidos com camisas de cores berrantes. Ninguém podia viajar nos bondes sem gravata e paletó, só era permitido fazê-lo, quando sentado ou em pé no último banco que ficava na traseira do veículo. Quando os soldados americanos chegaram aqui, invadiram Manaus com a moda das "camisas americanas". Enchiam os bancos dos bondes vestidos dessa maneira, determinando o fim da proibição aos amazonenses de viajar em mangas de camisa.

Nesse mesmo mês, a cidade recebeu uma porção de padres vestidos de branco, com um rosário enrolado à cintura com um grande crucifixo de madeira. Ficaram hospedados à rua 10 de Julho, ao lado da igreja, na residência dos padres Capuchinhos. Com as presenças desses missionários brancos, altos, de olhos azuis e gestos simpáticos, falando com dificuldade o português, as missas redobraram de presenças dos paroquianos, principalmente de mulheres jovens que queriam ver de perto os padres de batinas brancas. Depois vieram a saber que eram da irmandade dos padres Redentoristas dos Estados Unidos que vinham em missão religiosa, trazidos pela visão extraordinária do bispo Dom João da Mata Andrade e Amaral. Escolheram o bairro dos Tocos para instalarem a sua paróquia em Manaus.

O bispo Dom João da Mata — grande amigo meu, me foi apresentado pela minha madrinha Clotildes Pinheiro, numa missa das dez [horas] na Matriz de Nossa Senhora da Conceição, ocasião em que conheci o padre André Joerge, no dia 23 de junho de 1943 [mais correto, 23 julho].
Depois de algum tempo em Manaus, com a família Miranda Corrêa, uma das primeiras a somarem esforços para a instalação da paróquia, fizeram doação de um antigo prédio de residência na rua Comendador Alexandre Amorim, onde foi rezada a primeira missa e onde foi instalada provisoriamente a primeira igreja de Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Daí a mudança do nome de Tocos para Aparecida dos Tocos.
Depois do padre André, muitos outros vieram para Manaus e municípios do interior do Estado.

No bairro dos Tocos que antes tivera muitos no mês, alguns padres da Missão Redentorista dos Estados Unidos, trabalharam com o objetivo fundamental de instalar sua sede paroquial.
Pelo fato de ser uma comunidade muito antiga, o bairro dos Tocos era muito difícil de mudar seus hábitos e costumes, com famílias cheias de tradições.
Que vinham fazer aqui, aqueles padres estrangeiros, vestidos de branco com imenso crucifixo pendurado na ilharga, naquele bairro pacato e completamente esquecido de todo mundo? Seriam espiões? Qual a sua verdadeira missão? 

A primeira capela em honra de Nossa Senhora Aparecida que deu o nome ao bairro, nasceu naquele chalé, nas duas salas de frente. Finalmente, no histórico dia 30 de janeiro de 1944, foi fundada solene e oficialmente com uma missa rezada pelo então bispo de Manaus, Dom João da Mata Andrade e Amaral, padres André Joerge, João Mc Cormick, Frederico Stratman; Normando Muckermann, Bernardo Van Koomissen, irmão leigo Stanislau Dunn e padre Eugênio Oates, além de uma verdadeira multidão que encheu o espaço em derredor da igreja.

As torres da igreja de Aparecida,
 hoje envolvida pelos edifícios
A partir daí os abnegados redentoristas com o objetivo superior de executar seu programa de ação apostólica nessa região, iniciaram o verdadeiro trabalho de catequese no bairro. Depois de muito lavor pioneiro, vencendo inúmeras dificuldades, naturalmente com a ajuda de uma plêiade de jovens abnegados e entusiastas do bairro, as famílias da paróquia foram especialmente convidadas para assistirem ao memorável acontecimento espiritual.

Era 17 de outubro de 1944 o bairro finalmente ia ganhar a sua igreja de Nossa Senhora da Conceição Aparecida dos Tocos, cuja fundação naquela data solenemente marcada com uma missa especial, celebrada e presidida por Dom João da Mata Andrade e Amaral, bispo diocesano de Manaus.
Graças ao esforço hercúleo, permanente e do desprendimento dessa figura magnifica que foi o padre João Mc Cormick, primeiro vigário geral da paróquia, que após um ano de luta contínua e ininterrupta, criou a secção masculina do Apostolado da Oração que foi organizada, contando no início com reduzido número de associados e depois, de tal maneira aumentada que se transformou no que é hoje, depois de 50 anos de incessante trabalho apostólico.

Hoje, 50 anos passados daquele longínquo 1943, o bairro de Aparecida dos Tocos, agradecido, rende homenagem aos padres pioneiros, muitos dos quais já habitantes da grande luz, mas se fazendo presentes nos nossos corações pelo muito que fizeram em defesa da nossa fé, por certo estão junto ao Cristo que eles serviram com inteira fé cristã. Obrigado padres Redentoristas. Obrigado pelas suas presenças entre nós nesse meio século.

Nenhum comentário:

Postar um comentário