A morte de Jorge Tufic prossegue, é compreensível, ressoando.
Desse modo, fui em busca de compreender sua importância para a literatura
regional, quando se resume sua participação apenas como o autor da letra do
Hino do
Amazonas. Longe disso, sei.
Jorge Tufic, 2011 |
Para chegar mais longe, recorri ao saudoso poeta Alencar
e Silva, que produziu uma consistente apreciação sobre o autor de Varanda de Pássaros (1956), e inúmeras obras
em prosa e verso.
Vale recordar, antes de transcrever Alencar, que a
Universidade ressurge em Manaus, no meado dos 1960. Que as agremiações
estudantis agregavam os jovens poetas e prosadores, cuja atividade desagua,
grosso modo, no Clube da Madrugada, estreado em 1954. E mais, que alguns clubistas
(Alencar e Tufic, entre esses) ali embarcaram com o afã de romper esses
grilhões.
Jorge Tufic viveu essa desconcertante estação da
vida manauara, em todos os aspectos. Seu amigo Alencar e Silva resumiu esse
estágio no capítulo intitulado “As Tendas do Caminho”, constante de seu Quadros da Moderna Poesia Amazonense. Manaus:
Valer, 2011.
“
Jorge Tufic trouxe, efetivamente, para o meio cultural em que foi
transplantado uma contribuição genuína de semente caída em terra fértil. Essa
lhe foi, por certo, a circunstância decisiva. Não houvesse uma espécie de
determinismo cósmico que, somado ao estado de ebulição e inquietação da
juventude, move as gerações contra as estratificações e a ordem estabelecida,
fazendo-as avançar sempre mais - é certo que esse estado de coisas se prolongaria
e, no caso, o poeta ficaria a ver navios... Mas, não.
No primeiro a passar ele embarcou. Como bom fenício. Como bom marinheiro.
Como descobridor de novas terras.
Foi assim também que, movido pela sede de desconhecido, ele empreendeu as
suas primeiras viagens de adulto — eis que, quando infante, já viajara pelo Acre
e rios da região e experimentara, de algum modo, o pânico e os dissabores de um
naufrágio em que a família perdera tudo.
Foi em 1951 e 1953 que se realizaram aquelas viagens — ou caravanas, como as denomináramos — em
que demandamos os brasis sulinos, no afã de superar as angustiosas
contingências locais, que a ausência de universidade superlativara,
encurralando a juventude entre a debandada e a aceitação pacífica de status quo.”
O poema abaixo, inserido no mesmo capítulo, ilustra
a análise de Alencar sobre Tufic.
POSSÍVEL SONETO
À DALVA
Dalva, o seu nome. O resto, uma
cidade
e nela o meu orgulho. Uma janela
e Dalva no ar de sonho que
flutuava
sobre tudo; um vapor, uma agonia!
Deu-se então, como às vezes
acontece,
o inevitável: mágoa?
Alumbramento?
Foram ver-me no quarto. E que
tristeza
havia que eu não via em meu
semblante?
(Que balões de mil cores pela
noite
pintados pela febre!) O doutor
veio
e disse: muito doente. Atrás do
vidro
a imagem redourada de uma lua
— igual a um forno — e nele o
fogo brando
como Dalva em meu peito, a
consumia.
(De Varanda
de Pássaros – 1956)
“E aqui se fecha o círculo iniciado a partir daquelas tendas que o poeta
vem erguendo pelos caminhos. E onde, enfileiradas ou suspensas no ar, esplendem
as preciosidades trazidas do reino”, remata
Alencar e Silva.
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