Mário Ypiranga, 1976 |
Em
1986, o lembrado professor Mário Ypiranga Monteiro publicou uma plaqueta
intitulada – Notas sobre a Imprensa
Oficial do Amazonas, que aqui reproduzo a segunda parte.
O prédio apropriado seria levantado na então rua Municipal
(atual avenida Sete de Setembro), no
lugar das casas contíguas ao conhecido Sá Mané. E o
primeiro diretor da Imprensa Oficial, foi o doutor Pedro Freire. Mais tarde, já
no governo Constantino Nery, o restante do terreno seria ocupado pelo magnífico
prédio da Biblioteca Pública.
Falar da Imprensa Oficial do Estado sem apelar para a sua
função dispensadora da cultura é não dizer nada, enquanto o seu mérito maior
não seria apenas editar diariamente o Diário Oficial e os documentos emergidos
do âmbito da administração pública. E o fez pelo menos em 58 anos de
consecutiva atividade. Mas não é só isto.
Diário Oficial, arquivo geral |
A Imprensa Oficial, criada a partir de uma consciente
noção de realidade social como órgão de divulgação maior do Estado,
para satisfazer a esse requisito teria que constituir na realidade uma fonte
geradora de economia, como o foi
realmente.
Para isso o governo dotou-a do equipamento gráfico mais
sofisticado que as fábricas europeias, alemãs, francesas e italianas produziam,
e também as americanas, enriquecendo o esforço de comunicação. Linotipos,
impressoras, máquinas de fabricar envelopes, daguerreotipia, equipamentos
completos de encadernação, sortimento variado de fontes e matrizes de cobre,
estanho e bronze, para resistir anos, realizar o que na época nenhuma casa
impressora de Manaus faria, em concorrência.
As obras gráficas saídas das oficinas da Imprensa Oficial
eram louvadas e não foram poucos os prêmios obtidos em exposições nacionais e
internacionais, com diplomas que antigamente eram exibidos ostensivamente pelas
paredes da sala da Diretoria.
Ao lado das oficinas de composição com suas mesas de
mármore para montagem, suas máquinas luzindo de novas e de bem cuidadas, havia
a oficina de encadernação bem aparelhada, capaz de competir com qualquer casa
no gênero do país, porque à testa das secções e das oficinas havia gente
competente, especializada. Da oficina de encadernação saíram todos os volumes
encadernados que se encontram no Arquivo Público e os que foram devorados no
lastimável incêndio da Biblioteca Pública.
A decadência da atividade gráfica da Imprensa Oficial
começa quando administradores sem escrúpulos ou sem força moral para coibir
abusos silenciam diante dos desmandos
da política oponente. A Imprensa Oficial alcançou em determinada época tal
estado de debilidade material que mandava compor as chapas do Diário Oficial em outras oficinas. À
altura de 1937-38 a situação era tão delicada que qualquer pessoa poderá sem
esforço averiguar a defasagem pelas páginas impressas do próprio órgão oficial.
Naquela altura a Imprensa Oficial teve dois diretores de
mérito: Mitrídates Alves de Lima Corrêa e o doutor José Luís de Araújo Neto,
todos dois poetas e ambos jornalistas e acadêmicos (ver Nota). Na administração deles o Estado reformou quase todo o
material gráfico, mas é de justiça salientar que também na administração do
escritor Raimundo Morais, anterior a daqueles outros, a Imprensa Oficial ainda
podia honrar-se de poder editar obras importantes,
como as do próprio autor de Na Planície
Amazônica, Cartas da floresta
etc. Por essa época é editado o volume de versos do poeta Raimundo Monteiro, livro
que originou a desavença entre Raimundo Morais e Péricles Moraes, que por coincidência não eram parentes,
tornando-se inimigos de sangue e fogo.
Centenas de obras, boas e más, foram feitas na
Imprensa Oficial, mas ainda perdura na lembrança dos
bibliómanos a edição monumental do Diário Oficial comemorativa do centenário da
Independência do Brasil, onde colaboraram quase todos os grandes nomes da intelectualidade
amazonense da época. Uma edição que recomendava o talento e a capacidade do
operariado público faminto. Porque estávamos na administração Rego Monteiro, em
1922, e o funcionário estadual e municipal passava fome e miséria.
Grandes nomes passaram pela Imprensa Oficial, em várias
épocas, tais como Alcides Bahia, José Chevalier Carneiro de Almeida, José Pais
de Azevedo, Washington Melo, Raul de Azevedo, Ferreira Sobrinho (o poeta do
jumento), Thaumaturgo Vaz, geralmente pessoas mais chegadas à cultura geral que simplesmente burocratas.
Houve naturalmente a separação, o desmembramento da
Imprensa Oficial da Biblioteca e Arquivo Público, quando as três
repartições, por medida de economia, foram agregadas numa só. Mas depois do
Estado Novo um golpe de política bem dado separou-as porque não havia
nenhuma justificativa que autorizasse a esdrúxula vinculação.
Aos
poucos foi a Imprensa Oficial recompondo-se da sua debilidade e o patrimônio
passou a ser enriquecido com a aquisição de novas impressoras e outras máquinas sofisticadas. Mas acreditamos, sem que
nisto haja nenhuma crítica, continuar mal instalada uma repartição que exigia
maiores espaços para uma maior capacidade de produção. Ano após ano, com o avanço da técnica gráfica, outras
máquinas serão exigidas, mais equipamentos e mais operários e almoxarifados,
depósitos, garagens etc., e as instalações ficarão exigindo sempre desafogo.
O
prédio, por sua vez, não possui condições de higiene e nem ventilação
suficiente, pois era antigo colégio particular
e residência. São
aspectos que precisam ser olhados com simpatia, apesar de que administrações passadas tentaram sem muita convicção
reformular o ambiente. Existem em Manaus prédios devolutos a espera de serem
ocupados depois de exigente adaptação. Quem escolheu aquele local para instalar
um organismo em progresso não teve a ideia de que um dia o patrimônio material
estaria exigindo espaço mais dilatado.
Notas:
José Luís de Araújo Neto foi eleito, mas não tomou posse
na Academia Amazonense de Letras.A atual sede da Imprensa Oficial encontra-se à rua Dr. Machado - Centro
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