Relógio Municipal, na década 1940 |
Referência da Praça da Matriz, o Relógio Municipal foi instalado no local em 1927.
Portanto, há mais de oito décadas marca os passos e disciplina a rotina dos
manauenses. Já deve ter perdido sua função primordial, a de marcar as horas,
diante de tantos recursos a nossa disposição. Mas, uma frase, como um dístico,
ornamenta o relógio. Poucos se dão conta de sua mensagem, até porque escrita em
latim.
Doutor
Antônio Loureiro, um austero estudioso de nossa história, de nossos costumes,
trouxe em seu último livro a exata tradução da frase e, mais que isso, o seu
significado. Significação que certamente continua a nos importunar, a cada minuto...
Vulnerant
omnes ultima necat (*)
Antônio Loureiro
No
velho relógio, que há mais de setenta anos marca as horas de Manaus, está
gravada essa frase insólita, escrita no mais puro latim, a língua falada, em
Roma, e que espalhou por toda a Europa, originando pela sua natural evolução,
as chamadas línguas neolatinas, entre as quais está a nossa.
Relógio Municipal, 1975 |
É uma
torre branca e rósea, a cor do arenito de Manaus, o mesmo das pedras que um dia
calçaram algumas das principais ruas da nossa cidade. Entre elas, a
prodigalidade da natureza equatorial, ajudada pela falta de trânsito de
veículos, fazia criar mato e capim, literalmente raspados pelas equipes de reco-recos
do meu avô, que também foi calceteiro, ambas as profissões desaparecidas.
O
reco-reco era um instrumento simples formado por um cabo de madeira, onde se
fixava um arco de metal, usado para raspar as frestas do calçamento, por onde o
capim brotara e crescera, produzindo este atrito um som característico, origem
do nome da ferramenta e da profissão.
A
torre quadrada do relógio tem ao todo quatro portas, no andar térreo,
geralmente ocupado por um relojoeiro, o responsável pelo funcionamento do
relógio de duas faces, que a encima e sobre o qual estão os sinos e as
campainhas das horas.
Este
relógio seria como tantos outros se não tivesse a magistral frase em latim, que
a maior parte das pessoas comuns de Manaus já não conhece o seu significado.
Ela
lembra a todos a curta duração das nossas vidas, medidas pelo tique-taque dos
antigos relógios mecânicos e hoje pelo pulsar silencioso de um cristal de
quartzo. Lembra-nos que, mais dias, menos dias, enfrentaremos um momento
crucial, para o qual nunca estaremos preparados, a nos perturbar pela sua
inevitabilidade, compensada pelo fato de não conhecermos a sua data exata. Daí
a humanidade lutar sempre pela Esperança de melhores dias, aqui ou depois da
morte. Essa é a sina de seres angustiados à procura da imortalidade.
A
frase gravada em volta do mostrador do relógio do começo da avenida Eduardo
Ribeiro, na bela língua dos césares, é – Vulnerant omnes ultima necat, traduzida em bom
português como: “Todas (horas) ferem, a última mata”, em uma
alusão ao fato da vida escoar inexoravelmente com o tempo, com as horas e de
nos aproximarmos da morte a cada minuto, a cada segundo.
(*)
Extraído de O Toque do Shofar: a Parúsia,
volume 3. Manaus: Imprensa Oficial, 2013.
Antônio
José Souto Loureiro é amazonense, médico, membro da Academia Amazonense de
Letras e presidente do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas, autor de
vários livros sobre a história do Amazonas. E mais, eminente membro da
Maçonaria amazonense.
Assistindo ao Jornalista, Alexandre Garcia, no Youtube, tomei conhecimento da Frase: "Todas ferem, a última mata." e, procurando saber, mais, aqui cheguei, prazerosamente, ao seu Blog. Agradeço a oportunidade, pra eu continuar aprendendo e me encantando. "Feicebuquei".
ResponderExcluirMuito inteligente
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