CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

sábado, junho 29, 2024

SANTOS DE JUNHO E DA FAMÍLIA (2)

 Conclusão da crônica NOVIDADE, de Renato Mendonça, iniciada na postagem anterior.

Renato Mendonça, em comemoração, 2006

No meu caso, quando eu tinha treze anos e frequentava um colégio interno no meu segundo ano de clausura, um fato ficou marcante. Fui castigado pelo vice-reitor do educandário, pois me julgou como cúmplice de uma mentira praticada por um colega de mesma faixa etária. Essa mentira envolveu um falso pedido de dinheiro emprestado. Naquela época a comunidade de alunos não perdoou, fez circular cartazes onde nos comparavam à instituição financeira “Moreira Sales”, que eu jamais tinha ouvido falar. Uma imensa galhofa que logo acabou, pois estávamos no fim do ano letivo. Só agora, quase sessenta anos depois, li que o Banco Moreira Sales — depois, antigo Unibanco, e atualmente Banco Itaú —, em comemoração ao centenário de fundação, contratara o show da Madonna, apresentado aqui no Rio de Janeiro em maio desse ano. Para mim, uma novidade temporal. (...)

Por exemplo, eu procuro ser um fingidor, se adubar a palavra com um conceito mais nobre: finjo que sou um escritor. Às vezes, ouso me transformar num carpinteiro ou num marceneiro; outras vezes, assumo a condição de um Técnico de Enfermagem ou de um Cuidador; e, por inúmeras vezes, um chef de cozinha. E quem não me conhece, pode até acreditar. O fingir também é uma novidade, um aprendizado, ou a primeira arte do ator da vida. Lembro-me, com carinho e um indisfarçável orgulho de pai, quando certa vez alguém perguntou ao meu filho, sobre uma atividade que eu me propus a fazer, mesmo sem o pleno domínio: “Você acha que ele sabe?!” O filho respondeu de forma categórica: “Sabe, sim. Se não sabe, ele inventa...”, naturalmente, ele quis dizer: meu pai inventa que sabe. Em outra ocasião, há bastante tempo, quando eu murmurava para mim mesmo e reclamava das rugas no meu pescoço, outro filho acrescentou um comentário com sutil ironia: “Já tá... já era, pai”. Apenas ri da maneira sucinta de ele me dizer que não adianta se preocupar com o exterior, o mais importante é a estrutura interior, tanto material quanto imaterial. E sempre rio, quando relembro essas abordagens, que paradoxalmente me fazem bem à alma.

É sempre oportuno citar outros ensinamentos do apóstolo Paulo, que foi martirizado, supostamente nesta data, no ano 67 da Era Cristã, junto com o outro apóstolo, São Pedro, e por conseguinte os cristãos os homenageiam neste dia de hoje: “Por isso, não desanimemos. Mesmo se o nosso homem exterior vai se arruinando, o nosso homem interior, pelo contrário, vai-se renovando a cada dia. Com efeito, o volume insignificante de uma tribulação momentânea acarreta para nós uma glória eterna e incomensurável. E isso acontece porque voltamos os nossos olhares para as coisas invisíveis e não para as coisas visíveis. Pois o que é visível é passageiro, mas o que é invisível é eterno.” (2Cor 4,16-18). Para finalizar, concluo que não há razão para lamentar o avanço da idade, pelo contrário, cada novo dia que conseguimos viver será sempre um regozijo, um júbilo, uma canção de glória — uma dádiva divina!

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