Conclusão da crônica NOVIDADE, de Renato Mendonça, iniciada na postagem anterior.
No meu caso, quando eu tinha
treze anos e frequentava um colégio interno no meu segundo ano de clausura, um
fato ficou marcante. Fui castigado pelo vice-reitor do educandário, pois me
julgou como cúmplice de uma mentira praticada por um colega de mesma faixa
etária. Essa mentira envolveu um falso pedido de dinheiro emprestado. Naquela
época a comunidade de alunos não perdoou, fez circular cartazes onde nos comparavam
à instituição financeira “Moreira Sales”, que eu jamais tinha ouvido falar. Uma
imensa galhofa que logo acabou, pois estávamos no fim do ano letivo. Só agora,
quase sessenta anos depois, li que o Banco Moreira Sales — depois, antigo
Unibanco, e atualmente Banco Itaú —, em comemoração ao centenário de fundação,
contratara o show da Madonna, apresentado aqui no Rio de Janeiro em maio desse
ano. Para mim, uma novidade temporal. (...)
Por exemplo, eu procuro ser
um fingidor, se adubar a palavra com um conceito mais nobre: finjo que sou um
escritor. Às vezes, ouso me transformar num carpinteiro ou num marceneiro;
outras vezes, assumo a condição de um Técnico de Enfermagem ou de um Cuidador;
e, por inúmeras vezes, um chef de cozinha. E quem não me conhece, pode até
acreditar. O fingir também é uma novidade, um aprendizado, ou a primeira arte
do ator da vida. Lembro-me, com carinho e um indisfarçável orgulho de pai,
quando certa vez alguém perguntou ao meu filho, sobre uma atividade que eu me propus
a fazer, mesmo sem o pleno domínio: “Você acha que ele sabe?!” O filho
respondeu de forma categórica: “Sabe, sim. Se não sabe, ele inventa...”,
naturalmente, ele quis dizer: meu pai inventa que sabe. Em outra ocasião, há
bastante tempo, quando eu murmurava para mim mesmo e reclamava das rugas no meu
pescoço, outro filho acrescentou um comentário com sutil ironia: “Já tá... já
era, pai”. Apenas ri da maneira sucinta de ele me dizer que não adianta se
preocupar com o exterior, o mais importante é a estrutura interior, tanto
material quanto imaterial. E sempre rio, quando relembro essas abordagens, que
paradoxalmente me fazem bem à alma.
É sempre oportuno citar
outros ensinamentos do apóstolo Paulo, que foi martirizado, supostamente nesta
data, no ano 67 da Era Cristã, junto com o outro apóstolo, São Pedro, e por
conseguinte os cristãos os homenageiam neste dia de hoje: “Por isso, não
desanimemos. Mesmo se o nosso homem exterior vai se arruinando, o nosso homem
interior, pelo contrário, vai-se renovando a cada dia. Com efeito, o volume
insignificante de uma tribulação momentânea acarreta para nós uma glória eterna
e incomensurável. E isso acontece porque voltamos os nossos olhares para as
coisas invisíveis e não para as coisas visíveis. Pois o que é visível é
passageiro, mas o que é invisível é eterno.” (2Cor 4,16-18). Para finalizar,
concluo que não há razão para lamentar o avanço da idade, pelo contrário, cada
novo dia que conseguimos viver será sempre um regozijo, um júbilo, uma canção
de glória — uma dádiva divina!
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