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quarta-feira, junho 19, 2024

CHRISTUS, RÁDIO RIO MAR E CLUBE DA MADRUGADA: 70 ANOS


O lembrete me vem da crônica radiofônica - A Voz do Povo, escrita e lida pelo saudoso padre-poeta L. Ruas na Rádio Rio Mar. Aconteceu em 26 de novembro de 1979, no horário do meio-dia, quando esta emissora rivalizava, no horário, com a Difusora e A Crônica do Dia, de seu fundador Josué Claudio de Souza.

Recorte do original apresentado

O autor recorda os 25 anos de fundação destas três entidades: Instituto Christus, Rádio Rio Mar e, por fim, o Clube da Madrugada. Curiosamente, nos citados, L. Ruas esteve presente com categoria.

A VOZ DO POVO

HORÁRIO: 06,30 - 11,55

DIA: 26 NOVEMBRO 1979

PRODUTOR: L. Ruas

APRESENTADOR: L. Ruas

Senhoras e senhores ouvintes, bom dia.

Chegando ao início da última semana deste mês de novembro de 1979, um ano que tem se caracterizado por grandes mudanças políticas e por maiores dificuldades econômicas e financeiras, mas, ao mesmo tempo, por alvissareiras perspectivas culturais para o país, a partir do momento em que se iniciam a suspensão da censura prévia aos órgãos de imprensa, rádio e televisão, talvez seja conveniente lembrar três acontecimentos da maior importância para a vida cultural do nosso Estado e, em particular, para Manaus, ocorridos, exatamente, há vinte e cinco anos.

Corria o ano de 1954, que foi, também, um ano de profundas convulsões políticas no Brasil e que culminaram com a tragédia da morte de Getúlio Vargas. Os que precipitaram os acontecimentos que banharam de sangue - o sangue do Presidente - o Palácio do Catete e, por um processo de simbiose simbólica, todo o país, argumentavam que tudo aquilo era para salvar a honra da democracia. Então, era só a honra. Dez anos mais tarde seria necessário salvar a vida da própria. Tudo bem.

Em outubro daquele ano, ocorria o primeiro acontecimento que merece destaque: a fundação do Instituto Christus do Amazonas. Orígenes Martins voltava de Fortaleza, do Seminário da Prainha, da Juventude Universitária Católica e da Faculdade de Filosofia. Mas voltava, também, do Christus de Fortaleza que era o fruto de tudo isso como o seria também o Christus do Amazonas.O que é que queria aquele moço, aquele jovem professor de geografia, recém-casado, ao voltar à sua terra, abandonando as perspectivas que sempre são mais espaçosas em meios mais adiantados como era Fortaleza em relação a Manaus, uma cidade praticamente estagnada até então e que, apenas, começava, também no plano político, a sacudir as cinzas numa tentativa de ressurreição?

Orígenes queria mudar o processo educacional de Manaus. Queria trazer algo novo, algo que fosse capaz de sacudir o ramerrão do processo educativo aqui existente.

Muita coragem, muita ousadia, muita força de vontade, foi preciso. Não é à toa que se muda o que está estabelecido há séculos, principalmente, em meios tão simples e tão pequenos como era o de Manaus, há vinte e cinco anos que vivia às escuras - não é metáfora, não. Manaus vivia sem luz. E as aulas noturnas eram dadas à base de aladim. Agora parece que chegou a hora - agora, vinte e cinco anos depois - de um julgamento do trabalho pedagógico do Christus. Isto é oportuno. Mas que não se confundam juízes com apedrejadores. Ou melhor, que os linchadores profissionais não vistam a toga de juízes.

Em novembro de 1954, um outro fato também muito importante, ocorria: a fundação do Clube da Madrugada. Diz o Abrahim Aleme que o nome foi sugerido por Luiz Bacellar, o poeta. De qualquer maneira, o nome foi bem atribuído e corresponde exatamente à realidade do Clube: uma agremiação de jovens intelectuais, escritores, poetas, ensaístas, pintores, músicos, escultores, artistas que estavam se sentindo asfixiados pelo ar abafado e mofado de uma noite parada de um ambiente cultural esclerosado. Eles queriam um novo dia. Queriam romper as trevas e partir para um novo dia.

Assim foi. No dia, isto é, na madrugada do dia 22 de novembro de 1954, surgia o Clube da Madrugada, algo inteiramente novo como o nascer de um novo dia, não só pela média da faixa etária de seus membros fundadores, mas, principalmente, pelo espírito de transformação, pela inquietude borbulhante em cada um deles e por uma rutura com tudo aquilo que já estava maduro demais.

O que o Clube da Madrugada já produziu, se não se estivesse em Manaus, teria provocado reações barulhentas e divulgadíssimas. A verdade é que o que se fez de positivo no plano cultural de 54 para cá está ligado direta ou indiretamente ao Clube da Madrugada. Os quércias daqui e de outros lugares não destruirão o que já foi feito e o que está se fazendo.

No dia 15 de novembro de 1954, era lançada ao ar a primeira programação da Rádio Rio Mar, realização de três homens que ficarão para sempre na história da radiodifusão da Amazônia: Charles Hamu, Aloysio e Aguinaldo Archer Pinto. Com a inauguração da Rádio Rio Mar, ampliava-se o trabalho heroico da radiodifusão em nosso Estado iniciado pelo pioneirismo dos criadores da Baricéia.

Vinte e cinco anos. Parece que foi ontem. Mas ao mesmo tempo, parece que está tudo começando agora e que é preciso partir como se partiu para o futuro há vinte e cinco anos passados. Não há dúvida. Mais vinte e cinco anos esperam pela frente, o Christus, o Clube da Madrugada e a Rádio Pio Mar. Vamos lá.

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