Para o centenário do IGHA (Instituto
Geográfico e Histórico do Amazonas), esta nota foi compartilhada da Gazeta da Tarde,
extinto jornal circulado em Manaus, em 1919, quando esta agremiação comemorava seu segundo aniversário.
A
festa do Instituto Histórico
O coronel Bernardo Ramos
faz monumental conferência sobre as inscrições e tradições do Brasil pré-histórico
Conforme estava anunciado, hoje,
às 9 horas, no salão nobre, do Instituto Histórico e Geográfico do Amazonas (sic), o nosso ilustrado patrício coronel
Bernardo Ramos, com uma assistência numerosíssima, realizou a sua primeira
conferência sobre Inscrições e Tradições
do Brasil pré-histórico.
A sessão foi aberta à hora determinada
por S. Exa. Dom Irineu Joffily, bispo do Amazonas, que produziu brilhante
discurso alusivo à conferência, fazendo ressaltar, com a sua palavra sóbria e
encantadora, os elevados méritos do conferencista ilustre, que, depois de
profundas cogitações e demoradas pesquisas científicas, vem afinal revelar os mistérios
até aqui desconhecidos, os sagrados arcanos de maravilhas até então ignorados.
A palavra do digno
sacerdote, em sendo de uma singeleza que embevecia, teve lances verdadeiramente
empolgantes. Finda a sua oração, que teve o aplauso geral da assembleia, seguiu-se
com a palavra o coronel Bernardo Ramos que, ao subir à tribuna, foi recebido
com estrepitosa salva de palmas.
A conferência do nosso patrício
foi verdadeiramente magistral. Com uma dicção impecável, e dono de um cabedal científico
inexaurível, o conhecido homem de saber fez demoradas digressões pelas regiões
esquecidas do passado, estudando civilizações mortas e desvendando o que há de
singular, extasiante e maravilhoso nessas paragens esmaecidas pela bruma das
eras apagadas, e, com o fulgor incomparável de estilo, trouxe-as, traduzidas e
interpretadas, para o nosso tempo, através de vasta e copiosa documentação cientifica.
Não nos sobra tempo e
espaço para dizermos em ligeira resenha o que foi essa peça monumental.
O coronel Bernardo Ramos,
pelos aplausos frenéticos que recebeu, deve avaliar como o público de nossa
terra admirou o seu trabalho, que será, mais tarde, sem dúvida alguma, patrimônio
para a nossa história e para nossas letras.
Amanhã, às 8:30 horas,
realizar-se-á no mesmo lagar, a segunda parte da conferência tão brilhantemente
iniciada. O nosso erudito patrício se proporá a mostrar a chave misteriosa de
157 inscrições hieroglíficas até hoje envoltas na mais [completa desinformação].
MANAUS, DOMINGO 4 DE MAIO DE
1919
NO INSTITUTO HISTÓRICO
A segunda conferência do coronel
Bernardo Ramos
O salão de honra do
Instituto Histórico esteve hoje de fond
en comble. Com o êxito brilhante alcançado pelo nosso ilustrado patrício em
sua primeira conferência, a sociedade erudita de nossa terra despertou e mais
solícita aplaudiu o notável homem de ciência que mais uma vez mostrou à
sociedade os seus profundos conhecimentos na matéria em que trouxe, durante quase
duas horas, com viva curiosidade a seleta assistência que o ouviu.
A sessão foi aberta
precisamente às 9 horas, usando da palavra o nobre antístite amazonense dom Irineu
Joffily, que disse, em súmula, com a sua palavra persuasiva e eloquente, ir
continuar com nosso ilustre coestaduano a defender e sustentar a tese que, com
tanta segurança e brilho, sob os mais significativos aplausos, iniciara ontem.
Subiu à tribuna, em
seguida, o coronel Bernardo Ramos. O orador fez o prodígio de ser longo e
detalhado sem fatigar; e, com a eloquência e a lógica irrefragável da sua
documentação cientifica, haurida em sábios de reputação mundial, traduziu,
explicou, interpretou, aduzindo considerações de ordem científica, a um sem número
de inscrições hieroglíficas gravadas em pedras e rochas espalhadas pelo sertão
do nosso país. (...)
Falou depois o dr. Vivaldo
Lima, externando-se sobre a mesma ordem de considerações e, em seguida,
encerrou a sessão o ilustre prelado que em breves palavras, de cintilante
urdidura afirmou que, si, de verdade, o trabalho do coronel Bernardo Ramos,
resistir aos entrechoques da crítica, — e resistirá pelas suas vastas dimensões
cientificas — então o nosso coestaduano receberá os loiros e terá a glória que
merece.
A assistência foi numerosíssima.
Esteve presente o dr. governador do Estado, acompanhado de seu ajudante de ordens.
Mais uma vez a GAZETA cumprimenta com muita efusão o digno amazonense.
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