O
AMAZONAS É ASSIM - 2ª parte (*)
Quando Portugal, na
primeira metade do século XVI, dividiu o Brasil em capitanias ou províncias
desiguais, o Amazonas não foi incluído, e só depois de 1636 se estabeleceu na
embocadura do imenso "mar de água doce" a Capitania de Joanes, hoje
Ilha de Marajó.
Embarcações no porto de Manaus, 1970 |
Quem primeiro
descobriu o Rio Amazonas foi o espanhol Vicente Yanez Pinzon, companheiro de
Colombo, que explorou a costa no Norte do Brasil e reconheceu o estuário. Em 1519,
Gonçalo Pizarro, irmão do conquistador do Peru, partiu do Pacífico em busca do
Eldorado que, embora hoje no domínio da fantasia, empolgou a imaginação e
credulidade da Europa por meio século.
Pizarro não foi longe,
mas o seu lugar-tenente Orellana, traindo-o, quando a sua expedição estava nos
maiores apuros, abandonou-o. Depois de ter descido o Amazonas, com alguns
homens, e chegado ao Atlântico, Francisco Orellana seguiu para a Espanha, para
onde levou maravilhosas lendas, grandemente exageradas como de costume. Entre
elas contava-se a das mulheres guerreiras (também atribuída a Gonçalo Pizarro,
que teve de explicar as causas do insucesso da sua expedição), de onde o grande
rio tirou o seu nome – Amazonas, dado depois ao maior Estado do Brasil.
Um século depois,
outro espanhol, Juan de Palácios, partindo de Quito, no Equador, chegou à
confluência do Rio Napo com o Amazonas, continuou até a entrada do Rio Negro e
foi morto pelos índios. Os companheiros que se salvaram conseguiram alcançar
Belém, fortaleza fundada pelos portugueses no estuário.
Dirigida pelo capitão-geral
Velho de Carvalho, partiu de Belém, rio acima, uma expedição em 1637 que,
depois de um ano de quase incríveis aventuras, chegou a Quito, em 1638. Espanha
e Portugal estavam então sob uma só coroa, e os pioneiros foram entusiasticamente
recebidos. Esta foi a primeira expedição bem sucedida na travessia do
continente, nesta latitude, de leste para oeste, e a sua ousadia e sucesso
estão no mesmo nível do colossal trabalho dos brasileiros, na última metade do
século XIX, no Amazonas.
Voltando a Belém, em
1639, Pedro Teixeira, chefe da expedição, levantou um marco na foz do Rio Napo,
como sinal da ocupação do país pelos portugueses – fato que, devido à separação
entre Portugal e Espanha, no ano seguinte, foi um dos principais argumentos
aduzidos por Portugal para provar o seu direito a toda bacia do Amazonas até
aquele ponto.
Em 1625, os holandeses
estabeleceram uma feitoria no [rio] Xingu,
um dos afluentes do [rio] Amazonas,
mas foram, com outros aventureiros, gradativamente expulsos pelos portugueses,
que conseguiram alcançar o completo domínio do rio, cuja livre navegação
fecharam aos estrangeiros. Só depois de 1867 o Amazonas foi de novo franqueado
ao mundo.
Até 1822, quando o
Brasil se fez independente como Império, o território, agora conhecido por
Amazonas, fazia parte da Capitania do Pará, com uma sub-capitania em São José
do Rio Negro, estabelecida em 1755. O primeiro governador, Joaquim de Melo
Póvoas, fez de Barcelos o seu quartel-general, no vale do Rio Negro, acima da
cidade de Manaus, sendo Barcelos uma das muitas povoações fundadas pelos
jesuítas nessa região.
O terceiro governador,
Manoel da Gama Lobo [d’Almada],
transferiu a sede do governo para a Barra do Rio Negro, hoje Manaus – capital do
Estado do Amazonas –, então uma simples vila missionária.
Depois da
Independência, em 1822, os habitantes de Rio Negro bateram-se pela sua
autonomia e estabeleceram um governo provisório; mas, tendo sido subjugados,
foi Rio Negro de novo incorporada, em 1832, como comarca da Província do Pará.
Contudo, continuaram a protestar e, em 1850, conseguiram uma lei que separava
da Província do Pará a Comarca de Rio Negro, elevando-a à categoria de
Província sob a denominação de Amazonas, em 1° de janeiro de 1852. A vila da
Barra do Rio Negro, elevada a cidade, que por uma vizinha tribo de índios foi
de novo batizada com o nome de Manaus, ficou sendo a sede governo.
Até 1853, a navegação
do Amazonas era feita por batelões, que levavam muitas semanas a chegar ao Rio
Negro, tendo o governo central sistematicamente proibido a navegação a vapor
naquele rio. Contudo, em 1852, o Visconde de Mauá, o mesmo homem que dirigira a
construção da primeira estrada de ferro no Brasil, obteve um monopólio de
navegação no Amazonas, e nesse mesmo ano foi organizada a Companhia de Comércio
e Navegação, com o capital de 4.000 contos de réis.
Vinte anos mais tarde,
depois de ser franqueada ao mundo a navegação no Amazonas (1872), essa
Companhia se transformou na Companhia de Navegação a Vapor do Amazonas,
pertencente aos ingleses, que tão bons serviços prestaram no desenvolvimento da
região.
Depois passou ela para
o domínio do governo brasileiro com o nome de Serviços de Navegação da Amazônia e Administração dos Portos do Pará
(SNAPP), mais tarde, já no governo da Revolução de 31 de março de 1964,
transformada apenas em Empresa de
Navegação da Amazônia Sociedade Anônima (Enasa).
De 1872 em diante o progresso
passou a ser rápido e, por volta de 1874, começou a linha subsidiada de vapores
entre Liverpool e Manaus, outra para os Estados Unidos e ainda outra para o Rio
de Janeiro e portos de escala, em 1884.
Então Palácio Rodoviário, 1970 |
Em 1889, com a
proclamação da República, a Província tornou-se o autônomo Estado do Amazonas,
dirigido por um governador e uma Constituição própria.
Vale recordar o barão
Sant'Anna Nery, na sua maravilhosa obra A
Terra do Amazonas: — "A causa e efeito do desenvolvimento do comércio
no Estado do Amazonas é a facilidade do transporte. Em 1872 entraram 51 vapores;
em 1906, o número atingiu 1.248".
A franquia do colossal
rio foi o ponto de partida do progresso do Amazonas, aumentado pela sua subsequente
independência do Pará.
(*) Extraído do Almanaque Municipal Brasileiro, ref. ao Amazonas, 1970
Nenhum comentário:
Postar um comentário