CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

domingo, janeiro 17, 2016

MMM - CENTENÁRIO DE NASCIMENTO

Manuel, Francisca e os
dois primeiros filhos
A minha família organizava-se para celebrar o centenário de seu patriarca, quando um fato natural alterou os preparativos do festejo. A morte de Manuel Mendonça ou Mendoza, em maio de 2014, foi a causa dessa variante. Passada a surpresa e reclusas as lágrimas, decidimos (eu e meu irmão Renato) elaborar um livro para contar a saga do nosso peruano. A previsão era entregar o trabalho nesses dias, quando do centenário, porém, “o tempo e o vento” não permitiram. Intitulado de Entre duas viagens, o livro sairá em junho, composto de fotografias sobre uma extensa linha do tempo, em prosseguimento a celebração da centúria.

A elaboração deste publicação exigiu esquadrinhar os registros pessoais em Manaus, no Rio de Janeiro e em Santos (SP), e mais, com os mesmos objetivos, a circular por Iquitos e Lima, no Peru, a fim de rematar certas lacunas junto aos parentes.

Mendoza, também conhecido como Manuel peruano, nasceu em Caballococha, uma povoação ainda em assentamento, situada nas vizinhanças da fronteira Brasil-Peru, em “hermosa orilla”, à margem esquerda do rio Amazonas, em 17 de janeiro. Há exatos cem anos!  Sua mãe, Victoria Malafaya, nascida na mesma localidade em 1890, era mestiza e descendente de ticunas, de cútis morena e baixa estatura era, comum na época, analfabeta. O vilarejo, todavia, cresceu alcançado pelo ciclo da borracha, mas Victoria, sucumbiu ao assedio dos caucheiros. Tanto, que certo dia de 1927, depois de impiedosa surra do companheiro, fugiu para o Brasil, trazendo dois filhos: Manuel, meu pai, e Francisco, que se finou no Rio de Janeiro.

Depois de custosa viagem pelo rio Solimões, desembarcam em Manaus. Sem outros recursos, foram ao trabalho: a mãe, como doméstica, e Manuel, na taberna de seu Abade, um comerciante na rua Dr. Almino. A evolução financeira da família possibilitou a mudança para a Pensão Vaticano (um prédio de três andares que existiu até o início da Zona Franca, na rua Dr. Moreira), pertencente à família Balbi, onde fizeram amizade com Dolabela, filho do legendário Heliodoro Balbi.

Em 1939, Manuel retornou ao Peru, visitando Iquitos, onde efetuou sua inscrição no serviço militar. Logo retornou a Manaus, quando obteve o primeiro emprego de carteira assinada. O de balconista (atendente junto ao balcão), depois gerente, na Fábrica Rosas, a padaria chique da cidade, inaugurada em novembro de 1940 e instalada na avenida Sete de Setembro, 129, defronte à Praça da Polícia. A edificação ainda se mantém de pé, onde funciona uma loja da TV Lar, tendo sido renovada nestes dias. Nesse emprego, Manuel permaneceu por quatro anos, quando se mandou com a noiva Francisca para Iquitos, onde casaram. 
O casal pretendia se fixar na capital de Loreto. Até organizou um comércio, pois meu pai aprendera comerciar, ao menos era um bom vendedor. Contudo, no início de 1946 com dona Francisca gestante (deste que escreve), a família zarpou para Manaus. Assim, posso garantir que sou “hecho en Peru”, todavia, nascido em Educandos, à rua Inácio Guimarães esquina do beco São José, onde como referência mais adiante surgiria o Cine Vitória. Vieram mais dois filhos: Henrique Antonio (1948) e Pedro Renato (1951), antes do falecimento de minha mãe, vitimada pela tuberculose. 
Nesse tempo, o vigário de Educandos colaborou para meu ingresso no Seminário São José, instalado à rua Emilio Moreira, onde conclui o curso de humanidades. Deste instituto religioso passei ao militar, servindo ao Exército e à Polícia Militar, onde me aposentei. Aposentado, interessei-me pela história do Amazonas, tendo como resultado elaborado os livros: Candido Mariano & Canudos (1997); As artes de Genesino Braga, prêmio literário da Academia Amazonense de Letras (2006); Administração do coronel Lisboa, prêmio literário Cidade de Manaus (2008); Bombeiros do Amazonas (2013). E, como organizador: Cinema e Crítica Literária de L. Ruas (2010) e L. Ruas: Poesia Reunida (2013). 
Morador de Educandos, meu pai frequentou assiduamente a paróquia do padre Antonio Plácido, sacerdote que o casou com “Dona” (a forma carinhosa como era tratada pelos enteados) Doroteia, em 1958. Esta nova união gerou cinco filhos: Zemanoel, Miguel Jorge, Luís Carlos, João Ricardo e Carlinhos).

No ano seguinte, a família mudou-se para o Morro da Liberdade e, mais adiante migrava para Santos (SP). O chefe da família, que trocara a profissão de comerciante pela de carpinteiro, trabalhou em vários locais, devendo registrar sua presença no complexo da Refinaria de Cubatão (SP). 
Novamente viúvo, com a morte de Dona acometida de câncer, seu Manuel passou os derradeiros anos de vida entre Manaus e São Paulo, visitando os filhos e netos. E vez ou outra, curtindo uma relação afetiva. Aos 98 anos, morto na capital paulista, seu corpo como se despedindo atravessou o Brasil para ser sepultado na cidade de seus amores: a capital do Amazonas. Sua sepultura encontra-se no cemitério de São Francisco, no Morro da Liberdade, junto com a segunda esposa. 
Mandei confeccionar dois selos personalizados objetivando marcar este domingo, 17 de janeiro, quando se celebra o centenário de Manuel. Dois selos porque o homenageado estranhamente possuiu dois nomes. Explico: a sua certidão de nascimento registra – José Manuel Mendoza, com o qual se casou com Doroteia Mendoza; todavia, quando ao desembarcar pela primeira vez em Manaus, por motivos controversos, aportuguesou o sobrenome, refez o nome, incluindo o sobrenome materno. 
Desse modo, con mucho orgullo, sou filho de Manuel Mendonça Malafaya (MMM). 

Victoria Malafaya e a filha Laura
Manuel e Doroteia Mendoza


Manuel e Francisca Mendonça

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