1961 – Morreu José Antonio Dias Loureiro Ventura, comandante Ventura, e auxiliares nas proximidades do km 28 da estrada Manaus-Itacoatiara, víitimas de aacidente de trânsito, em viatura da entidade. Após a intervenção dos Bombeiros Voluntários em incêndio nas proximidades, e de reegresso. A sede estava localizada no bairro de Aparecidade.
Os Voluntários desapareceram um ano depois do falecimento do comandante Ventura.
Em trabalho que preparo para lembrar Os Bombeiros do Amazonas, reservei um capítulo para os Voluntários. Nele, há uma carta escrita por sua filha, que parte transcrevo abaixo:
Comandante Ventura, meu pai.
Maria Neves Ventura
Meu pai - comandante Ventura, nasceu na freguesia de Bonfim, conselho e distrito de Porto, Portugal, em 14 abr. 1897. Era filho de Antonio Loureiro Dias e de Guilhermina Ventura Dias. De baixa estatura, apenas 1m62, cabelos castanhos, rosto redondo e de cor branca, diria que era um autêntico português. Em idade mais avançada, passou a usar óculos.
Um dia, meu avô Antonio comunicou à sua sogra, Josefa Rosa, o desejo de contrair novo matrimônio, pois ainda era jovem. Minha bisavó concordou, mas escreveu ao filho Teodoro Ventura, que morava no Brasil, que a fosse buscar juntamente com o neto, meu pai José Antonio, para virem morar no Brasil. Em uma visita a Portugal, meu tio-avó levou consigo a mãe e o sobrinho futuro comandante Ventura.
Em outra data, quando voltou à Portugal para estudar, juntamente com seu primo Sebastião Ventura, no ato da matricula do sobrinho, meu tio-avó registrou-o como ficou conhecido José Antonio Dias Loureiro Ventura.
Meu pai desembarcou em Manaus, em 10 de agosto de 1919, com 22 anos, recebido pelo nosso tio-avô Ventura, o mesmo que o levara ao Rio, agora morando aqui. Chegou quando nossa cidade começava a ver a fartura da borracha desaparecer ou minguar, segundo me contou. Quando chegou, meu pai, que não pode concluir um curso de química, em Portugal, passou a exercer a profissão de marceneiro, montando a seguir uma oficina a rua Marcilio Dias.
Em 1930, casou-se com Silvia Isabel Neves, irmã de Leopoldo Neves, o Pudico, e o casal foi residir a rua Alexandre Amorim, no então bairro dos Tocos. Político atuante, seu cunhado Pudico, mais adiante, seria prefeito de Parintins e governador do Estado (1947-1950). Do casamento, nascemos: José Luciano Neves Ventura, em 1931, e eu, Maria Neves Ventura (casada com Moacir Xavier), em 1932.
Ao casar com minha mãe, o casal veio morar na Lusitana Industrial Ltda., à rua Alexandre Amorim, 289, Aparecida, onde mais tarde seria a sede dos Bombeiros Voluntários de Manaus. Onde hoje se encontra o Fórum, de Aparecida. A Lusitana produzia juta alcatroada, própria para calafetar embarcações; botões de jarina e de ossos, e fundição. Minha mãe, usando macacão como todos os empregados, trabalhava junto. Talvez tenha sido a primeira mulher a usar uma vestimenta masculina, em Manaus. Estamos falando da década de 1930, em diante.
Comandante Ventura
A fábrica ia bem, até que sofreu um incêndio. Aconteceu ao tempo da Segunda Guerra, quando o navio Baipendi foi a pique. Minha mãe, que assistiu os primeiros momentos da tragédia, contou-me que o incêndio começou quando uma empregada de propósito jogou um fósforo aceso na juta, material bastante inflamável. O fogo espalhou-se rapidamente, destruindo uma grande parte da fábrica, sobrando apenas a fundição. Os Bombeiros municipais pouco puderam fazer. A deficiência deles era bastante conhecida, agravada pelas deficiências da cidade, como falta de água e de hidrantes.
Algum tempo depois, ocorreu outro grande incêndio. Na fábrica de bebidas de Virgilio Rosas, situada à rua Marcilio Dias, no Centro. Aconteceu em agosto de 1951. A família dele, que morava no andar superior da fábrica, quase morreu. Seu Virgilio, que muito havia ajudado por ocasião do incêndio da Lusitana, tornara-se ainda mais amigo de meu pai. Por isso, uma grande tristeza tomou conta de nossa casa.
Foi a partir destas tragédias, que meu pai decidiu criar um serviço de bombeiros voluntários, despertando o voluntário que fora na cidade natal. E logo aconteceu. Meu pai, então, transformou-se no comandante Ventura. Para isso, conseguiu ajuda da colônia portuguesa, a maioria seus amigos; de parte dos governos; contou com jovens voluntários do bairro de Aparecida e adjacências, e instalou o posto no próprio terreno da fábrica e da moradia. De sorte que o telefone de casa e da Lusitana, era também dos voluntários: 2513.
Os voluntários passaram logo a funcionar, mas a Sociedade dos Bombeiros Voluntários de Manaus (SBVM) somente foi fundada em 24 de abril de 1952. É aqui que se manifestaram os amigos de meu pai, cuja relação se encontra nos Estatutos da Associação. Na primeira sessão, o comandante Ventura foi eleito o diretor do voluntariado e só o deixou com sua morte.
Mesmo contando com a ajuda de governos, de associados e do esforço pessoal do comandante Ventura, era difícil levar adiante o serviço. Era preciso carros, mangueiras, equipamentos... Sobrava o entusiasmo dos voluntários, nos quais eu me incluo. Minha mãe igualmente participava. Quantas vezes me enfiaram na boleia do caminhão para, durante o percurso, acionar a sirene. No local, eu procurava prestar socorro às vítimas, mais precisamente aos feridos. Mesmo que meu serviço de enfermagem fosse somente o da prática.
Em razão dessas dificuldades, os Bombeiros voluntários se juntavam aos municipais no combate ao fogo e outros sinistros. Se eu contar das inovações que se fazia para cumprir o serviço, talvez seja motivo de risos. Não se sabia como funcionava, porém, se Manaus dos anos 1950 passava por uma pobreza danada, quanto mais os voluntários. Enfim, foi tentando superar essas penúrias, que meu pai, o comandante Ventura, encontrou a morte.
Em 6 de dezembro de 1961, aos 64 anos de idade, ele saiu para socorrer uma instalação do DERAM, na estrada Manaus-Itacoatiara. Apenas os voluntários. Neste dia, não pude acompanhar o comboio, por sentir os sinais do nascimento de meu filho Cirilo. Então, aconteceu o desastre, o jipe capotou e... Bem pior foi a maneira como a triste notícia chegou a nossa casa. Sem que a família desconfiasse de nada, um jornalista perguntou pelos mortos do acidente...
No dia seguinte, antes de sepultar seu corpo, assisti a cidade de Manaus reverenciar o comandante Ventura. Foi então que meu pai, por seus voluntários, virou lenda!
Bonita história ñ é lenda ,eles sim foram guerreiros com tantas dificuldade fizeram seu nome na história do Amazonas.
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