CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

segunda-feira, outubro 22, 2018

NOTA AUTOBIOGRÁFICA (1)


Autor, no NPOR, em 1965


Assumo que não me lembrei dos pormenores, afinal são passados 50 anos. No entanto, lendo o Correio Braziliense em edição virtual, fui alertado para o cinquentenário da invasão da Universidade de Brasília pelas forças militares, ocorrida em 29 de agosto de 1968. E o que essa data revela de extraordinário para mim?

Esse dia foi marcante para mim, tendo pernoitado no quartel da Polícia Militar do Distrito Federal, aguardava a carona para o aeroporto, a fim de retornar à Manaus, onde, ao entardecer, deparei-me com outro desastre: o velório de um irmão.


Essa passagem abre-se no ano anterior, quando, em função do curso militar realizado no Rio de Janeiro, vivenciei o embate sustentado pelo Governo Militar.

Aos 21 anos, jovem tenente da Polícia Militar do Amazonas, aproveitei essa estadia para reencontrar parte da família materna. E, de outro modo, estimular o anseio próprio por viagem aérea, afinal o rio Negro nos impede de utilizar outra alternativa de locomoção rumo ao sul do país.

 

Assim, em julho do ano seguinte, aproveitando as férias regulamentares, fui a São Paulo, mais precisamente à cidade de Santos, para o convívio dos parentes. Sem ideia de valores, ou mesmo porque era complicado a aquisição de passagens, adquiri somente o trecho Manaus-Brasília-Manaus. Consumando a ligação entre a Capital Federal e a de São Paulo, de ônibus.

Ao final do período de férias, embarquei em Santos e desembarquei em São Paulo, para encarar o ônibus com destino à Brasília. A rodoviária paulista estava localizada no centro da cidade, próxima ao temido DOPS (Departamento de Ordem Política e Social). Era tempo de forte inquietação, de um lado, com prisões pelo organismo policial e, de outro, pelos ataques e atentados de parte de militantes contrários ao governo.

Para minha maior inquietação, na noite anterior, o DOPS havia sido atingido por bombas e outros apetrechos. Circulando pelas adjacências desta delegacia em direção à rodoviária, senti aumentar a adrenalina e, desse modo, o consequente desejo de prontamente alcançar Manaus, a pacata capital amazonense. Em presença desse panorama, com mostras da destruição espalhadas pelo chão, pelas vidraças da delegacia estilhaçadas e algum vestígio de fogo, tratei de embarcar.


Para melhor saber das notícias, somente existiam os jornais e o rádio, devo ter-me socorrido do Estadão para, durante a longa viagem, inteirar-me da situação. À tarde, chegava à Capital Federal, desembarcando na rodoviária tatuada, assim como os transeuntes, pela poeira avermelhada do Centro-Oeste. Localizada no início do plano piloto, hoje serve como terminal do transporte urbano.

Recorri a minha condição de oficial da PM amazonense para, visando economizar na hospedagem e transporte, buscar o quartel central da PMDF onde fui abrigado. O jantar aconteceu com colegas de farda brasilienses, em número avantajado para o serviço normal. Esse efetivo foi o primeiro alarme que me ocorreu sobre a motivação da tropa aquartelada. Adiante, no alojamento, os buchichos dos tenentes deixaram-me sabedor da envergadura da missão designada para o dia imediato. (segue)


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