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Em se falando
de mudança de nome de rua em Manaus, o vício não é corrente, vem da fundação de
Manaus. Basta se recorrer ao Ed Lincon para saber quantas denominações já
batizaram e crismaram a atual avenida Sete de Setembro. Portanto, não me causa
surpresa, apenas forte indignação, o sacrifício das avenidas Paraíba e Recife para
homenagear o fundador de A Crítica e
o historiador Mario Ypiranga (contrário a esse troca-troca, como demonstrarei
em breve, com uma publicação do próprio).
O texto
compartilhado pertence ao saudoso juiz de Direito Waldir Garcia, em seu livro À Sombra dos Igapós (Manaus: Imprensa
Oficial, 1987). Reclama da usurpação da avenida Silves, para saudar o
presidente Costa e Silva. Como se conhece, sua apelação não teve sucesso,
seguiu com ele e os saracaenses para o túmulo.
EM DEFESA DE UM TOPÔNIMO URBANO
Há muitos anos a edilidade amazonense, inspirada por sentimento nativista e puramente glebário, decidiu denominar várias ruas e avenidas de nossa urbe com nomes de municípios amazonenses, numa homenagem das mais justas e plausíveis. Assim é que passaram a existir as ruas Urucará, Itacoatiara, Parintins, Manicoré, Borba, Barcelos, Humaitá, Waupés, Ipixuna, e as avenidas Tefé e Silves.Acontece que após a implantação do regime revolucionário, a partir de 31 de março de 1964, a mesma edilidade no ardente desejo de homenagear um dos Presidentes Revolucionários, no caso o presidente Costa e Silva, escolheu a Avenida Silves para ser sacrificada, para mudar-lhe o nome, substituindo-o pelo do presidente em referência, em verdadeiro holocausto à tradição toponímica urbana, para tristeza e menosprezo dos filhos de Silves aqui radicados.
Entendemos que o presidente que cedeu seu nome à toponímia urbana manauense mereceria, pela projeção do cargo que exercia, uma avenida de maior projeção, como p. ex. a Avenida do Contorno, mais ampla, mais abrangente. Mas a ideia da edilidade em sacrificar a Avenida Silves, não obstante haverem mudado as placas de denominação, nem por isso conseguiu superar a tradição, e tanto isto é certo que até hoje, decorridos já vários anos da mudança toponímica, os ônibus continuam a trafegar naquela artéria com placas indicativas do primitivo nome – Avenida Silves. Assim vemos: linha “Japiim-Silves”, e outras invocando-lhe a primitiva denominação.
Mas à época em que a edilidade resolveu denominar de Avenida Silves uma das artérias suburbanas de Manaus havia uma inspiração histórica: uma homenagem à tradição de um dos primeiros aglomerados humanos nas paragens amazônicas, que merece ser recordado.Ao retornar de Quito o audaz sertanista Pedro Teixeira traz consigo os primeiros mercedários, solicitados para a fundação de um convento em Belém. Dentre eles, frei Raimundo, da Ordem das Mercês, que em 1663 fundou a aldeia do Saracá, um dos primeiros núcleos da colonização portuguesa no Amazonas. Em 1759 governador de então, Joaquim Melo Póvoas, elevou a Missão do Sacará à categoria de Vila, alusitanando-lhe o nome para Silves.
Em 1853, com a execução do Código de Processo Criminal, tiraram-lhe a categoria de Vila reduzindo-a a simples freguesia. Mas na administração do Dr. Manoel Gomes Correa de Miranda, foi-lhe restituído o antigo topônimo – Silves – e reconduzida a povoação à categoria de Vila, pela Resolução nº 4, de 21 de outubro do 1852. Desde então Silves vem partilhando do processo político do Estado, tendo sido sua Câmara Municipal a primeira a movimentar-se em histórico memorial endereçado a D. João VI, solicitando a elevação da Capitania do Amazonas à categoria de Província, o que veio apressar a promulgação da Lei nº 592, de 5 de setembro de 1850, que concedeu a independência do Amazonas, terminando sua sujeição ao Pará.
Mas Silves há contribuído, também, para o progresso de Manaus, com a força de trabalho de seus filhos aqui radicados. Estão aí o advogado Perseverando Garcia, que exerceu, inclusive, o governo do Estado; o facultativo Dr. Manoel Antonio Garcia Gomes; o Dr. Agobar Garcia, destacado membro da Associação Comercial; o major Orlando Garcia, atualmente servindo na Portobrás, o ativo advogado Manuel Felipe de Leiros Garcia; as professoras Graziela e Euclídia Grana Ehm; o cronista social Raimundo Nonato Garcia Filho (Nogar); o médico Dr. Ivan Souza; o jornalista Bianor Garcia e tantos outros, no exercício das mais diversas profissões.
E os filhos de Silves, dos mais diversos clãs: Garcia, Almeida, Neves, Farias, Batista, Grana, Teixeira, Pena, Vilaça, conclamam os edis de Manaus e o seu ilustre Prefeito para que, num ato de justiça, restabeleçam o nome primitivo da atual Avenida Costa e Silva, transferindo o nome do ex-presidente para uma artéria urbana digna de nome presidencial.
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