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segunda-feira, novembro 09, 2015

CATÓLICOS vs BATISTAS EM MANAUS

Praça da Saudade, ano 1920
Em outubro de 1950, grande número de Católicos acossaram aos Batistas, que pretendiam celebrar um culto religioso na Praça da Saudade. Entre "mortos e feridos" salvaram-se todos, como explicita o Chefe de Polícia, então a maior autoridade de Segurança Pública.


POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO AMAZONAS (*)

Fac-símile de parte da Publicação

NOTA OFICIAL

A respeito de um telegrama procedente do Rio, publicado na primeira página de O Jornal, de hoje, subordinado ao título - "Não nos deram garantias" - e com referência aos incidentes ocorridos à noite de sábado último, na Praça da Saudade, esta Chefia, na parte que lhe diz respeito, tem a esclarecer o seguinte: 
1 - Solicitada, no referido sábado pela manhã, por um cidadão pertencente à Igreja Batista, esta Chefia providenciou o policiamento da Praça da Saudade, com guardas do Corpo de Segurança Pública e soldados da Polícia Militar do Estado, inclusive uma patrulha de Cavalaria, a fim de que fosse impedida qualquer perturbação durante a realização de uma cerimônia religiosa. 
2 - Cerca das vinte horas do mesmo dia, informado por telefone de que estava ocorrendo sério tumulto na Praça da Saudade, o próprio Chefe de Polícia dirigiu-se incontinente para o local, tendo passado pelo Quartel da P.M.E. e pela Chefatura de Polícia, onde deu ordens para o envio imediato de reforços policiais para a referida praça. 
3 - Chegando à Praça da Saudade, verificou a existência de uma multidão de cerca de três mil pessoas, com uma tendência a avolumar-se, contando-se considerável número de menores, colegiais e mulheres, todos manifestando desagrado pela realização do culto religioso, motivada atitude, ao que consta, por um discurso proferido no dia anterior. 
4 - Embora reconhecendo o Direito de liberdade religiosa assegurado em nossa Constituição e a obrigação da sua garantia pelas autoridades, o Chefe de Polícia constatou, de pronto, uma impossibilidade de dispersar os elementos católicos, cuja concentração se fizera rápida e de improviso, sem a utilização de medidas extremas, o que era em absoluto desaconselhável, restando às autoridades policiais apenas garantir a vida e a retirada dos religiosos Batistas. 
5 - A Chefia de Polícia, porém, tomou imediatas providências para a segurança pessoal dos membros da Igreja Batista e guarda dos próprios templos protestantes da Cidade, postando sentinelas armadas, durante toda à noite de sábado, o mesmo fazendo para a realização do culto de domingo à noite na Igreja Batista do Alto Nazaré, por ordem do senhor Governador do Estado, atendendo à solicitação do Doutor Serra Lima, ficou protegido por vinte praças da P.M.E., sob o comando de um oficial, até o término do ofício religioso. 
6 - À Chefia de Polícia, pois, não cabe responsabilidade pelos lamentáveis ​​acontecimentos de sábado à noite, na Praça da Saudade, motivados pela eclosão inesperada de um movimento popular e que assumiu proporções que não permitiam a sua sufocação sem sérias consequências.

Gabinete da Chefia de Polícia do Estado, em 25 de outubro de 1950.
 
David Melo
Chefe de Polícia

(*) O Jornal, 26 de outubro 1950

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