Padre Nonato Pinheiro |
Na sequência,
a segunda parte do discurso do finado Padre Nonato Pinheiro, orador do IGHA, a
oração de boas-vindas ao saudoso bispo do Amazonas, Dom João de Souza Lima, na ocasião em que
ocupou a Cadeira 24, em outubro de 1969.
NOS DOMÍNIOS DO CONCÍLIO ECUMÊNICO
O Concilio Ecumênico Vaticano II, iniciado sob o pontificado
luminoso do Papa João XXIII, e concluído sob o pontificado amargurado de Paulo VI, se abriu realmente que e o Sacro Colégio dos Cardeais, ousam discordar do ... igreja, que para muitos se encontrava atrasada
de um ou mais séculos, abriu pari passu,
e dolorosamente do tumulto das ideias, do desencadeamento furioso das rebeldias
procelosas, quanto, não somente leigos
e simples sacerdotes, mas até mesmo altos prelados envoltos no próprio esplendor
da purpura cardinalícia, o que vale dizer com assento no supremo senado da
Igreja, que é o Sacro Colégio dos Cardeais,
ousam discordar do pensamento cristalino e da
orientação sempre aclarada e sapientíssima do Sumo Pontífice, teimando em não reconhecer a autoridade máxima e suprema do Vigário de Cristo e sucessor daquele Pedro de gênio arrebatado,
mas de fé ardente e intrépida, cheio de amor ao Divino Mestre,
a quem foi dito: "Tu es Petrus, et super hanc petram aedificabo ecclesiam meam!"
(Tu és Pedro, e sob esta pedra edificarei a minha Igreja!)
O vendaval
continua a soprar violento, anunciando
borrascas estrepitosas para desalento do povo de Deus e tripudio dos inimigos
da fé. Tenho acompanhado de perto as proporções da tragédia, a tomar o vulto
das tempestades aniquiladoras. A barca de Pedro revive as horas de tormenta, de
que nos fala o evangelista Mateus, "açoitada pelas ondas, porque o vento
era contrário": contrarius erat ventus... (Mt. XIV:20).
Em tanta agitação, muitos soçobram e
vacilam, precisamente porque se desvinculam do centro da unidade
cristã, que continua a ser Pedro, a pedra, o rochedo indestrutível, que devolve
ao oceano a fúria das ondas
encapeladas;
Pedro, a pedra, que continua vivo no Papa, quaisquer que sejam suas
personalidades e os nomes pontifícios que tomam ao assumirem o lema da Barca
vinte vezes· secular: Bonifácio, Gregório, Leão, Pio, João ou Paulo, não é Paulo, nem João,
nem Pio, nem Leão, nem Gregório, nem
Bonifácio: "Il est Pierre, qui ne muert pas, assis sur son trône, qui ne
crouie pas!" (Ele é Pedro, que não morre, assentado em seu trono,
que não se abala!) - diria com Luís Veuillot, cujas pupilas precisariam de
figurar nas órbitas de não poucos leigos e prelados do mundo contemporâneo, que
chegam a aceitar a heresia suprema de admitir uma Igreja sem Papa, já
esquecidos do legado tradicional da ortodoxa doutrina: "ubi Petrus, ibi
Ecclesia”, que em vernáculo se resolve nestas palavras – a Igreja está, onde
estiver o Papa!
Em meio a essa babel que inquieta a
cristandade e atormenta ainda mais o pontificado dolorido ou doloroso do grande
papa Paulo VI, tendes dado em nossa arquidiocese uma fascinante lição de bom
senso, equidade e equilíbrio, mantendo-vos no meio termo dos cautelosos, nesse
meio termo sempre aconselhado e bom conselheiro, evitando a caturrice dos
ultraconservadores e os excessos desvairados dos ultraliberais, questão mal
posta, como acaba de frisar o ponderado arcebispo de Teresina (PI) e presidente
da Comissão Episcopal
Latino-americana, porque o Bispo em si não é conservador nem liberal, é simplesmente
Bispo, com olhos para ver e ouvidos para ouvir aquelas palavras profundamente
impressionantes do rito de sua sagração episcopal: "non ponet lucem
tenebras, nec tenebras lucem; non dicat bonum malum, nec malum bonum" (não
confunda a luz com as trevas, nem as trevas com a luz; não identifique nem com
o mal, nem o mal com o bem), palavras de sensatez e advertência, que a Igreja foi buscar no tesouro fecundo e
inexausto das Santas Escrituras. Dir-se-ia que a sabedoria da Igreja, prevendo
a possibilidade humana de o novo Bispo ter a tentação de acolher as trevas como
luz, e a luz como trevas, e admitir a ignomínia de confundir o bem com o mal,
muito de ind (...)ia agasalhou nos lábios do Sagrante palavras tão eminentes,
luminosas e oportunas, que deveriam
abrir e encerrar, com a mais faiscante das chaves de ouro, quaisquer
sínodos ou assembleias eclesiásticas,
que abriguem prelados para tratarem doutrina e traçarem normas ao povo de Deus,
já cansado de tantas e incomportáveis lacerações na túnica inconsútil da Esposa de Cristo!
O INSTITUTO GLORIFICA A IGREJA
Em vossa
eleição, guiou-nos o alto quilate que vos caracteriza a inteligência, aberta a todas as ondulações da luz, e a cultura, opulentada nas
tradicionais e ubertosas tetas dos estudos clássicos, que, digam lá o que
disserem, continuam a ser os alicerces insubstituíveis de toda grande e
verdadeira cultura. Como quer que seja, com premiar-vos os talentos, quis o
Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas glorificar a Igreja,
de que sois pontífice; essa Igreja-Mãe, essa Igreja maternal, que parturejou a
civilização cristã, criadora e inspiradora de tantos e repetidos benefícios que
a humanidade vem usufruindo há vinte séculos de História!
Glorificamos
a Igreja caridosa, que criou os hospitais; e glorificamos igualmente, muito
particularmente nesta Casa a Igreja sapientíssima, que criou as Universidades,
muitas das quais trazem em seu diploma de origem a assinatura de um Papa;
Igreja de Gregório XIII, que reformou o calendário, corrigindo um erro
plurissecular pela criação dos anos bissextos; Igreja de Leão XIII, que assinou
a maior Carta do Operário Cristão, a famosa "Rerum Novarum"; Igreja de Bento XIV,
o famoso Lambertini, de quem se escreveu que
teve duas almas, uma para a Igreja e outra para as ciências; Igreja criadora de
escolas e de bibliotecas, que salvou nos mosteiros medievais, pela paciência
dos monges letrados o tesouro das antiguidades; Igreja acoimada de
obscurantismo tão somente pelos ignorantes de todas as castas, cuja miopia,
amaurose ou cegueira lhes dá olhos imprestáveis para verem o milagre do
esplendor do sol. (SEGUE)
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