Tenreiro Aranha, presidente |
No segundo
governo dos irmãos Nery (1904-07), circulava em Manaus a “Revista destinada a
vulgarização de documentos geográficos e históricos do Estado do Amazonas”,
intitulada ARCHIVO PÚBLICO. Tais documentos constituíam o acervo desta
repartição que, ainda em nossos dias, sem o brilho anterior, prossegue
funcionando.
Em 17 de
outubro de 1907, Bento de Figueiredo Tenreiro Aranha (filho do 1º presidente da
Província amazonense e dirigente do referido órgão), proferiu uma palestra
sobre a História e Geografia do Amazonas.
Essa alocução, realizada no Ginásio Amazonense diante de respeitável plateia e
do próprio governador, Constantino Nery, foi reproduzida no volume II, datado
de 23 de janeiro seguinte.
Abaixo, a II
Parte.
O
rio Amazonas, um dos principais do mundo, é o mais caudaloso da América do Sul
e dos conhecidos até hoje na Europa, Ásia, África, América e Oceania. A sua bacia
com o Tocantins, formando toda a
Amazônia, tem de dimensão, segundo calculou Chichko, 6.430.000 quilômetros
quadrados.
Diz
Eliseé Reclus na sua “Geografia, etnográfica e estatística do Brasil”, sobre o Tocantins que: “O sistema hidrográfico
do Tocantins prende-se estreitamente ao do Amazonas. Se é verdade, como tudo
parece indicar, que em consequência de alterações do fundo do mar, as águas do
Atlântico invadiram as terras, hoje ocupadas pelo golfo amazônico, tempo houve
em que o Tocantins, que atualmente se comunica com o rio mar por furos e igarapés, unia diretamente a sua corrente com a
dele por uma confluência situada a leste da ilha Marajó: era então simples
tributário do Amazonas”.
Ela,
sem o Tocantins, mede 5.594.000 quilômetros
quadrados; só sob a denominação de brasileira
3.620.000, limitada ao estado do Amazonas
1.720.060, e ao do Pará 1.070.000. O
seu curso, menor que o do Nilo, Missouri-Mississipi, e Yang-Tsé-Kiang, tem de
extensão, partindo do Nupe, que se
lança no tributário do Lauricocha,
até sair no Atlântico, 5.710 quilômetros e, só no Brasil, 3.200.
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As grandes crescentes das suas águas ou
extraordinárias baixantes, cada qual delas com duração de seis meses a um ano,
tornam variável e por isso mesmo incalculável a dimensão de sua maior ou menor
largura. No período da sua crescente ficam
submergidas as partes mais baixas de sua margem, e a maior parte das ilhas do
imenso arquipélago, formado em todo o seu leito; e por este motivo não se pode
determinar com exatidão a dimensão da largura do rio.
O contrário disto dá-se com a grande
baixante (sic) das águas, a vista da
parte baixa das margens, que se achando submergidas, surgem barrancosas com a
altura de 16 e mais metros, e as suas praias que avançam para o meio do rio,
mais de três quilômetros.
Herndon avaliou em 1,5 milha (3.332 metros) por hora a
corrente do Amazonas, que se torna maior em tempo da sua máxima enchente e
menor na vazante; entretanto, a sua velocidade em muitos lugares é calculada,
próximos das embocaduras de rios, pedras e cachoeiras de 5 a 6 milhas por hora.
Em frente a Óbidos, onde mais
estreita-se o Amazonas, mede de largura 1566 metros, de profundidade no meio
132, e junto às margens 44; e de corrente mede também uma velocidade média, de
0,63m a 1,34m por segundo, parecendo-me todavia haver engano neste último
cálculo.
Onezime Reclus avalia a profundidade do
rio em 50 a
100 metros .
A extensão da influência das marés, que no Amazonas é de 750 quilômetros ,
chega só até Óbidos, onde a preamar
atinge 0,33m; e segundo Wappeus 500 milhas da embocadura do Amazonas até
Óbidos. O rio começa a encher, como
diz Saint Adolphe, em novembro e atinge a sua máxima elevação em junho.
No mar a sua embocadura partindo da ponta de Tigioca até Macapá, e a ilha de
Marajó de permeio, segundo Ayres do Casal na sua “Geografia Brasileira ou
Relação histórica-geográfica do Brasil”, 50 léguas, e até o cabo Norte, como calculou Wappeus, 180 milhas . Baena no seu “Ensaio Corográfico da
Província do Pará” mede a largura da embocadura da ponta do Maguary, a N. E. da ilha do Marajó, ao rio Arauari (Araguari) – 56 léguas e 2/3.
Corre o Amazonas de oeste para leste,
atravessa proximamente a mesma latitude, possui o mesmo clima as suas margens,
e as suas chuvas não caem ao mesmo tempo em toda a sua extensão, havendo mesmo
uma diferença de seis meses entre o norte e o sul.
Na extensão de mais ou menos 70.000 quilômetros é navegável o rio Amazonas por navios à vapor de 2 a 30 pés de calado, bem assim
os seus paranamirins, paranás, lagos, igarapés, afluentes, tributários e
subtributários dos afluentes, e secções encachoeiradas de alguns destes.
A sua navegação até 31 de dezembro de 1852
fazia-se com pequenas embarcações à vela ou a remo e sirga, a exceção de 5
viagens, que efetuaram nos anos de 1843, 1845, 1848, 1850 e 1851, os vapores da
Marinha de Guerra Brasileira, Thetis e Guapiassu, tendo sido uma ao Xingu e Tapajós, uma a Vila Bela (Nova da
Rainha), uma ao rio Branco, uma ao rio Negro até Tauapessassu, e ao Solimões
até Tabatinga, e a última à Manaus.
Principiaram com regularidade as viagens a
vapor do rio Amazonas entre Belém e
Manaus em 1º de janeiro de 1853.
O vapor brasileiro “Marajó”, primeiro da
Companhia de Navegação, Comércio e Colonização do Amazonas, incorporada por
Irineu Evangelista de Souza (Visconde de Mauá), capitalista brasileiro e
natural do Rio Grande do Sul, iniciou essas viagens, sendo precedido esse navio
pelo vapor “Rio Negro”, da mesma companhia, a 7 de agosto do mesmo ano.
Este na sua 3ª viagem, em
regresso de Manaus para Belém, encalhou no dia 14 de outubro, perto da
embocadura do rio Madeira sobre as pedras que ficam abaixo da ilha do Espírito
Santo a pouca distância acima de Serpa (Itacoatiara).
O 1º vapor que sulcou as águas do Solimões e Marañon entre Manaus e Nauta,
depois da viagem a Tabatinga do vapor de guerra Guapiassu entre 1848 foi o
“Marajó”, saindo a 23 de setembro do mesmo ano de 1853 do porto de Manaus, para
iniciar a 3ª linha, na conformidade do contrato do referido Irineu
Evangelista de Souza com o governo.
Depois desta navegação à vapor do Solimões e
Marañon, a Companhia do Amazonas efetuou a do Rio Negro, entre Manaus e S. Isabel, fazendo seguir o vapor
“Monarca” em 15 de janeiro de 1855. Esta viagem foi a 3ª, a vapor,
que se fez ao Rio Negro, tendo sido a 1ª, até o Rio Branco, realizada em 9 de setembro de 1843, a 2ª, a 25
de maio de 1848 até Tauapessassu pelo vapor de guerra “Guapiassu”.
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As cores das águas
do rio Amazonas e dos seus tributários são diversas, notando-se que as do
Amazonas, propriamente dito, e do Xingu é [sic] parda, do rio Negro é preta,
dos rios Madeira, Branco, Padauari, Japurá, Purus, Juruá e alguns mais é branca,
do rio Tapajós é verde-castanha, do rio Tocantins é verde-clara, dos lagos em
geral é preta e dos igarapés é de alguns preta e da sua maior parte branca
cristalina. (segue)
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