Peça decorativa em madeira |
Com esta postagem, encerro a reprodução do discurso de boas-vindas ao arcebispo do Amazonas, dom João de Souza Lima, proferido por ocasião de sua posse como sócio efetivo no Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas.
O autor, o saudoso padre Raimundo Nonato Pinheiro, orador daquele sodalício, o fez publicar em O Jornal, de 26 outubro de 1969.
Esclareço, por oportuno, que ocupo a vaga deixada por este metropolita, com seu falecimento, desde novembro de 1994.
A MISSÃO DOS INSTITUTOS HISTÓRICOS
Grande e benemérita tem sido no país
a missão dos Institutos Históricos e Geográficos, como alavancas, da cultura
nacional, tranquilas mansões de apaixonados estudiosos, para
servir-me de significativa expressão
do barão de Ramiz Galvão, recebendo no
Instituto Histórico Brasileiro o notável espírito do Cardeal Cerejeira, proeminente Patriarca de Lisboa, prelado em que se deviam
mirar, como em espelho de cristal, os prelados
de todos
os quadrantes, o qual, sem embargo de
sua proceta, mas luminosa senectude, ainda traz o espírito primaveril
iluminado aos clarões de arrebóis purpurinos.
Disseminados pelo país e
contando com parcos recursos em assunto de ajuda financeira, realizam obras de estudos,
pesquisas e promoção cultural,
divulgando documentos e salvando para a
posteridades o legado de inteligência
e cultura que nos transmitiram a paciência e o zelo patriótico dos nossos
antepassados.
Com júbilo espiritual hoje vos recebemos nesta
hora de encantamentos, estrelada de todas as resplandecências, a que não faltou o principado do mundo oficial
nem o cardinalato das mentalidades mais
lúcidas e pujantes
de minha terra, para vos colocarmos com a pompa do estilo e a magnificência das
horas triunfais, na cadeira austera do historiador beneditino Frei Gaspar
da Madre de Deus, cujo elogio tão elegantemente compusestes; nome que sem dúvida vos acordou ao espírito a veneranda cocatedral
da Madre de Deus, da capital pernambucana, que prolonga no Recife as gloriosas
tradições da velha Catedral de Olinda, mãe e
madrinha de tantas igrejas do Nordeste, como já proclamou o eminente sociólogo
e nosso sócio correspondente Gilberto Freyre, vosso preexcelso conterrâneo, que
acaba de irradiar clarões nessa mesma
tribuna em que vindes de proferir
vosso admirável discurso de posse.
O SÓLIO DA NOITE
Nesta festa sumamente suntuosa, de comemorações
históricas e de vossa solene recepção,
sois a figura central, objeto do nosso respeitoso culto e fervorosa
admiração. Como nos conclaves dos cardeais, reunidos para a eleição do
Papa, caem os dosséis de todos os baldaquinos, aurifulgindo apenas o vosso, o eleito
dos príncipes desta Casa, num conclave memorável,
em que se prestou justiça ao mérito e ao talento de um prelado ilustre, cuja modéstia,
num mundo de repelentes cabotinismos, ainda é um esmalte precioso, e até
diria, a verdadeira pedra de toque das grandes inteligências e
altivolantes espíritos! Ante o esplendor desta noite memorável, que rivaliza
com o dia pelo fulgor de tanta claridade, pela eventual circunstância de ser o
orador oficial da Casa, coube-me a grata e honrosa tarefa de dar-vos as
boas-vindas em nome de tão ilustres confrades, que se honram em serem
presididos por um embaixador da Justiça, que encaneceu no exercício dignificante
da magistratura.
E vendo-vos os
dois -- um, embaixador da Justiça; outro, embaixador da Paz, só me cabe
proferir jubiloso as palavras jucundas que o salmista pronunciou ao som harmonioso das citaras: "Justitia et pax osculata sunt"! A Justiça
e a Paz se oscularam, para a grandeza desta
Casa, que toda se ilumina com o vosso ingresso, como o raiar das pompas
matinais do meu Amazonas, que é vosso pelo
coração e pelos labores apostólicos,
pompas matinais que explodem em claridade e se desatam em policromias
deslumbrantes, num luxo oriental de galas e esplendores, de gorjeios e aleluias, de flores e arômatas; noite fúlgida e
gloriosa, que me obriga mais uma vez a fazer reboar nas arcadas dos lábios a expressão elegante do
profeta e rei Davi: "Et r.. no sicut dies illuminabitur!" (E a noite
será clara como o dia!)
No esplendor dessa claridade
triunfante, eu vos saúdo, senhor Dom João de Sousa Lima, ufano com meus confrades de arregaçar
as infulas de vossa mitra
neste como pontifical solene,
que nada fica a dever, em grandeza e brilho
aos pontificais de vossa Catedral Metropolitana, nos dias supremos de Ressurreição
e Pentecostes, em que reafirmais, ao bimbalhar dos sinos, a perenidade do Cristo,
Centro, Rei, Centro e Divisor da História, a quem
Paulo, o Apostolo, se aprazia em chamar o homem-eterno, porque Deus humanado, o
Cristo que é sempre o mesmo -- "heri, hodie,
ipse et in saecula!" -- o Cristo de ontem, de hoje que há de ser o mesmo
de amanhã no cortejo e na perpetuidade de todos os séculos!
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