CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

quarta-feira, maio 27, 2015

DOM JOÃO DE SOUZA LIMA (3)

Peça decorativa em madeira
Com esta postagem, encerro a reprodução do discurso de boas-vindas ao arcebispo do Amazonas, dom João de Souza Lima, proferido por ocasião de sua posse como sócio efetivo no Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas.
O autor, o saudoso padre Raimundo Nonato Pinheiro, orador daquele sodalício, o fez publicar em O Jornal, de 26 outubro de 1969.
Esclareço, por oportuno, que ocupo a vaga deixada por este metropolita, com seu falecimento, desde novembro de 1994.


A MISSÃO DOS INSTITUTOS HISTÓRICOS  


Grande e benemérita tem sido no país a missão dos Institutos Históricos e Geográficos, como alavancas, da cultura nacional, tranquilas mansões de apaixonados estudiosos, para servir-me de significativa expressão do barão de Ramiz Galvão, recebendo no Instituto Histórico  Brasileiro o notável espírito do Cardeal Cerejeira, proeminente Patriarca de Lisboa, prelado em que se deviam mirar, como em espelho de cristal, os prelados de todos os quadrantes, o qual, sem embargo de sua proceta, mas luminosa senectude, ainda traz o espírito primaveril iluminado aos clarões de arrebóis purpurinos. 

Disseminados pelo país e contando com parcos recursos em assunto de ajuda financeira, realizam obras de estudos, pesquisas e promoção cultural, divulgando documentos e salvando para a posteridades o legado de inteligência e cultura que nos transmitiram a paciência e o zelo patriótico dos nossos antepassados.

Com júbilo espiritual hoje vos recebemos nesta hora de encantamentos, estrelada de todas as resplandecências, a que não faltou o principado do mundo oficial nem o cardinalato das mentalidades mais lúcidas e pujantes de minha terra, para vos colocarmos com a pompa do estilo e a magnificência das horas triunfais, na cadeira austera do historiador beneditino Frei Gaspar da Madre de Deus, cujo elogio tão elegantemente compusestes; nome que sem dúvida vos acordou ao espírito a veneranda cocatedral da Madre de Deus, da capital pernambucana, que prolonga no Recife as gloriosas tradições da velha Catedral de Olinda, mãe e madrinha de tantas igrejas do Nordeste, como já proclamou o eminente sociólogo e nosso sócio correspondente Gilberto Freyre, vosso preexcelso conterrâneo, que acaba de irradiar clarões nessa mesma tribuna em que vindes de proferir vosso admirável discurso de posse.


O SÓLIO DA NOITE  


Nesta festa sumamente suntuosa, de comemorações históricas e de vossa solene recepção, sois a figura central, objeto do nosso respeitoso culto e fervorosa admiração. Como nos conclaves dos cardeais, reunidos para a eleição do Papa, caem os dosséis de todos os baldaquinos, aurifulgindo apenas o vosso, o eleito dos príncipes desta Casa, num conclave memorável, em que se prestou justiça ao mérito e ao talento de um prelado ilustre, cuja modéstia, num mundo de repelentes cabotinismos, ainda é um esmalte precioso, e até diria, a verdadeira pedra de toque das grandes inteligências e altivolantes espíritos! Ante o esplendor desta noite memorável, que rivaliza com o dia pelo fulgor de tanta claridade, pela eventual circunstância de ser o orador oficial da Casa, coube-me a grata e honrosa tarefa de dar-vos as boas-vindas em nome de tão ilustres confrades, que se honram em serem presididos por um embaixador da Justiça, que encaneceu no exercício dignificante da magistratura.

E vendo-vos os dois -- um, embaixador da Justiça; outro, embaixador da Paz, só me cabe proferir jubiloso as palavras jucundas que o salmista pronunciou ao som harmonioso das citaras: "Justitia et pax osculata sunt"! A Justiça e a Paz se oscularam, para a grandeza desta Casa, que toda se ilumina com o vosso ingresso, como o raiar das pompas matinais do meu Amazonas, que é vosso pelo coração e pelos labores apostólicos, pompas matinais que explodem em claridade e se desatam em policromias deslumbrantes, num luxo oriental de galas e esplendores, de gorjeios e aleluias, de flores e arômatas; noite fúlgida e gloriosa, que me obriga mais uma vez a fazer reboar nas arcadas dos lábios a expressão elegante do profeta e rei Davi: "Et r.. no sicut dies illuminabitur!" (E a noite será clara como o dia!)

No esplendor dessa claridade triunfante, eu vos saúdo, senhor Dom João de Sousa Lima, ufano com meus confrades de arregaçar as infulas de vossa mitra neste como pontifical solene, que nada fica a dever, em grandeza e brilho aos pontificais de vossa Catedral Metropolitana, nos dias supremos de Ressurreição e Pentecostes, em que reafirmais, ao bimbalhar dos sinos, a perenidade do Cristo, Centro, Rei, Centro e Divisor da História, a quem Paulo, o Apostolo, se aprazia em chamar o homem-eterno, porque Deus humanado, o Cristo que é sempre o mesmo -- "heri, hodie, ipse et in saecula!" -- o Cristo de ontem, de hoje que há de ser o mesmo de amanhã no cortejo e na perpetuidade de todos os séculos!

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