Foto da solenidade, arquivo do IGHA |
Em quase um centenário
de atividades, a Casa de Bernardo Ramos acolheu entre seus membros apenas dois
Bispos da Igreja católica. O primeiro – dom João Irineu Jofilly, ajudou a
fundar esse Instituto em 1917. O segundo, Dom João de Souza Lima, ocupou a
Cadeira 24, patronada por frei Gaspar de Madre de Deus. Foi recebido em outubro
de 1969, pouco mais de dez anos após tomar posse na arquidiocese do Amazonas.
Dirigia o
IGHA o desembargador João Corrêa, que presidiu uma solenidade repleta de
autoridades e convidados. Padre Nonato Pinheiro, orador da Casa, fez a oração
de boas-vindas. A partir dessa postagem, e dividida em três partes, reproduzo a
mencionada saudação.
Senhor Arcebispo
Dom João de Sousa Lima
O Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA) pela segunda vez tem a
honra insigne de acolher em seu grêmio um bispo da Santa Igreja. Logo no dealbar de sua
inauguração, em 1917, outro antístite,
também chamado João, abrigou-se à sombra dessa casa austera, como seu " primeiro
vice-presidente, aqui deixando o
esplendor de sua mitra fulgentíssima,
o brilho meridiano de sua inteligência, a grandeza de sua cultura polimorfa, o
colorido de sua palavra eloquente e o fascínio de sua forte e inconfundível
personalidade: Dom João Irineu Joffily.
Paraibano de nascimento, sua
fisionomia, iluminada pelo fulgor de
dois grandes olhos penetrantes, revelava as cintilações
de todos os talentos. Sacerdote da arquidiocese de João Pessoa (PB), teve a
dita de ser o "baculum
senectutis", o cajado da velhice do preclaro Dom Luís Raimundo da Silva
Brito, arcebispo de Olinda e Recife, uma das mais soberbas culturas do Episcopado Nacional, maranhense ilustre, que tanto se constelara de glórias no Rio de Janeiro, como pregador da Capela
Imperial.
Foi na escola de Dom Luís de Brito que vosso egrégio antecessor no sólio episcopal
amazonense se preparou para as lides pastorais,
assim na, então, Diocese do Amazonas
como na Arquidiocese de Belém do Pará, cujo
sólio também ilustrou com acendrado zelo e alto descortino.
Outro Dom João ingressa agora solenemente neste areópago de cultura, apercebido do mesmo caráter episcopal, das
mesmas virtudes apostólicas e dos mesmos
pergaminhos de inteligência e erudição, que vossa reconhecida modéstia não logra ocultar, porque o passado, no dizer de elegante escritor, ainda quando anda, sente-se que tem asas...
pergaminhos de inteligência e erudição, que vossa reconhecida modéstia não logra ocultar, porque o passado, no dizer de elegante escritor, ainda quando anda, sente-se que tem asas...
Sacerdote secular da Diocese de Pesqueira, cedo
manifestastes pendor para o magistério, lecionando, entre outras disciplinas, a
ciência altíssima das Matemáticas, que na estimativa de grandes mestres, tanto
contribui para disciplinar os talentos e
comunicar aos espíritos particular
cunho de exação e equilíbrio, dando a tudo a justa medida do comedimento e da
proporção. Professor de renome da ciência dos números, haveis de ter
experimentado a veracidade e o encanto daquela observação de Dom José Pereira
Alves, Bispo de Niterói, em cujos lábios de ouro, ou em cujo cálamo de filigranas, encontrei esta pepita: "Em tudo sinto a poesia,
até na austera Matemática, pelo menos no cálculo sublime!". Acredito que
o estudo e domínio dessa disciplina tão exata haja
influenciado poderosamente em vossa
formação, dando-vos essa admirável exação que
todos surpreendemos na administração da arquidiocese e no governo da vida,
reflexo do longo trato de uma das ciências exatas, cujo magistério exercestes
em Pesqueira (PE) com tanto proficiência e brilho.
UM DEPOIMENTO VALIOSO
Tive a ventura de conhecer em São Luís do Maranhão vosso grande amigo, pai e protetor, o saudoso arcebispo Dom
Adalberto Acioly Sobral, bispo de Pesqueira (PE) e posteriormente arcebispo de
São Luís do Maranhão, onde a
irmã Morte o foi
buscar para o repouso dos Justos, na mansão de Deus. Nunca me foi
dado ver outro homem de tão singular personalidade, o qual, servindo-me de
palavras de Camilo, aplicadas aos
poetas, me dava a impressão de anular em si mesmo todas as leis da física ou
da fisiologia, para viver de uma única entranha:
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o coração! Homem de coração tão grande, que não sei
como lhe cabia no peito! Teve-me a seu lado muitas vezes, quando lá estive em
viagem de férias, no ano de 1950.
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Ainda não éreis nosso
arcebispo metropolitano, e mais de uma
vez me falou dos vossos talentos e da vitória de vossos estudos no Seminário de
São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, para onde vos enviara em' seminarista, dando-vos oportunidade de
uma formação intelectual mais apurada, na forja dos grandes mestres que, sabem
ser os filhos de Santo Inácio de Loyola,
que reservam tanto devotamento ao estudo das ciências e ao trato das letras,
tão em consonância com o oráculo das Letras Santas, a afirmar: "Labia
sacerdotis custodiunt scientiam!" (Os lábios do sacerdote guardam a
ciência!).
Aprimorados vossos conhecimentos no estudo e na leitura, sorvendo em torrente os lampejos mentais de preceptores preexcelsos, iniciastes vosso currículo sacerdotal na Diocese de Pesqueira (PE), onde mão poderosa de Pio XII vos foi buscar para colocar-vos entre os príncipes da cristandade, robustecendo com a plenitude do sacerdócio. Primeiro Diamantina, em Minas; depois, Nazaré da Mata, em vosso estado natal, vos receberam como Pastor das almas, respectivamente como Bispo e Bispo Diocesano. Naquela diocese sertaneja ouviste pela terceira vez a voz do Vigário de Cristo, promovendo-vos a Arcebispo Metropolitano de Manaus, onde tendes desenvolvido um fascinante programa pastoral, dedicando-vos com alma, inteligência, coração e vida ao anúncio da palavra de Deus, a transmissão da mensagem do Evangelho, pão e luz, que sustenta e ilumina as almas sequiosas dos orvalhos celestes!
Aprimorados vossos conhecimentos no estudo e na leitura, sorvendo em torrente os lampejos mentais de preceptores preexcelsos, iniciastes vosso currículo sacerdotal na Diocese de Pesqueira (PE), onde mão poderosa de Pio XII vos foi buscar para colocar-vos entre os príncipes da cristandade, robustecendo com a plenitude do sacerdócio. Primeiro Diamantina, em Minas; depois, Nazaré da Mata, em vosso estado natal, vos receberam como Pastor das almas, respectivamente como Bispo e Bispo Diocesano. Naquela diocese sertaneja ouviste pela terceira vez a voz do Vigário de Cristo, promovendo-vos a Arcebispo Metropolitano de Manaus, onde tendes desenvolvido um fascinante programa pastoral, dedicando-vos com alma, inteligência, coração e vida ao anúncio da palavra de Deus, a transmissão da mensagem do Evangelho, pão e luz, que sustenta e ilumina as almas sequiosas dos orvalhos celestes!
O que realizastes
na arquidiocese de Manaus é obra que
vos enaltece e glorifica. Por vossa indústria e zelo, novas prelazias foram
criadas, fundando-se na capital novas residências religiosas. Muito vos
empenhastes na irradiação das escolas
radiofônicas e na promoção de semanas de ruralismo, dando vosso incentivo à fixação do homem do campo em
seu próprio meio, levando-o a não se
empolgar pelas miragens mirabolantes da capital, onde o índice de desemprego
desafia a acuidade de sociólogos e governantes.
Sintonizando com o espirito da época, tende-vos preocupado com o
problema das lideranças, brotando de vosso zelo a fundação da Maromba, centro
arquidiocesano para formação de líderes e promoção de cursos de superior
cultura, religiosa, social e
filosófica. Se é verdade o que proclamou
Bacon, que são as ideias que governam o mundo, aprendestes que urge disciplinar
nas mentes dos homens ideias fecundas e luminosas, para a floração primaveril de atos decisivos
e decisões supremas no rumo de uma comunidade
feliz, no clima e na luminosidade daquele MUNDO MELHOR, preconizado pela
genialidade de Pio XII, e cujos horizontes azuis tão bem divisastes em memorável Carta Pastoral aos diocesanos de Nazaré
da Mata (PE), dada a estampa pela Editora Vozes, de Petrópolis.
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