GE Marechal Hermes (extinto), sede do NPOR |
Nesta
crônica de Waldir Garcia, sacada de seu livro
À sombra dos igapós (Manaus: Imprensa
Oficial, 1987, com ilustrações do artista Edemberg Jr.), o autor descreve a
esdruxula situação de um integrante do NPOR. Como se sabe, esta unidade de
ensino do Exército foi inaugurada em Manaus, por ocasião da II Guerra Mundial. Mais
precisamente, em 1942, portanto, há mais de 40 anos. No entanto, esteve
desativado entre de 1945 a 1965.
O personagem desta página é o
saudoso Vicente de Mendonça Júnior, que depois de desistir do curso, conquistou
em 1949 a graduação na Faculdade de Direito do Amazonas. Tornou-se um advogado
competente, tendo prestado serviço ao governo do Estado.
Relembrando o NPOR, aproveito o
ensejo para convocar seus integrantes para organizarmos um dicionário com os
nomes dos ex-alunos.
A DIREITA VOLVER DE MENDONCINHA
Mendoncinha
sempre foi estúrdio e pávulo. Quando jovem, integrava o time de futebol, que
denominaram de Itacoatiara, ao lado de Benjamim, João e Paulo Onety. Surravam
no futebol, com frequência, ao Amazonas Futebol Clube, onde pontificavam os
famosos jogadores Secundino e Parimé, que enalteceram o esporte bretão na Velha
Serpa. Mendoncinha quando veio para Manaus estudar, trouxe também o carinhoso epíteto de "Tim-Tim", mas aqui, pouca gente sabia disso, pois o singular apelido foi conquistado graças à forma como imitava a Matintaperêra, nas proximidades do aningal do Jauari, quando amedrontava os supersticiosos moradores para ficar a sós com uma cutuba que ali residia.
Em
1942, a Segunda Guerra Mundial continuava acirrada na Europa e na Ásia. Fundado
o NPOR de Manaus, nele ingressaram os estudantes em idade de prestar o serviço
militar, inclusive Mendoncinha, que, por sinal, aluno inteligente, obtinha
notas elevadas em Topografia e Serviços Gerais, menos na prática de Educação
Física, Ordem Unida e Tiro, porque quando jogador de futebol em sua terra
natal, e no "Olho Mágico", aqui em Manaus, time organizado por
Domingos Mourão e o português Antônio Coimbra, e que, nos domingos, treinava no
campo do Parque Ajuricaba, onde o time chegava às sete da manhã, no saudoso
bonde da linha de "Flores", Mendoncinha sofreu uma potente pancada no
joelho esquerdo, danificando-lhe o menisco, contusão que o fez ficar diminuído
em sua movimentação. Um reumatismo impiedoso, fê-Io sofrer ainda mais, até
hoje.
Aconteceu
que certa vez, no NPOR, num exercício de Ordem Unida, comandado pelo tenente
Aníbal Gurgel do Amaral, as vozes de
comando eram dadas assim: PeIotão, sentido! Ordinário,
marcha!" E depois de alguns passos cadenciados, vinha a segunda voz de
comando: "Direita.a.a.a - Volverrr!" Todos voltavam para a direita, menos Mendoncinha, que saía em direção oposta.
O
tenente Aníbal chamava Mendoncinha à ordem, corrigia-o severamente. Segundo
tempo. As mesmas vozes de comando se repetiam. Agora, assim:
"Esquerda.a.a., Volverr!" e Mendoncinha
voltava-se para a direita. Isso irritava bastante o instrutor, que resolveu
fazer uma parada para ensinar individualmente Mendoncinha, sob as vistas
hilariantes e galhofantes de seus colegas Roberto Caminha, Octávio Mourão e
Francisco Monteiro de Paula, o "Salgadinho".
Na
praça São Sebastião, o tenente Aníbal desenhou na calçada o itinerário a
marchar, e com flechas indicativas da direita e da esquerda. E começou a dar as
vozes de comando, e Mendoncinha sempre errando. O tenente irritou-se demais, e já bastante encabulado com a atuação do aluno, voltou-se para Mendoncinha e disse: "78 – esse era o número dele – você até parece recruta de Itacoatiara! De onde você é, 78?" - Mendoncinha respondeu trêmula e pausadamente: "Sou de ltacoatia... a... a... a... ra, seu tenente."
O
tenente Aníbal puxou os cabelos e disse, desabafando sua irritação: "Eu
logo vi... i... i... i, 78?! Só podia ser, não é?" A que Mendoncinha
respondeu convicto: "É, seu Tenente... e do bairro de Jauari"...
Dias
depois, noutra instrução de tiro ao alvo, a posição determinada pelo instrutor,
tenente Facó, era de joelhos. Todos os fuzis, nas mãos dos alunos, em posição
de tiro. Mendoncinha ao lado de Agobar, não conseguiu ajoelhar-se, em virtude
do malfadado reumatismo, mas agachou-se, para ficar na posição de tiro. O
tenente instrutor ao inspecionar a posição dos alunos, notou que Mendoncinha
não estava ajoelhado, mas agachado, e determinou: "Seu 78, não atrapalhe a
instrução! Saía daí! Mendoncinha, muito triste e acanhado, saiu do local e
nunca mais voltou ao NPOR. Foi cumprir o serviço militar no velho 27º BC, onde chegou até à graduação de cabo.
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