CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

terça-feira, novembro 12, 2013

À SOMBRA DOS IGAPÓS (2)


 
Capa do livro
Waldir Garcia, juiz e educador, nascido em Silves (AM) registrou no livro de crônicas À sombra dos igapós (Manaus: Imprensa Oficial, 1987) uma série de fatos não apenas de sua cidade natal, mas igualmente de sua atividade em Manaus. O livro traz ilustrações do competente artista Edemberg Jr.
Catei deste livro a crônica abaixo, para relembrar o saudoso professor e eminente magistrado.

O NOSSO VELHO GYMNASIO
Ginásio Amazonense D Pedro II, 1936
Domingo passado fiquei algum tempo observando o prédio do nosso velho Gymnasio Amazonense Pedro II, venerável monumento arquitetônico da avenida 7 de Setembro, onde fiz o curso ginasial. Corroído pela ação deletéria do tempo, com acentuados ares de abandono, grades circundantes quebradas e até um pé de apuizeiro nascente em uma de suas paredes verifiquei, há algum tempo atrás, e fiquei parado, estático, passando a recordar principalmente o ano de 1936, quando era secundarista, e o Gymnasio tinha a dirigi-lo a figura nunca esquecida de mestre e amigo: o professor Carlos Mesquita, que nesse ano promoveu uma festa maravilhosa comemorativa do cinquentenário de sua fundação.

Evoquei, então, meus colegas do 2º ano ginasial, com os quais mantinha maior ligação de companheirismo e estudos: Alípio Meninéa Netto, Antero Riça, Adiles e Lais Galvão Bivar, Asdrubal Pedrosa de Oliveira, Carlos Lopes Rodrigues, Claudio Coelho, Friné Benayon, Guilherme dos Santos Ferreira, Graciliano Muniz, Hugo Garcia, José Bezerra, Lúcio Cavalcante, Manoel de Leiros Garcia, José Alonso, Mário Fernandes da Costa (o Mário Broa), Moisés Benarrós Israel, Murilo Gama Rodrigues, Rodolfo Guimarães Vale e Yolanda Pinto.

Recordei nossas equipes desportivas de futebol e basquete, aguerridas e sempre triunfantes. No futebol pontificavam: Yano Monteiro, goleiro já famoso, seguido de José Bezerra, Manoelito, Hugo, Claudio Coelho, Zé Bento e, sobretudo, René Monteiro e Minos Azevedo, famosos goleadores da época.

No basquete brilhavam Clóvis e Clodomir Coelho, Jurandir Costa (o Bacurau), Silvio Tapajós, Paulo Saldanha e muitos outros. Recordei a rivalidade então existente entre os alunos do Colégio Dom Bosco e do Gymnasio e lembrei a briga havida entre Geraldo Coimbra, do Dom Bosco, e Mário Broa, do Gymnasio, dois gigantes, que se defrontaram de igual para igual sem haver vencido nem vencedor.
Mas evoquei, sobretudo, a figura de nossos velhos Mestres, que saudosamente passo a enumerar: Álvaro Botelho Maia, Pe. Manoel Monteiro, Carlos Mesquita, Vivaldo Palma Lima, Antônio Teles de Sousa, José Joaquim Martins Santana, Ricardo Mateus Barbosa de Amorim (o velho Buda, como respeitosamente o chamávamos), Pe. Israel Galdino de Sousa, Aurora Ramos de Moraes Rego, Augusto Rocha, Maria Augusta Bacelar, Maria Nogueira Marques, Manoel Bastos Lira, Arthur César Ferreira Reis, Antônio Conte Teles de Sousa, Pedro Silvestre da Silva, Maria Luiza de Saboya, Paulo de Mello Rezende, Alcides Nogueira, Maria do Carmo Samico, o instrutor militar Sandoval Amorim e, sobretudo, o inefável Agnello Bittencourt, o qual, de todos os mestres que tive nessa época, foi o que me deixou a mais nítida recordação e exemplo, pela sua postura elegante e sóbria, educador paradigmático, cuja presença em sala de aula ou fora dela, por si só, imprimia respeito e veneração de todos seus alunos.

Sua voz mansa, paternal, explicações objetivas e pragmáticas, sem contar com os recursos pedagógicos de hoje, eram suficientes para um proveitoso aprendizado da matéria que lecionava. Foi professor de duas gerações de Garcia, de meu pai, formado em 1912, e da minha geração. Tornei-me amigo de seus filhos Mário, que militou comigo na Magistratura, Agnello Filho e Ulisses, a quem devoto sincera admiração pelos trabalhos intelectuais que produz, e pelo amazonismo que defende e venera.

À época do cinquentenário do Gymnasio Amazonense Pedro II, em 1936, seu então diretor, professor Carlos Mesquita, publicou a seguinte Mensagem:

"Ao comemorar o Ginásio Amazonense Pedro II o seu cinquentenário, eu quero saudar os trezentos e cinquenta ginasianos que cursam suas aulas, animando-os, incentivando-os ao estudo que eleva, ao bom comportamento que enobrece. Unamo-nos todos – professores e alunos – e visemos a defesa do Ginásio, que é a do Amazonas, que é a do Brasil. Trabalhemos, estudemos, legando, assim, às gerações ginasianas futuras, o exemplo dignificante dos amazônidas de hoje.
Avante, ginasianos amazonenses! Pelo Ginásio! Pelo Amazonas! Pelo Brasil!
a) Carlos Mesquita - Diretor
A Mensagem do professor Carlos Mesquita, supratranscrita, anima-nos a lutar pelo soerguimento do velho Gymnasio Amazonense Pedro II. Anima-nos e conforta-nos, sobremodo, a alvissareira notícia que nos foi transmitida pela atual secretária de Educação e Cultura e presidente do Conselho Estadual de Educação, Dra. Freida Bittencourt, de que o dinâmico governador Gilberto Mestrinho mandará, em breve, soerguer o prédio do nosso velho Gymnasio Amazonense Pedro II.

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