CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

segunda-feira, maio 31, 2010

Deu em A NOTÍCIA II

Há 30 anos

Em 30 de maio de 1980, reuniu-se na sede deste jornal o comando do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Depois que a Justiça destinou a sigla à deputada Ivete Vargas, em detrimento de Leonel Brizola. No Amazonas, o PTB seguia sob a direção do ex-governador Plínio Coelho.

As diretas já tomavam conta do País, e as eleições para governador eram outra promessa, daí as articulações empreendidas por respeitáveis políticos nessa reunião no gabinete do proprietário desse matutino, o ex-deputado Andrade Neto.



A Notícia. Manaus, 30 maio 1980
A sequência dos fatos já sabemos: Plínio Coelho desistiu de qualquer embate político; o ex-governador Gilberto Mestrinho foi eleito governador em 1982 e 1990; e o empresário passou adiante o jornal (hoje extinto) e retirou-se de Manaus.

domingo, maio 30, 2010

POLÍCIA MILITAR DO AMAZONAS (XII)

ENCONTRO REGIONAL


A Polícia Militar do Amazonas (Pmam) reuniu os comandantes de Policias e Bombeiros Militares do Norte, no mês passado. Objetivava “alavancar diretrizes que transformem a segurança pública regional num referencial para o Brasil.”

Revista Polícia Militar, maio 2010
Deu-se ao evento, ocorrido entre 22 e 24 de abril passado, a denominação de I Encontro de Comandantes Gerais das Policias Militares e dos Corpos de Bombeiros da Região Norte. Muito bem.


No entanto, não apenas um, mas quatro encontros semelhantes já foram realizados no Norte. O I Encontro, patrocinado pela própria Pmam, foi realizado nos dias 13 e 14 de dezembro de 1990. Era comandante geral da corporação o coronel Romeu Medeiros Filho.



O II Encontro ocorreu na capital do Pará, entre 7 e 9 de março de 1991. Nele se decidiu pela instalação de uma academia de polícia regional para a formação de oficiais. Embora houvesse disposição das entidades da região, a Academia existe, todavia, criada e mantida pela Polícia Militar do Pará. A Academia Coronel Fontoura já formou bom número de oficiais amazonenses.


A capital do Acre abrigou o III Encontro, que se estendeu de 23 a 25 de maio do mesmo ano. E, finalmente, em Porto Velho, capital de Rondônia, foi realizado o último desses encontros, que acolheu comandantes de outros pontos do País, interessados na solução de preocupantes problemas regionais, diversos dos enfrentados em nossos dias.


Na condição de assistente do comandante geral, participei da formulação do primeiro e, na condição de convidado, estive presente aos demais. Está feito o registro.

quinta-feira, maio 27, 2010

POLÍCIA MILITAR DO AMAZONAS (XI)

• Aumento do efetivo

A 10 de outubro 1878, em conformidade com a Lei n.o 383, a Presidência aumenta o efetivo da Guarda Policial para cinco oficiais e 105 praças. Autorizada ainda conforme art. 3º “a conceder uma gratificação de cem mil réis mensais ao médico que prestar à referida Guarda os seus serviços profissionais”, a presidência assim procede.


Neste ensejo, o Dr. Jonathas de Freitas Pedrosa (Salvador (BA) a 8 Abr. 1848-Manaus (AM) a 7 Jul. 1922) passou a clinicar na Guarda. Graduado pela Faculdade de Medicina da Bahia (1873) desembarcara em Manaus como oficial de saúde do Exército. Opta, todavia, por se demitir da Força Federal para tratar do pessoal da Força Estadual. Acaba por se radicar aqui, dedicando-se ao magistério, a partir da fundação do Colégio Ateneu Amazonense (1889). Envolve-se com a política e é eleito Senador, em duas oportunidades, e Governador do Estado (1913-1917).


  • Quartel da Guarda Policial
A Guarda Policial ocupa, a 31 de outubro, uma ala do Hospital da Caridade ainda em construção, hoje a desativada Santa Casa de Misericórdia.

Trata-se do terceiro aquartelamento da Guarda Policial. Acerca da mudança, o jornal Amazonas, de 1º de novembro, assinala a sensatez do Presidente da Província, barão de Maracaju, diante da mudança, posto “que o quartel da Guarda Policial não devia permanecer em casa alugada”.

• Novo comandante

Assume o comando da Guarda Policial, em 2 de dezembro de 1878, Manoel Geraldo do Carmo Barros, tenente coronel graduado do Exército. Era natural de Belém do Pará, nascido em 1820. Sua permanência no comando se prolonga até 1º dezembro de 1879, quando é indicado para comandar a Fortaleza da Barra de Santos, na província de São Paulo.


quarta-feira, maio 26, 2010

POLÍCIA MILITAR DO AMAZONAS (X)

• Major Silvério Nery

Mais um capítulo da história desta corporação. Em 19 de fevereiro de 1878, Silvério José Nery, major reformado do Exército, assume o comando da Guarda Policial, hoje Polícia Militar. Nery foi nomeado pelo 2º vice-presidente da Província, Guilherme Moreira, assegurando que nesse oficial “concorrem todas as qualidades necessárias para imprimir a ordem e disciplina no corpo de seu comando”.


Este comando perdura até 25 de novembro, quando Nery se afasta por doença, todavia, “na noite de 27 exalou o último suspiro, (...) seu cadáver foi ontem sepultado às 4 e meia horas da tarde, no cemitério São José”, segundo divulga o jornal Amazonas, de 4 de novembro. Desativado este cemitério, o local foi ocupado pela sede do Atlético Rio Negro Clube, em frente a Praça da Saudade, recentemente reformulada.

Major Silverio José Nery


A morte deste comandante possui um ineditismo, trata-se do único comandante a falecer no exercício da função, em mais de 170 anos de atividade da força militar estadual.


Silvério Nery, o patriarca, nasceu no Pará, em 1818. Assenta praça no Exército ainda em Belém, aos 18 anos. Prospera na atividade militar, obtendo o posto de alferes, em 1853. Com a mudança hierárquica, é transferido para a guarnição do Amazonas. Aqui constitui família, casando-se com Maria Antony. Em 1860 é promovido ao posto de tenente. Quando da Guerra do Paraguai alista-se voluntariamente e participa do conflito. No campo de batalha, em 1º de junho de 1867, é promovido a capitão. Ferido por tiro de fuzil, ainda no Paraguai, adquire uma “anquilose no joelho direito”, que lhe impedia a “locomoção ativa” (termos de sua inspeção de saúde).


Paulo Nery, 1958
Em 30 de novembro de 1871 é reformado no posto de major, devido aos ferimentos recebidos em combate. Não dispensa para os filhos, em especial Silvério e Constantino, os benefícios da legislação militar. Obtém a transferência dos jovens para a Corte, onde ambos se diplomam na Escola Militar.


Nery legou à sociedade numerosa e inesquecível linhagem que, por mistérios pouco conhecidos, estimula permanente contenda entre admiradores e desafetos. Essa disputa envolve tanto os pesquisadores acadêmicos, quanto os cultores da tradição oral.


Quatro de seus descendentes assumiram o governo do Amazonas: os filhos Silvério José Nery (1900-04) e Antônio Constantino Nery (1904-07) e os netos Júlio José da Silva Nery (1945) e Paulo Pinto Nery (1982-83).


• Barão de Maracaju


Em 7 de Março de 1878, toma posse do governo do Amazonas o barão de Maracaju, coronel do Exército Rufino Enéas Gustavo Galvão. Seu currículo, aposto nos editos e demais documentos, propalava ser o mesmo bacharel em matemática; coronel do corpo de engenheiros; dignatário da Imperial Ordem do Cruzeiro; cavaleiro de São Bento de Aviz e da Rosa; condecorado com as Medalhas do Mérito Militar, Rendição de Uruguaiana e Campanha do Estado Oriental (1852), e do Paraguai; Presidente e Comandante das Armas da Província do Amazonas.

O barão não era pouca coisa!

terça-feira, maio 25, 2010

SEMANA DE MAIO

Stenio Neves

Há dois dias, lembrando o centenário de nascimento de Stenio Neves, informei que o mesmo havia nascido em Manaus. No entanto, o recorte de jornal (foto) informa ter ele nascido nas barrancas do Solimões. Como são tantos os "barrancos" do nosso rio, fico sem saber onde nasceu de fato o ex-prefeito de Manaus.
Este "santinho" foi distribuído nas eleições de outubro de 1962.


SEMANA DE MAIO 1980

A Crítica, 20.5
20 - Carlos de Araújo Lima, saudoso advogado amazonense e figura de projeção na advocacia nacional, não escondia seu entusiasmo após a abertura da VIII Conferência dos Advogados do Brasil, realizada em Manaus, entre 19 e 23 de maio. Era presidente da OAB-AM, o doutor José de Paiva Filho.

Participou da citada conferência, o Dr. Almino Alvares Afonso, cassado quando deputado federal. Em entrevista ao jornal A Notícia (20.5.1980) rebateu o pronunciamento do ministro da Justiça, Ibrahim Abi-Ackel. Sugeria a convocação de uma Assembleia Constituinte.

A Crítica, Manaus, 21.5.1980
21 - Desembarca em Manaus, o ministro do Exército, general Walter Pires, a fim de empossar o general Leonidas Pires Gonçalves (1921-) no Comando Militar da Amazônia (CMA). Ao desembarque, o ministro foi recepcionado pelo governador do Estado, Paulo Pinto Nery.
O general Leonidas Pires foi, no governo Collor, ministro do Exército.

A Notícia. Manaus, 22.5.1980
22 -  Estiveram presentes a posse do comandante do Comando Militar da Amazônia, o governador do Estado, Dr. Paulo Nery, o superintendente da Suframa, Dr. Ruy Lins (falecido no mês passado) e o secretário da OAB Nacional, Dr. Bernardo Cabral.

A Notícia. Manaus, 20.5.1980
23 - O livro de Ferreira de Castro, A Selva, completava 50 anos. Em Manaus, foi instalado o busto do autor, na Praça da Polícia e a Academia Amazonense de Letras, em sessão solene, promoveu sua homenagem
na palavra do acadêmico Mário Ypiranga Monteiro.


A Notícia. Manaus, 25.5.1980
24 - Morreu, aos 74 anos, Paschoal Carlos Magno, realizador dos mais importantes projetos culturais; fundador do Teatro do Estudante do Brasil; criador da Casa do Estudante do Brasil; deixando expressiva de folha de serviços prestados a cultura do País. Seu corpo foi velado na Casa do Estudante. 

segunda-feira, maio 24, 2010

SOFIA MENDONÇA

HOJE DE TARDE

No Hospital São Lucas, às 17h53, nasceu a Sofia, pesando 3350g e medindo 0,49cm, filha de Beatris Santos e Roberto Mendonça, por sinal, o responsável por este espaço. Tudo aconteceu como previsto.


Agora, quando vi o pezinho da jovem (foto), me surpreendi. Tô imaginando as boas encrencas. A Sofia desde já deixa uma advertência: cheguei de pé direito, e quê pé! Por isso, cuidem-se.

Mas não se esqueçam de passar na quinta para o mijo. O blog do coronel aguenta. De nossa parte,
agradecemos a todas as manifestações de carinho e de entusiasmo, em especial, ao calejado papai. Amém.

Memorial Amazonense XXIII

Maio, 24

1858 – Nasce em Campina Grande (PB), Dom João Irineu Joffily, terceiro bispo do Amazonas. Dirigiu a Igreja do Amazonas entre 1916 e 1924, quando foi transferido para o arcebispado do Pará.




 1898 – Nasce em Osela (POR), José Maria Ferreira de Castro. Quando jovem, visitou a região amazônica, primeiro parada na cidade de Belém (PA) e depois em um seringal no rio Madeira (AM), extraindo dessa experiência os fundamentos do livro A Selva, publicado em 1930.




Doado pela Sociedade Amigos de Ferreira de Castro, da Ilha da Madeira (POR), ao tempo do Prefeito Manoel Ribeiro, o busto do escritor português foi inaugurado em 1986, na Praça da Polícia, em Manaus.


1903 – Nasce em Manaus, Aristophano Antony. Era filho de Leandro Perdigão Antony e de Maria Ferreira Antony. Foi casado com Edail Cordeiro Antony (filha do coronel Pedro Henrique Cordeiro Junior) e tiveram oito filhos, pela ordem: Leandro, Maria Eneida, Ruth, Maria Luiza, Maria de Lourdes, José Rogério, Flavio e Ana Rita.


Jornalista por vocação, exerceu o mister ao longa da vida. Assim, trabalhou nos jornais de Manaus Jornal do Commercio e O Dia, alguns fundados por ele, como O Jornal. Em 1937, fundou o próprio jornal, o vespertino A Tarde. Com o desaparecimento deste, passou a colaborar em A Crítica.


Foi presidente do Atlético Rio Negro Clube durante 16 anos. Ingressou na Academia Amazonense de Letras em 1947. Pertencia também ao Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (Igha) e da Academia Acreana de Letras. Fundador da Associação Amazonense de Imprensa, foi seu presidente até sua morte.


Morto em 3 de agosto de 1968, está sepultado no cemitério São João. Toda sua obra literária aconteceu postumamente: Sombras e Reflexos (21 nov. 1968); Política, Democracia e Revolução (critica literária) e Evocações Sentimentais (um canto de fé, esperança perseverança e exaltação à sua companheira de todas as horas).


No centenário de seu nascimento, a Casa de Adriano Jorge dedicou-lhe a sessão solene, ocasião em que distribuiu a Seleta do Centenário, organizada por Max Carpenthier e Flávio Antony.


1958 – Toma posse no arcebispado do Amazonas, em solenidade realizada na Catedral de Manaus, Dom João de Souza Lima. Oriundo da diocese de Nazaré (PE), cujo brasão (foto) assinalava sua vocação pela Igreja. Permaneceu no posto até 1980, ocasião em que renunciou ao cargo.

1950 – Nasce em Itacoatiara (AM), Paulo Roberto Vital de Menezes. Realizou seus estudos secundários no Seminário São José, instalado no cruzamento da rua Emilio Moreira com Ramos Ferreira. Desativado o seminário, ali funcionou o Instituto de Ciências Humanas e Letras (Ichl) da Ufam. Hoje, abriga um departamento da Uninorte.
Vital ingressou na Polícia Militar do Estado e, sendo major, comandou o 2º batalhão de polícia, na Velha Serpa. Na reserva como coronel, segue trabalhando na direção da Segurança do Estado, como subsecretário.


domingo, maio 23, 2010

Memorial Amazonense XXII

Maio, 23

1910 – Centenário de nascimento, em Manaus, Stenio Neves, que se notabilizou na cidade ao exercer o cargo de Chefe de Polícia (1957). Os integrantes da terceira-idade hoje ainda recordam do método pouco ortodoxo empregado pelo chefe. O de permitir que policiais seviciassem presos, em especial os ladrões, na estrada então conhecida por BR-17 (em nossos dias, a estrada Manaus-Itacoatiara). A má fama custou-lhe o cargo, substituido pelo bacharel José Bernardo Cabral, e um inquérito, do qual é desconhecida a conclusão.
Chefatura de Polícia, na rua Marechal Deodoro


Por isso, Stenio era bastante temido, daí se assegurar à época que, “em Manaus se podia dormir de portas abertas,” tal o nível de segurança conseguido pela polícia.


Era filho de Antonio Lucas Neves e de Jesuina Neves e foi casado com Tandecy Biar Neves.

Dário da Tarde, Manaus, set. 1956


Stenio começou no serviço público em março de 1938, nomeado datilógrafo da diretoria dos Serviços Técnicos do Estado. A partir de 1950, manteve amizade pessoal com os políticos trabalhistas (Plínio Coelho e Gilberto Mestrinho). Com isso, oportunizou sua nomeação de Prefeito de Manaus (1955-56), e de Chefe de Polícia, de maio a agosto de 1957.
Ainda dirigiu a Guarda Civil, organismo subordinado à Polícia Civil, em 1958. Morreu em 1978.
A Crítica. Manaus, 3 maio 1957


1913 Severino Corrêa da Silva foi nomeado comandante da Companhia de Bombeiros, subordinada a Polícia Militar. Nascido em Pernambuco, passou pelos Bombeiros do Pará antes de desembarcar aqui. Foi genitor do coronel Manoel Corrêa da Silva, comandante da PMAM na década de 1950.


2008 – Falece em Manaus, José Jefferson Carpinteiro Péres, senador da República.

sábado, maio 22, 2010

Academia Amazonense de Letras

A Academia reuniu-se ontem para realizar a eleição de novo acadêmico. Seis candidatos concorriam a vaga aberta com a morte de Jauary Marinho. 
Acolhidos os votos dos presentes e os encaminhados por correio e outros meios, saiu vencedor o candidato Abrahim Baze. Obteve a maioria absoluta dos votos. Apenas outros dois concorrentes foram sufragados: Antonino Bacellar e Indalécio Pereira.
Abrahim, o eleito



A Casa de Adriano Jorge prepara-se para abrir novo concurso. Ainda há sete vagas.


                     

POLÍCIA MILITAR DO AMAZONAS (X)

Aquartelamento

A partir de abril de 1877, a Guarda Policial aloja-se em prédio situado “à praça de Pedro II canto da rua do Governador Victorio”. No entanto, o edifício posteriormente ali levantado, bem consagra a esquina. Trata-se do Hotel Cassina. Edificado na primeira década do século XX, hospedava seleta freguesia, de nacionais e estrangeiros, de passagem pela capital da borracha em busca do Eldorado.


Atual estado do Hotel Casina, 2010
Ante o declínio avassalador da goma elástica, porém, o edifício entra em decadência e se converte no Cabaré Chinelo. A alcunha aludia ao meretrício de baixo padrão que o frequentava. Enfim, abandonada e desfigurada, a edificação aguarda as providências do novo milênio.



No cruzamento aludido também funcionou a Escola Normal, assegura a professora Assislene Mota, escrevendo sobre A Escola Normal da Província do Amazonas (2009).

Para a recém instalada Guarda Policial, significa o segundo quartel. O primeiro, ocupado por ocasião da fundação, era a residência situada “na subida da praça da Imperatriz para a de Tenreiro Aranha, e com entrada para o lado de uma e outra praça”. Esta praça corresponde em nossos dias “ao local ao lado esquerdo da igreja Matriz.”
Diário Oficial do Amazonas, 4 maio 1926


O imóvel fora arrendado por cinco anos, a contar de 1º de maio de 1876. Mas, a precariedade das acomodações e a ameaça de ruína, revelada em decorrência da chuvarada caída no final daquele ano, obrigaram o Governo, após inspeção técnica, a transferir os Guardas.

Relatório usual


Ao entregar a presidência da Província ao bacharel Agesilau Pereira da Silva, em 26 de maio de 1877, Domingos Jacy Monteiro apresenta usual Relatório. Dissertando sobre a Polícia, assegura que, por deficiência de pessoal, se obriga “a nomear oficiais que comandam destacamentos para os cargos de delegado e subdelegado, não obstante ser isso contrário às recomendações do governo.”


Em nossos dias, observando o mapa dos delegados de polícia no Interior, de competência da Secretaria de Segurança, se verá que a situação continua próspera. Ou seja, a situação permanece como “dantes”.


O documento de Domingos Monteiro, graduado em ciências jurídicas e sociais, revela um sério cultor das letras. Destaca-se, porém, pelo estilo satírico, mofador, com que descreve os assuntos pertinentes ao governo.

Listo dois tópicos: ao avaliar a Guarda Policial, refere-se a nomeação de oficial do Exército como auxiliar do comando, para a instrução dos guardas. No primeiro instante, houve certo progresso, “mas depois o ajudante começou a não ajudar, o instrutor a não instruir, e parte dos soldados a entregar-se à embriaguez e até a aplicar-se à ratonice”.


Em outro, ao retratar visita realizada à Enfermaria Militar do Exército: “Depois das duas horas da tarde, ainda não havia na enfermaria um só dos medicamentos receitados nesse dia; encontrei em uma boceta um pouco de ceroto simples, batizado com o nome de sebo de carneiro”.


A descrição da revista prossegue com a ênfase peculiar do dirigente, mas, o desapreço profissional com os doentes, afigura-se presente.

Aumento de efetivo

Manáos provincial
Agesilau Pereira da Silva, presidente da Província, altera a força da Guarda Policial e reforma seu Regulamento, consoante a Lei n.º 370/1877. O efetivo passa a contar 99 homens, dos quais, cinco são oficiais e os demais, praças. O artigo 2.º autoriza a presidência “a reformar o atual regulamento”. Executado o disposto, o Regulamento toma o n.º 32.


Em 9 de agosto, o Governo estabelece normas para distribuição e modelo do uniforme da Guarda Policial.



• Mudança de comandante

Em 13 de agosto, ocorre a primeira substituição no comando da Guarda Policial. É exonerado Severino Eusébio Cordeiro, tenente reformado, e nomeado o tenente José Leonilio Guedes, ambos do Exército. Este, todavia, se conserva curto tempo na direção. O arquivo histórico da corporação preserva sucintos dados sobre o mesmo. O mínimo existente é desabonador, pois, assinala ter sido “exonerado do comando desta Guarda Policial, por conveniência do serviço público”.
Semelhante a este fato, são numerosos os registros de queixumes acerca da atuação de oficiais do Exército, na Província do Amazonas.

sexta-feira, maio 21, 2010

Os Cinemas de Manaus III

Cine Odeon (1913-1973) conclusão

Ed Lincon

Em agosto de 1953, a empresa Fontenelle e o matutino A Critica promovem o concurso entre frequentadores e leitores para escolher o filme da reinauguração do cine Odeon: Scaramouche ou Ivanhoé. O resultado dos palpites foi conhecido dia 10, e, entre os participantes, foi realizado um sorteio, que premiou a jovem Zely Miranda Teixeira com entrada “permanente” por 30 dias. E o filme escolhido foi Ivanhoé, o vingador do rei, com Robert Taylor, Elizabeth Taylor e Joan Fontaine.
A reforma e a ampliação custaram cerca de sete milhões de cruzeiros, destacando-se a instalação de ar condicionado (o primeiro e único cinema a utilizar esse melhoramento na década de 1950), carpetes, cortinas, sala de espera decorada, palco e modernos projetores.

A inauguração da reforma ocorreu na sexta-feira, 14 de agosto de 1953, com sessão vespertina de Ivanhoé para a imprensa e convidados. À noite, o Odeon abriu ao público, com ingresso a Cr$ 15,00 (quinze cruzeiros).
Os ingressos foram vendidos no cine Polytheama e na Casa da Criança, que arrecadou parte da renda, por doação do Dr. Alberto Carreira.

Ainda em 1953, outros filmes ali fizeram sucesso: Scaramouche; Sansão e Dalila; E o vento levou; O Terceiro homem, entre outros. As “chanchadas” da Atlântida e da Herbert Richers, estreladas por Mazzaropi, Zé Trindade, Oscarito e Grande Otelo, atraíam a inúmeros frequentadores, obrigando-os a enfrentar filas que se estendiam ou pela avenida Eduardo Ribeiro ou pela rua Saldanha Marinho.

Um ano depois, em agosto, a direção do cinema prepara “grandiosa programação” para comemorar o data com uma semana de aniversário. Escolhe os filmes: A Marca rubra; A Princesa de Damasco; Noites de Paris; Candinho, com Mazzaropi; e, para 14 de agosto, a grande produção da MGM, Quo Vadis?

A 21 de abril de 1957, no Odeon o público tem oportunidade de assistir aos filmes em cinemascope (tela comprida e estreita). Para estrear o sistema, apresenta a superprodução em tecnicolor da MGM: Sangue de aventureiros, com Robert Taylor e Eleanor Parker, acompanhado do documentário Núpcias em Mônaco.
A fila para compra de ingresso no Odeon

A cidade de Manaus, todavia, enfrentava seríssima falta de energia elétrica. Problema tanto para o governo quanto para os proprietários de casas de espetáculos, porque vez ou outra a sessão acabava interrompida. Esse desconforto revoltava os frequentadores que extravasavam, por exemplo, nas poltronas. Mas, para amenizar o problema da energia elétrica, o Governo importou uma Usina Flutuante; a partir de janeiro de 1960, a empresa Fontenelle costumava avisar aos presentes que a refrigeração da casa funcionava em razão da usina.


Outro problema grave era a demora na distribuição de filmes em Manaus, que chegavam com anos de atraso. O premiado Os Dez Mandamentos, lançado em 1956, aqui foi exibido apenas em outubro de 1960.


Em setembro de 1963, o grupo Severiano Ribeiro, então maior proprietário de cinemas do Brasil, arrenda as salas da empresa Fontenelle, a qual se retira do mercado exibidor.


Joaquim Marinho
Jornal do Commercio, Manaus, ago. 1971

O melhor momento do cinema Odeon, certamente, sucedeu entre 19 e 26 de outubro 1969, com a realização do I Festival Norte do Cinema Brasileiro (aliás, primeiro e único). Anunciado nos jornais desde maio, o festival, idealizado pelo titular do Departamento de Turismo e Propaganda (DEPRO), José Joaquim Marinho, incluía-se na comemoração do tricentenário de Manaus. Buscava, ainda, incentivar a produção cinematográfica local.

O Governador, Danilo de Mattos Areosa (1967-1971), apoiou integralmente o encontro, embora sob um clima de tensão e receio, devido os ditames do Governo Militar. Mas, “para felicidade geral da Nação,” a semana correu pacífica, revelando sim gratas surpresas aos amazonenses, como a “descoberta” e reconhecimento do cineasta Silvino Santos (falecido em maio de 1970).


O Odeon foi cedido gratuitamente por L. S. Ribeiro para a realização do festival. O evento, apoiado pela Cinemateca do Museu de Arte Moderna, do Rio de Janeiro, dirigida pelo amazonense Cosme Alves Neto (1937-1996), e pelo Instituto Nacional do Cinema (INC), obteve a coparticipação de empresas e entidades locais.


A festa de abertura realizou-se na Boate dos Ingleses (jocosamente Forró dos Gringos), e a de encerramento no Cheik Clube (avenida Getúlio Vargas esquina com a Ramos Ferreira), animada pela banda Blue Birds (ainda existente). Os vencedores, além de prêmio em dinheiro, receberam o troféu Cidade de Manaus, criado pelo falecido artista plástico Álvaro Páscoa que, confeccionado em madeira, consistia em pequena lança estilizada de alumínio sobre o mapa do Brasil.

A inauguração da televisão em Manaus, em 1969, afeta duramente a frequência aos cinemas. E mais, a Câmara Municipal exige o fechamento dos cinemas da Cidade, alegando o péssimo estado de conservação desses. O Odeon, único a possuir refrigeração, foi mais atingido pela vigilância sanitária. Também o INC, ao implantar o ingresso padronizado, e as constantes reprises, tudo isso acelerou o afastamento dos frequentadores.

O cerco final aconteceu em fevereiro de 1973, quando a Prefeitura de Manaus determina o fechamento dos cines Odeon e Guarany, argumentando o precário estado de conservação. Apesar da ameaça, os dois continuaram funcionando.

No entanto, ao se retirar do circuito exibidor de Manaus, a empresa São Luiz devolve os imóveis ao proprietário, Dr. Alberto Carreira. Que vende o prédio do cine Odeon para a Adolpho Lindemberg. No local, a construtora edifica o Manaus Shopping Center, prédio de 20 andares.
A última sessão do cine Odeon ocorreu na noite de sexta-feira, 22 de junho de 1973. Dias depois, o Jornal do Commércio (24.06) divulgou o fechamento da “Pérola da Avenida”:


"Ontem, durante a Operação Limpeza do velho e tradicional prédio da Avenida Eduardo Ribeiro, o povo, e os antigos e fiéis frequentadores do cine, passaram horas esquecidos vendo serem retirados os seus equipamentos e muitos não se conformaram com a situação e, penetrando em seu interior, sentaram pela última vez nas poltronas da sala de projeção, como se essa fosse a maneira mais carinhosa de uma despedida de onde se guarda tantas recordações”
“O filme “A Mancha do Passado”, exibido na noite de anteontem marcou o fim do tradicional Cine Odeon em nossa cidade, deixando muitas saudades e recordações a toda uma população que teve no veterano cinema momentos de alegria e felicidade inesquecíveis.(...) 


No início de julho de 1973, o cine Odeon estava em demolição, restaram-nos os sonhos.






quinta-feira, maio 20, 2010

Os Cinemas de Manaus II

Cine Odeon (1913-1973)
Ed Lincon

Com localização privilegiada na Av. Eduardo Ribeiro esquina com a rua Saldanha Marinho, o cine Odeon, conhecido como “a Pérola da Avenida” foi construído em estilo neoclássico exclusivamente para funcionar como casa cinematográfica, pois nem palco possuía. A fachada estava pintada em tons rósea e branca. Pertencia à empresa Moreira, Lages & Cia., da qual também fazia parte Rodolpho de Vasconcellos.
O cine Odeon foi inaugurado na noite de 21 de fevereiro de 1913.

 
Jornal do Commércio (22.02.1913):

Com assistência dos representantes dos jornais desta capital, inauguraram ontem à noite os Srs. Moreira, Lages & Cia, o Cinema Odeon, de sua propriedade e sito à av. Eduardo Ribeiro. Instalado com conforto e sóbria elegância, apresenta essa nova casa de diversões um belo salão de espera, amplamente iluminado por 21 focos elétricos e vários ventiladores que nele conservam constante e agradável temperatura. A sala de espetáculos dispõe de 380 cômodas cadeiras, podendo comportar até 500 espectadores e sendo servida por 35 focos elétricos e 12 ventiladores.
A cabine de projeções se acha colocada em compartimento isolado convenientemente, de forma a evitar qualquer perigo de acidentes. Foi passada com grande nitidez, a película “Os Filhos do General”.


Para o povo, a abertura ocorreu a 23, com entradas a 1$000 (mil réis) e 1$600 (mil e seiscentos réis). Considerado o cinema da elite, o Odeon logo se transformaria na sala preferida das famílias amazonenses rivalizando apenas com o Polytheama, da empresa Fontenelle e o Alcazar, da empresa Luso-Amazonense.

Para o fornecimento de filmes, os proprietários do Odeon firmaram contrato com a empresa paraense Teixeira, Martins & Cia. Lembrando que os filmes eram mudos, a orquestra do Odeon era regida pelo maestro João Donizetti, dividindo a batuta com o maestro Luiz França, também regente do Teatro Alcazar.

Em 1914, o proprietário da Cervejaria Miranda Corrêa, fabricante da cerveja XPTO, e da Casa de “Schopps” (ortografia da época) localizada na Eduardo Ribeiro ao lado do cinema, Maximino de Miranda Correa compra o prédio do Odeon e o fecha para reformas. Sua reabertura ocorre a 3 de maio, agora com programação da Agência Geral Cinematográfica.


Em dezembro de 1914, o Odeon é arrendado para a empresa Fontenelle, que estabelece a programação simultânea com o cine Polytheama. Devido a crise desencadeada com o fim do monopólio da borracha, vários estabelecimentos comerciais fecham as portas definitivamente. A partir de 22 de janeiro de 1917, diante da escassez de filmes, o Odeon não funcionava às terças e quintas.


Em 1918, a “gripe espanhola” atinge o Amazonas e causa a morte de milhares de pessoas. Atendendo ao pedido do superintendente (prefeito) municipal, a empresa Fontenelle suspende as funções cinematográficas de suas salas em 3 de novembro, aproveitando para reformá-las.


O Odeon e o Polytheama só voltam a funcionar em janeiro seguinte. Ainda em 1918, o governador Pedro de Alcântara Bacellar (1917-1920) adquire o Palacete Scholz e o modifica para a sede do governo com a denominação de Palácio Rio Negro. Silvino Santos é contratado como cinegrafista e realiza um de seus filmes: Amazonas, o maior rio do mundo (1918).


A 21 de janeiro, é exibido no Odeon, O Horto florestal, outro filme produzido por Silvino para esta empresa e que se destinava a divulgar o Amazonas no sul do país (este filme também esteve em cartaz no Polytheama, nos dias 21 e 26 de janeiro).


No começo de 1937, o Odeon é fechado para reforma, reabrindo a 23 de maio. Em setembro de 1938, a “pérola da avenida” exibe o seriado Tarzan, o homem macaco, com grande sucesso de público. Outros seriados também reinariam neste centro de diversões: Flash Gordon, Adaga de Salomão, Roy Rogers e seu cavalo Trigger, Perigos de Nioka etc.

Com a morte de Maximino Corrêa em 1943, o cine Odeon é adquirido pela empresa Fontenelle, que passa a ser proprietária de três salas de exibição. Nove anos depois, Alberto Carreira contrata nova reforma no cinema da Eduardo Ribeiro.

A reforma e ampliação do cine Odeon promove a demolição da antiga fachada neoclássica, e oferece um prédio de arquitetura “moderna”, bem ao estilo dos anos 1950. O autor do projeto da nova fachada do Odeon foi o engenheiro José Rodrigues Pereira e as obras executadas pelo construtor Joaquim Cunha.



A Gazeta (20.04.1953) informa que
“... as obras do Cinema Odeon, completamente reconstruído e modernizado graças à iniciativa progressista do Dr. Alberto Carreira da Silva, diretor principal da conceituada Empresa Fontenelle, detentora do primado cinematográfico em nossa capital. A ampliação do prédio em que funcionava o tradicional Odeon, situado à Avenida Eduardo Ribeiro, há mais de 30 anos, e sua completa remodelação interna vão torná-lo o mais confortável e elegante cine de Manaus, atestando a capacidade bem orientada daquela respeitável empresa amazonense. Responde o Dr. Carreira da Silva, com esse empreendimento notável e duradouro, à assiduidade e preferência do povo manauense às casas de diversões da Empresa Fontenelle. (segue)


terça-feira, maio 18, 2010

MEMORIAL AMAZONENSE (XXI)

Maio, 19


1880 – Assume o comando da Guarda Policial do Amazonas(hoje Polícia Militar), João José de Aguiar. Embora fosse civil, foi comissionado no posto de major. Assim, pois, constitui o primeiro paisano a exercer o mencionado cargo. A se julgar pelo lapso de tempo exercido, apenas 67 dias!, parece ter sido uma calamidade. Outra explicação para o desastre oferece o presidente da Província, Sátiro de Oliveira Dias, que preferiu aproveitar o capitão Aristides Augusto Cezar Pires.


Apenas outro civil comandou a PM. O fato aconteceu na década de 1950, escolhido pelo governador Gilberto Mestrinho (1959-1962). Falo de Francisco de Assis Albuquerque Peixoto, graduado coronel para o cargo que exerceu de março 1959 a abril 1962. Assis Peixoto era graduado pela Faculdade de Direito do Amazonas e, quando requisitado pelo governo, exercia a advocacia. Apesar de pouca habilidade com as normas militares, realizou excelente trabalho administrativo, renovando o aquartelamento. O serviço do rancho passou a utilizar o fogão à gás em substituição ao de lenha, que era colhida pelos praças no distante Tarumã.


1958 – Ocorre a instalação do Banco do Estado do Amazonas (BEA), na avenida Sete de Setembro, no edifício onde por décadas funcionou o Diário Oficial, ao fundo da Biblioteca Pública. Embora tivesse sido criado (Lei nº 92/1956) e fundado pelo governador Plínio Coelho, em 6 de abril de 1957, coube ao seu sucessor, Gilberto Mestrinho, efetuar a instalação. Tanta demora se deveu a espera pela autorização da Superintendência da Moeda e do Crédito (Sumoc), órgão do Banco do Brasil.

A primeira diretoria estava composta de Jacob Sabbá, Samuel Benchimol, José Ribeiro Soares e Jorge Assad Aucar.
Fotos de O Amazonas em três momentos, de Etelvina Garcia, 2010.  


2005 – O escritor Demosthenes Ribeiro Carminé assume a Cadeira 17, de Francisco de Castro, na Academia Amazonense de Letras. O discurso de recepção foi proferido pelo acadêmico Armando Andrade de Menezes.

segunda-feira, maio 17, 2010

CORREIO DO NORTE



Em abril de 1959, Anísio Mello (1927-2010), então residente em São Paulo, inaugurou o jornal Correio do Norte. De circulação quinzenal, prometia dentro de suas limitações um "noticiário completo da Amazônia". De certo, bem mais sobre as duas capitais do Norte, porque melhor assessorado tanto de Manaus quanto de Belém. Embora contasse com correspondentes em vários municípios amazônicos.

No primeiro editorial, "Seguindo a velha praxe", o jornal assegurava que
Amazônida de São Paulo, a partir desta data você vai receber, quinzenalmente, este pequeno Correio do Norte, que lhe levará as notícias que todos muito desejamos saber, já que, não obstante a adoção de uma nova terra, quando emigramos do nosso Norte longuínquo, não conseguimos esquecer o berço e todos os dias ao lermos os jornais da cidade, procuramos com avidez encontrar duas ou três linhas que nos digam  o que está ocorrendo na plaga distante. (...) 
Assim será esse Correio do Norte, que começa hoje a viver. Um elo de união entre os nortistas, em São Paulo, e a presença viva do Norte, na cidade que mais cresce no mundo.

Correio do Norte. SP, maio 1959
O Correio circulou durante cinco anos. Começou com quatro páginas e, no melhor tempo, chegou a dezesseis. No início, manteve-se apenas com anúncios do comércio de São Paulo, depois alcançou as praças de Manaus e Belém e ao próprio Banco de Crédito da Amazônia (hoje Basa), onde trabalhava Anísio.


A propósito, Anísio era diretor, editorialista e, em especial, ilustrador (abaixo). Contava com o apoio de sua esposa, Lindalva Mello, e outros membros da família. 



E ainda, com a colaboração de um colega bancário, Luiz Osiris da Silva. Apenas para nos aproximar, Osiris ainda vive em São Paulo e é tio de José Serafico, articulista de A Crítica e diretor da Fundação Djalma Batista, entre outras atividades.

O periódico possuía excelente apresentação gráfica, melhor que os produzidos em Manaus. Ainda agora, passado mais de 50 anos, os exemplares estão impecáveis. Seguirei mostrando a produção jornalística de Anísio Mello.

domingo, maio 16, 2010

BOMBEIROS DO AMAZONAS (IV)

NA REPÚBLICA

Dois inusitados episódios singularizam o alvorecer republicano no Amazonas. Um, a notícia da Proclamação da República que, conduzida por uma delegação de entusiastas paraenses, aportou em Manaus na tarde de 21 de novembro – uma semana depois da concretização do evento. Outro, a posse do primeiro Governador, Augusto Ximeno de Villeroy, tenente do Exército.
Ao tempo do movimento republicano, Villeroy servia na Capital Federal, em razão disso teve o privilégio de subscrever listas de solidariedade ao mestre Benjamin Constant. Vitoriosos os militares, seu adesismo foi recompensado com a nomeação para governar o Amazonas.


Empossado em 4 de janeiro de 1890, Villeroy efetua as mudanças possíveis; algumas atabalhoadas, outras em conformidade com o figurino federal. Na Segurança Pública, organiza a Força Policial do Estado, mas nada avança quanto ao serviço de combate ao fogo, que prossegue articulado como na Província.

Para comandar a Força, nomeia o capitão José Carlos Silva Telles, seu colega do Exército. Silva Telles ainda foi nomeado Superintendente (Prefeito) de Manaus. Transferido para São Paulo, passa a comandar o Corpo de Bombeiros e, em 1897, assume a direção da Força Pública comissionado coronel (foto).


Sem o necessário trato político para o cargo, Villeroy acaba por se desentender com os políticos locais. Em novembro, alegando doença da esposa, retorna ao Rio, sem antes armar uma grave questão sucessória.


Por bel-prazer, Villeroy investe Eduardo Gonçalves Ribeiro, o secretário de governo, no cargo de Governador. Em maio seguinte, Ribeiro é substituído pelo barão de Juruá (1835-1899); que, a seguir, passa o governo para Antonio Gomes Pimentel; que, em junho, devolve ao mesmo barão. Como se pode deduzir, era complicado administrar o Estado nos primeiros momentos republicanos. Mas, bem que o barão intentou, ao sancionar lei que organizava a força estadual, delineando a partir do art. 4.º a preocupação com o serviço de Bombeiros.


Lei n.º 4, de 21 de agosto de 1891
Organiza o Batalhão Militar de Polícia do Estado

Art. 1.º - A Força Pública do Amazonas compor-se-á do Batalhão Militar de Polícia, que constará de quatro companhias, contendo cada uma um capitão, um tenente, um alferes e noventa e nove praças de pré, a saber: um primeiro sargento, dois segundos ditos, um furriel, doze cabos, oitenta soldados, dois cornetas e um tambor. (...)

Art. 4.º - A Quarta Companhia denominar-se-á “Companhia de Bombeiros”, anexa ao referido Batalhão, obrigada a serviços policiais, somente nesta capital, enquanto não for desanexada, e aos especiais de extinção de incêndios.

Parágrafo único - Essa companhia compor-se-á de pessoal apto para o serviço a que é destinado, só podendo serem nomeados para ela oficiais convenientemente habilitados, ficando o Presidente do Estado autorizado a contratá-los.

Art. 5.º - Logo que as finanças do Estado comportem a desanexação da Companhia de Bombeiros, será organizada a Quarta Companhia do Batalhão de Polícia, com pessoal propriamente de polícia, regendo-se a de bombeiros pelo seu regulamento especial e assumindo o seu comando o respectivo capitão.

Art. 6.º - Fica o Presidente do Estado autorizado a prover a Companhia de Bombeiros do material indispensável para o serviço de extinção de incêndios, e regulamentar esse serviço, assim como a rever o regulamento do Batalhão de Polícia.

O aristocrático governante ainda persiste. Obtém licença do Congresso para construir “um quartel digno sob todas as formas para a tropa estadual“. E mais. Sem esquecer as acomodações para os Bombeiros e o imprescindível equipamento. Transformada em lei, tudo não passa de apreciável intento, devaneio. Porque, no mês seguinte, se encerrava o baronato de Guilherme José Moreira, seu nome de batismo.


Nos primeiros momentos do Estado, o serviço de extinção de incêndios persistia adotando a rudimentar cartilha provincial. Ou seja, observava as regras ditadas por Nuno Cardoso em 1876. Ainda não se completara o segundo aniversário da República e, talvez por essa tenra idade, os Bombeiros seguiam esquecidos.
O maior interesse dos políticos consistia em consolidar o poder no Estado. O barão de Juruá, embora conhecesse o encerramento de seu mandato-tampão, sanciona, por mera flanagem, a lei seguinte.

Lei n.º 7, de 27 de agosto de 1891.

Autoriza o Presidente do Estado a mandar construir um edifício para quartel do Batalhão de Polícia.

Art. 1.º - Fica o Presidente do Estado autorizado a mandar construir um edifício nas melhores condições higiênicas possíveis, com capacidade necessária para quartel do Batalhão de Polícia e com acomodações para residência do comandante e oficiais de serviço, devendo ser construídas no mesmo quartel, em lugar apropriado, baias para os cavalos do serviço do referido Batalhão, e um compartimento para receber o material da Companhia de Bombeiros, anexa ao mesmo Batalhão, para que esteja pronta e em ordem a sair ao primeiro sinal de incêndio, quando for necessário. (...)

Barão de Juruá - vice-presidente do Estado do Amazonas

Em 1.º de setembro, Gregório Thaumaturgo de Azevedo (1851-1949) assume a presidência do Amazonas. Tenente-coronel do Exército, graduado pela Faculdade de Direito do Recife (1902), é o primeiro governador eleito, em consonância com a renovação constitucional. Apesar dos pré-requisitos, não esquenta, todavia, a cadeira presidencial. Sua deposição ocorre em fevereiro de 1892.
Em resumo, o Corpo de Bombeiros seguia subordinado à Polícia Militar, ambos sem aquartelamento definitivo, ocupando prédios de terceiros. Apenas no governo de Eduardo Ribeiro (1892-96) é que seriam consolidadas. (segue)