Cine Odeon (1913-1973) conclusão
Ed Lincon
Em agosto de 1953, a empresa Fontenelle e o matutino A Critica promovem o concurso entre frequentadores e leitores para escolher o filme da reinauguração do cine Odeon: Scaramouche ou Ivanhoé. O resultado dos palpites foi conhecido dia 10, e, entre os participantes, foi realizado um sorteio, que premiou a jovem Zely Miranda Teixeira com entrada “permanente” por 30 dias. E o filme escolhido foi Ivanhoé, o vingador do rei, com Robert Taylor, Elizabeth Taylor e Joan Fontaine.
A reforma e a ampliação custaram cerca de sete milhões de cruzeiros, destacando-se a instalação de ar condicionado (o primeiro e único cinema a utilizar esse melhoramento na década de 1950), carpetes, cortinas, sala de espera decorada, palco e modernos projetores.
A inauguração da reforma ocorreu na sexta-feira, 14 de agosto de 1953, com sessão vespertina de Ivanhoé para a imprensa e convidados. À noite, o Odeon abriu ao público, com ingresso a Cr$ 15,00 (quinze cruzeiros).
Os ingressos foram vendidos no cine Polytheama e na Casa da Criança, que arrecadou parte da renda, por doação do Dr. Alberto Carreira.
Ainda em 1953, outros filmes ali fizeram sucesso: Scaramouche; Sansão e Dalila; E o vento levou; O Terceiro homem, entre outros. As “chanchadas” da Atlântida e da Herbert Richers, estreladas por Mazzaropi, Zé Trindade, Oscarito e Grande Otelo, atraíam a inúmeros frequentadores, obrigando-os a enfrentar filas que se estendiam ou pela avenida Eduardo Ribeiro ou pela rua Saldanha Marinho.
Um ano depois, em agosto, a direção do cinema prepara “grandiosa programação” para comemorar o data com uma semana de aniversário. Escolhe os filmes: A Marca rubra; A Princesa de Damasco; Noites de Paris; Candinho, com Mazzaropi; e, para 14 de agosto, a grande produção da MGM, Quo Vadis?
A 21 de abril de 1957, no Odeon o público tem oportunidade de assistir aos filmes em cinemascope (tela comprida e estreita). Para estrear o sistema, apresenta a superprodução em tecnicolor da MGM: Sangue de aventureiros, com Robert Taylor e Eleanor Parker, acompanhado do documentário Núpcias em Mônaco.
A fila para compra de ingresso no Odeon
A cidade de Manaus, todavia, enfrentava seríssima falta de energia elétrica. Problema tanto para o governo quanto para os proprietários de casas de espetáculos, porque vez ou outra a sessão acabava interrompida. Esse desconforto revoltava os frequentadores que extravasavam, por exemplo, nas poltronas. Mas, para amenizar o problema da energia elétrica, o Governo importou uma Usina Flutuante; a partir de janeiro de 1960, a empresa Fontenelle costumava avisar aos presentes que a refrigeração da casa funcionava em razão da usina.
Outro problema grave era a demora na distribuição de filmes em Manaus, que chegavam com anos de atraso. O premiado Os Dez Mandamentos, lançado em 1956, aqui foi exibido apenas em outubro de 1960.
Em setembro de 1963, o grupo Severiano Ribeiro, então maior proprietário de cinemas do Brasil, arrenda as salas da empresa Fontenelle, a qual se retira do mercado exibidor.
Joaquim Marinho
Jornal do Commercio, Manaus, ago. 1971
O melhor momento do cinema Odeon, certamente, sucedeu entre 19 e 26 de outubro 1969, com a realização do I Festival Norte do Cinema Brasileiro (aliás, primeiro e único). Anunciado nos jornais desde maio, o festival, idealizado pelo titular do Departamento de Turismo e Propaganda (DEPRO), José Joaquim Marinho, incluía-se na comemoração do tricentenário de Manaus. Buscava, ainda, incentivar a produção cinematográfica local.
O Governador, Danilo de Mattos Areosa (1967-1971), apoiou integralmente o encontro, embora sob um clima de tensão e receio, devido os ditames do Governo Militar. Mas, “para felicidade geral da Nação,” a semana correu pacífica, revelando sim gratas surpresas aos amazonenses, como a “descoberta” e reconhecimento do cineasta Silvino Santos (falecido em maio de 1970).
O Odeon foi cedido gratuitamente por L. S. Ribeiro para a realização do festival. O evento, apoiado pela Cinemateca do Museu de Arte Moderna, do Rio de Janeiro, dirigida pelo amazonense Cosme Alves Neto (1937-1996), e pelo Instituto Nacional do Cinema (INC), obteve a coparticipação de empresas e entidades locais.
A festa de abertura realizou-se na Boate dos Ingleses (jocosamente Forró dos Gringos), e a de encerramento no Cheik Clube (avenida Getúlio Vargas esquina com a Ramos Ferreira), animada pela banda Blue Birds (ainda existente). Os vencedores, além de prêmio em dinheiro, receberam o troféu Cidade de Manaus, criado pelo falecido artista plástico Álvaro Páscoa que, confeccionado em madeira, consistia em pequena lança estilizada de alumínio sobre o mapa do Brasil.
A inauguração da televisão em Manaus, em 1969, afeta duramente a frequência aos cinemas. E mais, a Câmara Municipal exige o fechamento dos cinemas da Cidade, alegando o péssimo estado de conservação desses. O Odeon, único a possuir refrigeração, foi mais atingido pela vigilância sanitária. Também o INC, ao implantar o ingresso padronizado, e as constantes reprises, tudo isso acelerou o afastamento dos frequentadores.
O cerco final aconteceu em fevereiro de 1973, quando a Prefeitura de Manaus determina o fechamento dos cines Odeon e Guarany, argumentando o precário estado de conservação. Apesar da ameaça, os dois continuaram funcionando.
No entanto, ao se retirar do circuito exibidor de Manaus, a empresa São Luiz devolve os imóveis ao proprietário, Dr. Alberto Carreira. Que vende o prédio do cine Odeon para a Adolpho Lindemberg. No local, a construtora edifica o Manaus Shopping Center, prédio de 20 andares.
A última sessão do cine Odeon ocorreu na noite de sexta-feira, 22 de junho de 1973. Dias depois, o Jornal do Commércio (24.06) divulgou o fechamento da “Pérola da Avenida”:
"Ontem, durante a Operação Limpeza do velho e tradicional prédio da Avenida Eduardo Ribeiro, o povo, e os antigos e fiéis frequentadores do cine, passaram horas esquecidos vendo serem retirados os seus equipamentos e muitos não se conformaram com a situação e, penetrando em seu interior, sentaram pela última vez nas poltronas da sala de projeção, como se essa fosse a maneira mais carinhosa de uma despedida de onde se guarda tantas recordações” “O filme “A Mancha do Passado”, exibido na noite de anteontem marcou o fim do tradicional Cine Odeon em nossa cidade, deixando muitas saudades e recordações a toda uma população que teve no veterano cinema momentos de alegria e felicidade inesquecíveis.(...)
No início de julho de 1973, o cine Odeon estava em demolição, restaram-nos os sonhos.