O poema deste domingo pertence à obra poética de Américo Antony (1895-1958). Tudo quanto aprendi sobre este poeta é que ele produziu número respeitável de poemas, publicados em jornais e revistas, e somente um livro: Os sonetos das Flores (em segunda edição pela Valer, 1998). Para ilustrar esta postagem recorri aos especialistas de nossa cidade, e nada sobre Antony. Desse modo, consulto o Dicionário Biográfico dos Acadêmicos Imortais do Amazonas, do saudoso Almir Diniz (2002), dispondo de notas biográficas costumeiras. “O poeta que pertenceu também ao IGHA (Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas) deixou publicado apenas um livro (...). E alguns inéditos – A Alma das árvores; Crisóis; Cromos Amazônicos; e Canções Perdidas. São famosos vários sonetos e outros poemas (A Fonte; Canção Campestre; Nova Messe; Manoa; Conory)”. Seu nome crisma a biblioteca da Fundação Doutor Thomas.
Recorte de O Jornal, 20 março 1946
A
ÁGUA
--
I –
A Água, — uma serpente de cristal,
Faz-se em canais, em golfos, em
caudais,
Em espelhos sobre o mar, e no
canal
Paisagens de verão, frios
hibernais...
Brincos em cada estema ao capinzal,
De ouro e diamante, — Aljôfares
reais —
De um príncipe invisível, do
ideal,
vozes da cor, do encanto dos
cristais...
Mas, quando a água ferida em
seu percurso,
Represada se infiltra, e um só
recurso
Vê nas prisões da rocha, em
fonte escura,
Chora as lágrimas claras do
passado,
As emoções do seu cristal
fechado
Na pensativa Selva que murmura.
-- II –
A Água, — a plasmadora das
visões
Cristalinas da Selva, e do
Universo!
Em reentrâncias de golfo, e nos
grotões,
Animando o esplendor de um
lindo verso!
Cambiar de perspectivas tão
diverso!
Ânimo e sol da sombra aos corações,
Exuberância de um vergel
disperso,
Voz do penhasco em córregos, canções...
Lagoa alegre e pântano sombrio...
Atmosfera e oceano, lago e
rio...
Brejo e igapó... ânfora em
solidão...
Chuva! transmigração da Água à
alva nuvem,
E dela à terra, arco-íris de onde pluvem
Olhos de Deus nos prantos da Ilusão!
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