Quadro da Princesa Isabel, do acervo IGHA |
DE ONDE VENHO E PARA ONDE VOU
Venho do Seminário São José, quando
ainda situado na rua Emílio Moreira, nº 6
01, bairro da Praça 14 de Janeiro, onde obtive consolidada formação humanista e religiosa. Desta, resulta meus intensos agradecimentos à Deus por este ato de bondade de Vossas Excelências, que me consentiu ocupar a Cadeira 24, patronada por Frei Gaspar da Madre de Deus.
01, bairro da Praça 14 de Janeiro, onde obtive consolidada formação humanista e religiosa. Desta, resulta meus intensos agradecimentos à Deus por este ato de bondade de Vossas Excelências, que me consentiu ocupar a Cadeira 24, patronada por Frei Gaspar da Madre de Deus.
Do meu antecessor, Dom João
de Souza Lima, tive o privilégio de, na condição de seminarista
menor, acolitá-lo nas solenes festas religiosas em nossa secular Catedral e outros
templos, como na sagração da Igreja de São José Operário, dos padres
salesianos, no entroncamento das ruas Visconde de Porto Alegre com Ramos
Ferreira.
Aproximo-me deste sodalício, vindo do Quartel
da antiga Praça da Constituição, local
onde se perfilou em 8 de novembro de 1897, o 1º Batalhão do
Regimento Militar do Estado, comandado pelo tenente-coronel Candido
José Mariano, combatente distinguido na Campanha de Canudos, cujo centenário já
estremece a Nação por força da obra imortal de Euclides da Cunha - Os Sertões.
Acerca do comandante Candido Mariano,
venho arregimentando recursos para muito breve editar uma biografia do
herói de muitas campanhas, além de participante da fundação de Sena
Madureira, no estado do Acre.
Procedo ainda do outrora
quartel do Canto do Quintela, onde se aprestava o Corpo de Bombeiros de Manaus. Em nossos dias, transmudado
em sede do Museu do Homem do Norte. Oh! tempos difíceis, tempos heroicos. Melhor dizer, tempos oportunos para que os bombeiros
demonstrassem toda a dedicação pela Cidade
e o desprendimento para enfrentar o perigo. Ali compreendi os objetivos primordiais deste serviço, aprendi a
servir com devotamento, acreditando que cada singela
tarefa, executada por um simples camarada, traz benefício coletivo. Assimilei, senhor comandante do Corpo de Bombeiros,
que o heroísmo escolta cada comboio, em
cada chamada, a mais rotineira possível.
Ingresso na Casa de Bernardo
Ramos com modesto trabalho literário
dado a lume, todo ele volvido
à divulgação da história da Polícia
Militar do Amazonas, instituição criada ainda no período imperial que, desde 4 de abril de 1837, presta segurança à sociedade
amazonense. Corporação, entretanto, que foi capaz de abrigar homens de diversas
virtudes. Os fatos revolucionários, dos quais teve participação coerente, talvez
prestem às reminiscências uma revelação com tal miopia, com certa visão disforme.
A instituição da segurança estadual abrigou alguns
membros deste sodalício: Ramayana de Chevalier, coronel médico, escritor de méritos,
jornalista de nome nacional; Octavio Sarmento, tenente-coronel comandante interino em
1920, fundador e membro da Academia Amazonense de Letras; Álvaro Botelho Maia que,
ao regressar a Manaus, graduado em Direito, exerceu a função de Juiz Auditor de
Guerra, com o posto de capitão, e cuja biografia dispensa maiores
comentários; Djalma Batista, intelectual
de nomeada, serviu
temporariamente no posto de capitão médico da Policia Militar, quando do comando
do coronel Gentil João Barbato (1941-45); Gonzaga Tavares Pinheiro, aposentado
coronel, que em 1932, ainda capitão, era prefeito nomeado de Itacoatiara, onde protagonizou a célebre disputa contra as forças rebeldes
vindas de Óbidos (PA), pugna conhecida
nos compêndios regionais como "Batalha Naval de Itacoatiara"; Djalma Vieira Passos, oficial
superior da PMAM, igualmente intelectual de recursos, com várias publicações editadas e comprovado efetivo desempenho
seja na Assembleia Legislativa do Estado seja na Câmara Baixa do país.
Assumo a Poltrona 24 rememorando a escola
inspiradora de meu hábito pelos livros - o Seminário São José de Manaus, orientado pelos padres diocesanos, enquanto lá estudei.
Homenageio a este estabelecimento, recordando dois de seus Reitores: ao Padre Jorge de Andrade Normando,
de tradicional família amazonense, que vive atualmente em Belém do Pará, servindo a comunidade, como auxiliar da paróquia de Santo
Antonio de Lisboa. É-me igualmente
justo recordar ao padre
Antonio Juarez de Moura Maia, na condição de ecônomo por longos anos, a quem devo inúmeras provas de
amizade, capazes de me conduzir pelas sendas da cidadania e da dignidade.
Reverencio a este aqui e agora, na pessoa de seu representante, o tenente-coronel
Raimundo Pereira da Encarnação, por esta oração. A propósito, padre Juarez Maia
acaba de ser agraciado com o título de Cidadão Honorário de Porto Alegre,
cidade onde reside e exerce seu múnus sacerdotal.
Quero assumir neste instante solene um compromisso para
com a Casa de Ensino mais antiga do Estado, o Seminário São José. À proximidade
de seu sesquicentenário, porquanto fundado pelo bispo do Pará - Dom José Afonso
de Moraes Torres, em 18 de maio de 1848. Neste estabelecimento, entre 1956 e
1965, tive o ensejo de caminhar pelas letras e pelos clássicos nacionais, igualmente pelo verbo do autor de Aparição do Clown, padre Luiz Ruas, poeta laureado que,
vitimado por acidente vascular cerebral, se conforta com as orações de seus ex-discípulos e fieis
paroquianos, como agora em que aproveito para rogar ao Altíssimo
por sua recuperação.
Escrever a História do Seminário São José constitui-se,
pois, um compromisso sagrado que
estabeleço com a arquidiocese de Manaus, no instante em que assumo a Poltrona
24, ontem ocupada por Dom João de Souza Lima, a quem solicito o devido entusiasmo para meu melhor desempenho. Que Deus,
igualmente, me ilumine!
APELO
Suplico aos presentes para
que não se assustem com o estado das instalações, nem imaginem
descaso para com a edificação, pois, conheço a dedicação do Senhor Presidente
e do Secretário-Geral, Dr. Gera1do dos Anjos, na busca incessante por uma solução
para o problema. Apelo, enfim, às autoridades: concedam uma, mais uma ajuda a este Instituto. Para que sirva assim de atração aos jovens estudantes da cidade de Manaus, cuja presença efetiva
possibilite a renovação de seus quadros.
AGRADECIMENTOS
Enfim, senhores acadêmicos, meu sincero agradecimento
pela acolhida singela a este garimpeiro dos arquivos regionais,
que opera com a sofreguidão de
quem parece ter partido com atraso.
Sou grato particularmente
ao autor
de Gazeta do Purus que, ao relatar a fundação e o fausto da “Princesinha do
Iaco”, me ensinou a admirá-la
e me fez aprofundar nos encantos acreanos.
Ao Dr. Antonio Loureiro,
a minha continência regulamentar.
Na pessoa do comandante-geral
– sou reconhecido à Polícia Militar do Amazonas, fonte de inspiração e tema de
meus relatos, cuja saga, cuja história
prometo divulgar. Este será meu propósito na Casa de Bernardo Ramos. Que todos
saibam que, onde se encontrar um
policial militar, no ponto mais isolado do território
amazonense, ali certamente se escreve um conto de heroísmo e abnegação.
O derradeiro agradecimento (pela ordem de nobreza) vai para o peruano de Caballococha - Manuel Mendonça Malafaya, fundador da dinastia proletário dos Mendonça. Vindo de Iquitos para Manaus, sabe Deus como!, acreditando topar com o Eldorado, serviu por décadas na
firma J. G. Araújo & Cia.
Ltda. Apenas alfabetizado, confiou-me que a educação sempre foi
o caminho altaneiro para o sucesso. Em razão dessa premissa,
obrigou-me a estudar com afinco, prometendo por prêmio a vitória como a que
acabo de alcançar. A ele dedico com ardor filial esta noite.
Repito como ocorria, ao final de cada discurso no Seminário São José:
Deo gratias (graças a Deus)!
Manaus, 4 de novembro de 1994.
Roberto Mendonça
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