Robério Braga, no IGHA, em 2002 |
O INSTITUTO HISTÓRICO
1917 – 1978
Robério Braga
Os
caminhos de uma entidade cultural são os próprios passos de seus dirigentes no
decurso de sua existência e podem amplamente refletir o vigor da vida literária
da cidade, e a imensidão de conhecimentos dos seus vultos mais significativos.
Assim, a vida do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), desde
1917, até os nossos dias, tem sido para a cidade de Manaus, sua elite cultural,
seu povo, seus estudiosos e pesquisadores, um símbolo e uma honra.
Fundado
em 25 de março de 1917, na Sala de Sessões da Câmara Municipal de Manaus, sob o
comandamento de Bernardo Ramos, Agnelo Bittencourt e Vivaldo Lima, o IGHA chega
aos nossos dias desfalcados de suas grandes figuras, sentindo profundamente a
nova fase e forma de vida da sociedade amazonense.
Criado
para divulgar a história e a geografia do Estado, da Amazônia e do Brasil,
conservar a notícia histórica sempre viva na comunidade, o Instituto tem
servido para sustentáculo da própria vida cultural de Manaus, esculpindo novos
mestres e pesquisadores, apoiando tantos outros e procurando ser útil em todos
os momentos de sua vida. O Instituto pelos seus dirigentes e membros no decurso
de todos estes anos tem contribuído para as letras, ciência e história do Estado
e da Pátria, missão que estava determinada no primeiro Estatuto, e na própria filosofia
de sua criação.
Carregado
de saudade como poucas organizações culturais no Estado, porque sempre ativo, o
Instituto chega a esta nova data sentindo a falta de suas mais lutadoras
personalidades, de seus maiores idealistas, apontados e vivenciados em todas as
fases da vida da “Casa de Bernardo Ramos”. Não faremos desta crônica histórica
uma página unicamente de saudade, mas diremos a falta que nos fazem, a nós
dirigentes do Instituto de hoje o vigor físico e mental de muitos de nossos
membros, senão de todos.
Dos
fundadores perdemos o último, que foi Agnelo, o grande mestre da Geografia, o
biógrafo perfeito, o pesquisador por excelência; dos presidentes vários já se foram
desde Bernardo Ramos, símbolo maior da pesquisa científica em nosso Estado, até
o benemérito Rodolfo Valle, partido depois que se foram Jobim, André Araújo,
João Corrêa, Antônio Bittencourt, que dedicaram suas lideranças na comunidade
sempre voltadas para a vida do Instituto.
É
assim que vivemos a data presente. O dia 25 de março de 1978 está envolto em
saudade, profunda tristeza, as faltas sentidas para uma dinamização atual do
Instituto, porque as forças contemporâneas estão enfraquecendo com a sociedade,
vislumbrando rumos que fogem ao deleite cultural, à pesquisa apurada, à
dedicação diária ao Instituto, vividas por todos os que já partiram para a
terra da beleza e do fulgor dos espíritos iluminados. Tudo isto porque o mundo
está correndo demais, porque estamos sendo levados por ele para rumos que não
dependem unicamente do nosso comando, que fogem até às nossas aspirações mais
marcantes. Corre o mundo, correm os tempos, mudamos nós por imposição da
necessidade de sobrevivência material e o Instituto cede lugar a estas
aspirações novas que não casam com as suas verdades tradicionais, com a sua
história, com a sua filosofia.
*
Mas,
uma verdadeira chama de amor, um instinto de valorização do passado ainda
prende alguns idealistas àquela Casa, fazendo deles soldados de todas as lutas
e honras, impondo a eles prontidão a qualquer momento, porque ali está um
exército cada vez mais combalido pelos anos, pelos dissabores da vida, pelo
descaso a que se tem relegado o Instituto, pela falta de condição de uma melhor
atuação na comunidade, graças ao poderio econômico-financeiro que nos tem faltado.
O exército que não está salvando o eterno, porque o Instituto Geográfico e
Histórico do Amazonas é eterno, mas que está querendo ampliar as suas fronteiras,
abrir as suas portas, receber os mais novos, dar a conhecer os seus arquivos,
os artistas de seus membros, ter vida, porque viver é mais importante que
existir, está sendo reduzido a cada ano, mas a bandeira estará hasteada e há de
ter um novo cristão, um novo historiador, um grupo mais jovem que a faça
permanecer de pé, sem quedar um só instante, para que não se manche a honra e a
glória de tantos homens de valor do
nosso passado aos quais, sempre que nos lembramos, damos glórias e muitas
glórias.
Mas,
por onde (...) os membros do Instituto, os seus 40 poltronados, os seus
correspondentes, contribuintes, beneméritos, parecem ter fugido de suas
fileiras, parecem estar escondidos em seus afazeres diários, na busca do lazer
por algumas horas para sustentação do equilíbrio emocional tão necessário na
vida moderna. A estes alertamos para a importância de ser e existir do
Instituto, seus valores e sua eternidade. Despertem para o que se passa hoje
com o Instituto. Procurem os seus salões e sintam como nós, a saudade que será
a de sempre, para com os antepassados daquela Casa. Consigam sentir também que
o seu calor humano atual tem enfraquecido, faltando-nos esforços de outros companheiros
para a perfeita existência do Instituto.
Assim
fazemos pública a hora atual do Instituto, em nosso entender, aflitiva para
todos que amam aquela Instituição, que aprenderam a frequentá-la, pesquisar e
sentir o cheiro de saudade e saber que é desprendido de suas paredes, numa
vibração sem limites.
*
O
Instituto está nos seus 61 anos e deverá chegar a novas marcas no tempo,
vivendo momentos mais animadores porque este é um alerta para todos que se
dedicaram àquela Casa, que acreditam na filosofia da Instituição, que deram seu
trabalho, inteligência e horas de vida em favor da entidade; alerta, para que
voltem aos seus salões, iluminem suas reuniões, abrilhantem suas solenidades,
velem pela sua integridade, oferecendo as suas presenças dominicais, fazendo um
estudo da vida e da importância do Sodalício na comunidade.
O
alerta é uma clarinada vinda das alturas em que repousam os grandes
construtores daquela obra, os que dedicaram também suor e trabalho diário em
prol da efetivação do Instituto, sua valorização na sociedade, fazendo-o
conhecido em todo o País e no estrangeiro, tornando-o sede dos maiores debates
científicos sobre a nossa história e tradições, mas sempre unidos em favor do desenvolvimento
e do bem da Instituição.
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