Exercia a presidência interina do IGHA (Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas), em 2001, quando compareci ao III Colóquio dos Institutos Históricos do Brasil, sob a convocação do Instituto matriz, do Rio de Janeiro.
Detalhe do painel existente no Auditório do IHGBrasileiro |
Elaborei e li um discurso na abertura dos trabalhos, que tiveram a duração de três dias, em outubro daquele ano.
Este discurso vai aqui reproduzido em duas postagens.
Senhoras
e Senhores
Participante
deste III Encontro, em prol da cultura nacional, deveras fortalecedor, o
Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA) deseja, antes de qualquer
manifestação, agradecer o afável convite do Instituto primaz do Brasil para
estar aqui, abrindo esta semana de debates. A nossa expectativa sincera é pela
aprovação de medidas e de propostas que, mais e mais, ajudem no crescimento do
saber brasileiro, especialmente quanto ao imprescindível conhecimento de seu
passado. Assim, na condição de intérprete do pensamento do Instituto amazonense,
espero, atendendo à orientação da Comissão Organizadora, presidida por Vitorino
Coutinho Chermont de Miranda, contribuir com alguma ideia distinta.
Como
sempre, para ilustrar uma conjuntura quase nacional de nossos Institutos, vou
reproduzir uma breve história.
A
criação do IGHA, em 25 de março de 1917, aconteceu durante o período áureo da
borracha (1890-1920), portanto, próximo do início de sua derrocada. Antecedeu
em meses a instalação da Academia Amazonense de Letras (1º.01.1918), e um pouco
depois da fundação da Universidade Livre de Manaus (1909). De pronto, o IGHA
conquistou, por doação governamental assinada pelo governador Pedro de
Alcântara Bacellar (1917-21), sua sede própria. Trata-se de um casarão
assobradado, construído no Centro Histórico, que hoje, depois de reiterados
consertos, presta-se condignamente à destinação do Instituto.
É
notória a afirmativa de que a produção da borracha, na Amazônia, nos primórdios
do século passado, exerceu forte influência nos índices de progresso de Manaus.
Com o definhamento da vida econômica, todavia, os mais afortunados manauenses,
onde se incluía o melhor de sua intelectualidade, acorreram para outros centros
maiores. Desembarcou um grande contingente na cidade do Rio de Janeiro, em
busca de novos aprazimentos intelectuais e sociais. A capital baré que
permaneceu firmada à margem esquerda do rio Negro, e que houvera copiado os
mais refinados costumes europeus, ou importado como ícone do “esplendor da
borracha” o Teatro Amazonas, por pouco não reverte à condição de “porto de
lenha”, ou seja, uma das tantas esquecidas localidades ao longo dos rios
amazônicos onde os barcos a vapor atracavam apenas para ser abastecido de
lenha, a fim de mover suas caldeiras.
Apesar
de todos este desconcerto, o IGHA permaneceu cumprindo sua principal atribuição:
de guarda zeloso, ainda que bastante taciturno, dos manuscritos e outras peças
da memória provincial, formada por documentos pessoais e por outros exemplares
da vida intelectual da Terra de Ajuricaba.
Logo
em seus primórdios, em nível estadual, o Instituto foi considerado de “utilidade
pública”, consoante a Lei nº 897, de 24 de agosto de 1917. Somente quase sete
décadas depois, em 22 de outubro de 1973, pela Lei nº 1071, foi consubstanciado
o reconhecimento municipal. Tais dispositivos, que julgo terem servido, em
algum tempo, apenas para a dispensa de impostos governamentais, já se esfumaram
no emaranhado da legislação pátria.
Ainda em nossos dias, os encargos tributários afligem a Instituição,
pois, qualquer serviço, dependendo da quantia contratada, exige pagamento do
ISS (municipal) e do IR (federal). Não possui o IGHA qualquer outra legislação
beneficiária, capaz de auxiliar por exemplo, na obtenção de recursos seja do
governo, seja de particulares. Consequentemente, o resultado é conhecido:
diante da premência de necessidades básicas, o IGHA recorre ao poder público.
Falo pelo Amazonas. E, com esta informação, satisfaço a um questionamento
suscitado pela Comissão.
Como
salientei, o IGHA obteve durante a década de 1980, diante da condução firme e
competente na presidência do consócio Roberio dos Santos Pereira Braga, um
vantajoso progresso. Sua sede foi novamente restaurada e adequada aos serviços
que se dispunha a prestar. Para tanto, foi restabelecido o Museu Crisanto Jobim, disposto em duas seções:
uma, composta de peças da etnografia amazônica, que pertencera ao Museu Rondon,
criação e manutenção do próprio homenageado. O acervo deste museu foi doado ao
IGHA pelo interventor federal, capitão Nelson de Mello, na década de 1930.
A
outra seção, bem mais diminuta, expõe objetos e peças de diversas procedências,
entre estas, a mais destacada é decerto a espada do comandante Plácido de
Castro, que rememora a Revolução Acreana (1900-04).
Também
nesta gestão foi organizada sua biblioteca, que tomou o nome do falecido sócio
efetivo Walmiki Ramayana de Paula e Souza de Chevalier. Ramayana de Chevalier – seu nome literário – nascido em Manaus, era
médico formado pela Faculdade de Medicina da Bahia, também coronel da Polícia
Militar do Estado, mas que se notabilizou pelos escritos, pelos debates
jornalísticos, especialmente os mantidos nesta cidade do Rio de Janeiro, onde
viveu por anos e faleceu, mas onde ainda vivem seus filhos e netos.
Esta
biblioteca, há décadas, tem o privilégio de preservar uma coleção de jornais
provinciais, a coleção de João Batista de Faria e Souza, que a compôs desde o
primeiro jornal a circular no Amazonas, o Cinco
de Setembro, que acaba de completar seu sesquicentenário. E mais,
acondiciona manuscritos, livros raros, e busca ampliar a coleção denominada – Amazoniana –, destinada a compilar os
principais escritos sobre a região.
Com
o encerramento da gestão do presidente Roberio Braga, o IGHA passou por um
estado de letargia. O imóvel da sede, como assinalado, por se tratar de uma
construção centenária, paulatinamente foi se deteriorando. A mudança de
presidentes, mais a sempre sublinhada falta de recursos e o afastamento
costumeiro de sócios, aceleraram a decomposição. Nesta situação, apenas o
governo poderia sanar a questão, mas havia que aguardar, entre outras providências,
a liberação dos recursos. Foi o que
aconteceu.
Após
entendimentos entre a diretoria, então sob a presidência do sócio Arlindo
Augusto dos Santos Porto, além da iniciativa de outros abnegados associados, e
o governo do Estado, na gestão do governador Amazonino Mendes, ocorreu a
reforma almejada e a entrega do prédio.
Enquanto
isto ocorria no IGHA, o IHGBrasileiro promovia o I Colóquio Nacional. E sou
conhecedor de como prosperou este primeiro ciclo de debates, posto que as
reuniões dos Institutos Históricos do Nordeste já alcançaram a terceira edição,
enquanto o Instituto Histórico de Santa Catarina deu partida nas conversas
entre os sulistas.
Enfim,
o edifício do IGHA ficou pronto. Contudo, após o seu recebimento, surgiu outro
empecilho, os reais para a sua montagem interna. Todavia, para gáudio dos
sócios do IGHA, este entrave vem sendo superado, com o retorno à presidência da
Casa, no final do ano passado, do sócio Roberio Braga. Como nosso presidente
também exerce a direção da Secretaria de Cultura do Estado, reconheço e
assinalo que se tornou mais funcional a assinatura de convênios para a
reformulação enunciada. (FIM DA PRIMEIRA PARTE)
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