CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

terça-feira, junho 16, 2015

RIBEIRO JUNIOR (1887-1938)


Capa do livro sobre
Ribeiro Junior, 1997
Personagem relevante da história do Amazonas, no século passado, Alfredo Augusto Ribeiro Junior foi excluído de nosso convívio, há algum tempo. Trata-se de oficial do Exército que, juntamente com outros camaradas, se rebelou contra o governo Rego Monteiro, em 23 de julho de 1924. Vitorioso, assumiu a administração que, embora curta, de cerca de 30 dias, deixou sua marca política na cidade. Tanto que posteriormente Ribeiro Junior representou o Amazonas na Câmara Federal.


Em 1955, o jornalista Arlindo Porto promoveu um movimento para cultuar a gratidão do Amazonas a esse benfeitor. Com sucesso, o nome de Ribeiro Junior batizou a praça organizada atrás do Quartel da Praça da Polícia, hoje Palacete Provincial. (Ali residi no nº 348, Edifício Lilac, ap 03). Neste logradouro foi instalada uma herma com o busto do homenageado, desaparecido com a reforma do prefeito Jorge Teixeira.


No cinquentenário da rebelião, organizou-se uma manifestação nesta praça, em que compareceu a filha de Ribeiro Junior, Yara Ramos Ribeiro, que pronunciou o discurso que abaixo vai reproduzido. Sua publicação ocorreu no diário A Crítica, em julho de 1974.  


CINQUENTENÁRIO DA REVOLUÇÃO DE 1924
Yara Ramos Ribeiro

Bacharel Ribeiro Junior

Não pretendo fazer um relato histórico sobre a REVOLUÇÃO DE 23 DE JULHO DE 1924. Não pretendo, tão pouco, retratar a figura do Militar, do Revolucionário, do Político, do Governador, do Parlamentar, do Homem de Estado, enfim, do Redentor do Amazonas.

Quero, apenas, neste 23 de julho de 1974, pedir ao Povo de Manaus - que, por gratidão, perpetuou a imagem de seu Redentor no bronze - que compareça à Praça Ribeiro Júnior, para saudar o Cinquentenário da Revolução de 1924.

Quero, tão somente, como amazonense que sou, dizer OBRIGADA, MUITO OBRIGADA, MEU PAI. 

Quero relembrar a alegria imensa, o enorme orgulho que experimentei, a 23 de julho de 1955, quando inaugurei a Praça Ribeiro Junior, e pisei o chão da minha terra ali mesmo, junto ao 27 BC de onde saiu meu pai, a 23 de julho de 1924 para devolver ao povo do Amazonas o que lhe fora roubado num governo de tirania.

Ali, onde ecoava ainda o timbre possante de sua voz, na palavra fluente de Hemetério Cabrinha. Ali, ao lado de Filadelfo de Moraes, seu melhor e mais fiel soldado. Ali, junto a Elda Biton e Eunice Serrano, representantes da Mulher Amazonense, que participou ativamente da Revolução de 1924.

Ali, naquele pedaço de terra onda nasci, para perpetuar a figura do Revolucionário, para agradecer, junto ao meu Povo, o que meu pai fez pelo Amazonas. Ali, pera saudar Ribeiro Júnior, como sei que foi e será sempre saudado pelo povo do Amazonas.

Ali, para saudar seus companheiros de luta, comandante Simas – o único que tive a satisfação da conhecer pessoalmente – Azamor, Lemos Cunha, Barata, Dubois e tantos outros que tomaram parte na Revolução de 1924.

Cinquenta anos são passados.  Poucos daqueles que participaram da Revolução, que a assistiram, ainda estão vivos. Mas, em cada amazonense, há de restar a lembrança da palavra de um pai, de um irmão, de um parente, enfim, que o fez conhecer Ribeiro Júnior.

Ribeiro Junior, esse homem, cuja própria vida, tão curta, não passou de um cinquentenário vivido intensamente, marcado pela inteligência, pela disciplina, pela honestidade, pela perseverança, pela força intensa de sua personalidade marcante, que o levou ao mais alto lugar que um homem pode aspirar: o seu lugar na História de sua Pátria.

Do Aspirante que, em Porto Alegre, rapaz ainda, encontrou a companheira de sua vida na gauchinha que só a desposou depois de sua maioridade, por imposições de família; do tenente que chegando a Manaus em março de 1924, a 23 de julho do mesmo ano depõe um Governo de tirania, redimindo um povo sofredor e oprimido; do Governador justiceiro e honesto, que realizou o Tributo da Redenção; do tributo que encantava as plateias com sua voz retumbante, firme e sempre esperançosa; do Oficial que lutou em seu posto, até o fim, mesmo perseguido implacavelmente por seus inimigos políticos; do líder, enfim, que sempre se destacou em qualquer de suas atividades, em todas as fases de sua vida, ficou o homem que se integrou na História do Amazonas, na História de sua Pátria.

O tempo não destrói a história, nem seus ídolos e heróis. Ao contrário, os faz renascer; ressalta-os e transporta-os para os tempos atuais.  Surpreendi-me, em 1955, ao chegar a Manaus para inaugurar a Praça Ribeiro Junior, e deparar com a enorme multidão que aguardava a filha de Ribeiro Junior, no Aeroporto de Ponta Pelada. Guardo, com imenso carinho, recortes de jornais e fotos desse meu Povo todo, dos amigos de meu Pai, saudando sua memória, fazendo-o eterno na gratidão dos Amazonenses.

Assim como nós, seus filhos, faremos eterno através da lembrança sempre presente, de sua imagem exuberante, de sua figura homem íntegro, da sua inteligência, de todos os seus feitos, que se transportam para seus netos e seus bisnetos, na história dos tempos, através de um legado precioso, de uma herança de que tanto nos orgulhamos.

 Em seu livro Razões de Estado, dedicado à minha Mãe, está escrito: "Deste-me os Filhos; aqui tens o Livro. Nossos filhos plantarão as árvores". Frutificamos à sombra da semente plantada, alimentada   por magníficos exemplos, gerando frutos belos e sadios. À sombra dessa frondosa árvore, à sua sombra, à sombra de nossa Mãe.

Hoje, seguindo cada exemplo, ditados aos mais novos todos os ensinamentos, podemos ver, à sombra da árvore com tanto amor plantada, nossa Família, que cresce e perpetua o nome que tanto nos orgulha. Foram 9 filhos, são 17 netos e 23 bisnetos, que ramificam essa enorme árvore, fazendo-a crescer, cada vez mais e sempre.

Um comentário:

  1. Bom dia, Por volta de 1982 , assisti uma apresentação de uma tese de PhD, Sobre a Revolução Tenentista em Manaus, na Faculdade de Contabilidade e Administração, que funcionava na rua Monsenhor Coutinho com Constantino Nery. A professora era do ICHL, não lembro nome. foi excelente, e fascinante a apresentação. lembro que no auditório tinha muitas "feras" do ICHL. . Eu era da UESA União dos Estudantes Secundaristas do Amazonas. co as " lendas " Vicente Filizzola, os que partiram Francisco Savio , Selma e Sandro Basal . Se consegui resgatar esse material por gentileza avise.

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