Coronel Lustosa |
Em 1988, em acelerada redemocratização, correu boatos de que a Polícia Militar faria greve. Seu comandante-geral, coronel Pedro Rodrigues Lustosa, oficial destacado pela firmeza na condução da tropa, mandou reproduzir em Boletim da corporação o Editorial abaixo.
A corporação acaba de enfrentar esse problema. Não sabemos como foi contornado, mas a sociedade deve ter confiado mais naquele comando.
BOATOS DE GREVE POLICIAL MILITAR (*)
Com algumas insistência
vem sendo noticiada na imprensa de que estaria em processo de gestação uma
greve no sistema policial do Amazonas,
ora atingindo praças da Polícia Militar do Estado, insatisfeitas com o último reajustamento salarial, ora policiais civis como protesto contra mudanças
que seriam executadas na Seseg, visando melhor operacionalidade do aparelho
policial. Se o povo brasileiro já não estivesse farto de tantas greves, umas reivindicatórias,
outras meramente políticas, tingindo os mais diversos setores da vida nacional;
até o Poder Judiciário, o noticiário de greve no sistema policial amazonense poderia
francamente ser posto de lado.
Mas o fato de que estaria
em curso uma greve na Polícia Militar
do Estado merece uma apreciação pelo absurdo,
pelo mais alto grau de insubordinação que constituiria um movimento grevista de
policiais militares fardados e armados.
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A Polícia Militar
do Estado é uma corporação de muitas e gloriosas tradições de brio, coragem e honradez.
Alcançou, nos dias atuais, elevado grau de profissionalização em matéria de segurança pública e aparelhamento material. Se em sua história há lances de bravura,
de heroísmo e desprendimento, nunca houve, o fastígio dos dias atuais. Nem em
tempo algum seus integrantes, cumprindo os deveres a qualquer custo, auferiram os vencimentos
e vantagens que hoje desfrutam, pagos rigorosamente em dias. Em várias oportunidades, ao longo
de sua história, a Polícia Militar do Amazonas partilhou das dificuldades do funcionalismo
estadual com vencimentos atrasados, sem que deixasse de cumprir o seu dever,
sem exemplos de rebeldia.
Bandeiras em uso na PMAM |
Não seria agora, quando tem no seu comando um dos mais ilustres oficiais, o coronel
Pedro Lustosa, formado no calor das próprias aspirações da nova
Polícia Militar, que alguns de seus elementos iriam rebelar-se contra o Poder Constituído
do Estado, num triste exemplo de indisciplina
e total desconhecimento do dever que tem
todo policial militar. Uma Corporação armada que rege por regulamentos militares desconhece o intuito da greve, um
recurso eminentemente civil dos trabalhadores assalariados. Os que portam armas para defesa dos cidadãos e da
ordem, das instituições ameaçadas; e que
tem um compromisso de cumprir o dever mesmo
com sacrifício da própria vida, podem chegar às quarteladas, à revolta militar, crimes que estão previstos no Código
Penal Militar. O policial-militar, nos últimos quinze anos, conquistou até foro
especial nos crimes resultantes da missão policial.
Diante da posição destacada
que ocupa a Polícia Militar na segurança pública do Estado, pela noção de dever
e zelo com que vem sendo comandada pelo coronel Pedro Lustosa, podemos tranquilizar
a sociedade amazonense como destituídos de fundamentos os boatos de qualquer manifestação
grevista por parte de nossos policiais-militares. Numa corporação de mais de 5.000
homens é normal que haja algum descontentamento,
até por questões disciplinares, uma vez que o homem é a medida de todas as coisas,
como disse um filósofo grego. Mas não ao ponto de gerar discórdias, desobediências,
omissões no cumprimento do dever policial militar, com a subversão dos princípios
hierárquicos que sustentam a Corporação. Seria o cúmulo do absurdo para a sociedade que paga a remuneração da Polícia Militar
para ter proteção e segurança verificar a corporação de braços cruzados, fugindo
ao seu dever.
(*) Transcrição de Editorial – Seção Opinião – Jornal do Comércio, 8.jan.1988
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