Jornalista para sempre, porém, com mais afinco nos primeiros tempos de Manaus, servindo à empresa Archer Pinto, nos extintos periódicos O Jornal e Diário da Tarde.
JTufic (à esq.) entrevista para O Jornal. Manaus, 1952
O Jornal. Manaus, 8 maio 1956
Então trouxe ao público suas publicações, seus poemas e prosas. Como ocorreu com Fatutação do ócio, lançado sob o "mulateiro", "sede" do Madrugada, e apresentado por seu compadre, o falecido padre L. Ruas.
Competente no que escreve, segue reconhecido pelos parceiros (coluna de Arthur Engracio, foto) e leitores. Ainda em nossos dias.
Passou a direção do CM para outros companheiros, mas seguiu fiel ao espírito livre das madrugadas. Para celebrar os 30 anos da agremiação, Tufic publicou um livro contando as ousadias de alguns jovens e outros nem tanto.
Veio a Manaus para as comemorações do jubileu de ouro do Madrugada (2004). E, na Academia Amazonense de Letras, onde ingressou em 1968, sendo hoje o segundo membro mais antigo, proferiu as palavras que estão aqui reproduzidas. Para melhor aproveitamento da leitura, nada como uisque e gelo no copo.
Por esse 80 e por mais outros, tim-tim, tim-tim, para você, nobre poeta J. Tufic!!!!! Em Manaus, hoje, o Chá do Armando será sorvido em sua homenagem.
Podemos dizer, inicialmente, que o Clube da Madrugada tem sido uma “vítima” de todos os alertas que pregou. Em outras palavras, a cultura de mirante prefere fazer uma tese para o Santo Daime, divulgar a sonoridade de um fato ocorrido em Paris, ou repetir o desabafo da “leseira baré” que se retrata e se confirma na leitura de seu próprio fracasso, a entender, com a mesma dose da emoção com que fora escrita, aquela frase “histórica” do velho mulateiro: “Pois foi. Jovens se reuniram sob a fronde desta árvore; e aconteceu. Quando madrugada, o clube surgiu. Era novembro, 22, 1954. E fez-se.”
36 anos depois, não será a obra de cada um, portanto, que irá servir de parâmetro para uma avaliação do Clube da Madrugada. Nada, aliás, ficou documentado de ringues dialéticos, onde tudo era levado ao banco dos réus. Em nenhum momento de nossa História a atualidade foi vista com tamanho espírito de modernidade. Ao sucatear os valores do passado, o movimento em que logo se transformou não visava, com isso, uma categoria de tempo, mas como esse tempo tinha sido desbaratado sem tomar consciência do espaço que ocupava. Assim, no item Literatura do Manifesto, “o CM inspira-se nos elementos formadores de nosso ambiente” etc. E daí segue. A dedicação exclusiva e o sentimento gregário, aliado à nossa diversidade vocacional, desdobrou-se, todavia, numa busca recíproca de intercâmbio e disciplina. Surge então a Revista Madrugada e surgem os departamentos. É incrível imaginar, deste modo, o público que se formava para assistir a esses debates, dentre os quais a homenagem póstuma (sempre criticada e tumultuada, no bom sentido) aos gênios porventura falecidos: Einstein, por exemplo, mereceu de Afrânio Castro o panegírico intitulado O Universo Físico e Humano de Albert Einstein, título hoje anunciado como de obra inédita do escritor Isaías Golgher, de Minas Gerais.
Por estes fragmentos de memória, custa-nos entender como fomos apressados na elaboração de nosso livro “Clube da Madrugada: 30 Anos!” Sabemos hoje que um livro assim deve ser obra de muitos, tantas são as facetas que brilham no escuro das dificuldades enfrentadas, e dos obstáculos vencidos. Os grandes eventos, como o Festival de Cinema e a Feira de Artes Plásticas da Ponta Negra, entre outros, marcaram, sem dúvida, a predominância de uma dessas atividades e da importância que deram ao movimento, como expressão de vanguarda. Confessamos, porém, que nem mesmo com a ajuda de todos os meios de comunicação e documentação, que então nos faltavam, nos seria possível resumir os estilhaços, as pedras e os diamantes desse abrasante big-bang. O fazer, após o saber das coisas, parecia o bastante para que todos aqueles pioneiros, já esquecidos do caminho de casa, se entregassem ao prazer da convivência intelectual e, juntos, levantassem muros contra a preguiça, o medo, a superficialidade e o senso comum, provincial e viscoso, que em tudo infiltrava e apodrecia! Que motivação podiam ter estes rebentos da solidão equatorial, diante de um mundo vencido pela guerra e completamente insensível diante de um poema ou de uma paisagem?
Simbolicamente apenas, a sede do Clube da Madrugada é no pé daquele "mulateiro" que se ergue na Praça Heliodoro Balbi, em frente ao Quartel da Polícia Militar. A liberdade de reunir, mas sem liberdade de decidir, a menos que sobre coisas de somenos, tem sido um dos segredos de sua longevidade. Assim, o CM pode estar reunido, ao mesmo tempo, em diversos lugares. Isto já aconteceu com muita freqüência. Com o mínimo de três clubistas, ou madrugadenses, como fomos denominados pelo Guimarães Rosa, o Clube está reunido. Um dia, na Lapa (RJ), o Antísthenes Pinto reuniu o Clube da Madrugada para receber o poeta Nauro Machado e o romancista José Louzeiro. Isto, embora sendo uma decisão importante, pode acontecer fora da sede. Lembramos, aqui, um fato histórico: em certo final de noite, no Bar Avenida (onde hoje funciona o Bradesco, na Eduardo Ribeiro), o Clube parecia estar reunido apenas no salão do restaurante, enquanto que no reservado, uma outra reunião do Clube tratava da destituição da Diretoria, cujos membros compunham a mesa do restaurante. Percebendo a conspiração, o presidente do Clube pediu ao proprietário do estabelecimento para cerrar as portas do reservado, que dava para uma outra rua. O resultado foi que todos os “conspiradores” foram obrigados a sair pelo restaurante. E ali, tomando assento à mesa da Diretoria, amanheceram festejando a página de Domingo... (a página de domingo, no O Jornal, da empresa Archer Pinto, era mantida pelo CM e divulgava o trabalho de seus membros).
Quiséramos nós que o Clube da Madrugada, que no fundo é convivência e criatividade pudesse manter-se aberta para os jovens durante certo período de sua existência, quando os jovens que o descobriram na atmosfera que se renova a cada dia, pudessem lembrar que a gente passa, mas o Clube fica. Hoje, felizmente, ele volta a receber esses jovens que precisam conhecer a sua história. Mas torna-se difícil conta-la para eles, agora que o cenário é bem outro, e as palavras, também.
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